quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Feliz Natal

Oi!

que as boas energias do natal encham seus dias de alegria, hoje e sempre.

Que seu natal seja cheio de alegria e ternura, muitos presentes e união entre família e amigos.

Boas festas, e desde já, feliz ano novo!

Jeferson


segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

# 136

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num susto, assim, sem pensar e sem pesar, lá se encontra outra vez o rapaz, frente a um desafio novo e difícil, e por conta disso, instigante, do jeito que gosta.

não sabe o que fazer, pensar e nem que direção tomar.
e a mania de enxergar cedilhas em todos os "Cês" do mundo persiste, nesse olhar além-mundo que só ele e sua alma compreendem, que enxerga otimismo nas coisas mais tristes, e vive diversas vidas no tempo de um instante.

e esses instantes de vida são os melhores, mesmo que vividos apenas em sua imaginação de gente que gosta de viver as intensidades.

# 135

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em cima da mesa do moço, uma garrafa de água amarela, meia barra de chocolates e umas moedas espalhadas.
seu desajeitar de vida é refletido ali, numa mistura absurda de elementos, dos quais não consegue desvendar as razões de estarem ali, ocupando um mesmo lugar.
tudo o que sabe é que ele mesmo é uma bagunça pra si mesmo, que nunca sabe como ajeitar direitinho.
por vezes até consegue colocar alguma ordem ali, mas sua vida é uma coisa tão corrida e incomum, que vira e mexe tá tudo de cabeça pra baixo de novo.

domingo, 7 de dezembro de 2008

# 134

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ser gente é das coisas mais difíceis.
justamente porque a gente tem que lidar com as outras gentes que existem mundo afora, e isso é muito complicado, porque toda gente é uma caixa de surpresas.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

# 133

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e nos últimos dias eu tenho tido aquela ansiedade de quem não consegue saber exatamente o que lhe aflige.
e sou exatamente o mestre de não saber nomear as coisas, e de confundir tudo, num verdadeiro liquidificador de emoções e sentimentos que vem e vai e remexe meu mundo, deixando tudo assim, misturado, sem nome.

e não sei se tou conseguindo me fazer entender, pra mim, até aqui no escrito tá saindo tudo assim, desconexo.
daí ela pergunta: "mas o que é que é certinho e definido nessa vida menino?"
e eu não sei responder. simplesmente não sei. e até mesmo o não saber é uma forma indefinida de responder aquilo que não se tem resposta. é mais uma das tais misturas.

oxe. que loucura.
depois tento ser mais certinho. ou não.

:)

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

# 132

::  das arrumações


quando se tem um furacão constante dentro da cabeça fica difícil de organizar as idéias pra passa-las por escrito.
e eis me aqui, tentando dar um jeito de escrever de forma ordenada esse tanto de vento que sopra aqui dentro.

num sossego que só eu conheço, fico ouvindo Belle and Sebastian e cantando baixinho enquanto tento arrumar um jeito de fugir da preguiça de me organizar.
é... me organizar não é fácil, bagunça que sou. é papel pra todo canto, roupa por passar e poeira pra espanar. uma bagunça só, que embora eu me encontre em meio a ela, passa a me incomodar de um jeito que não tem mais como escapar.

e ao mesmo tempo me dá um sentimento de desolação de pensar que as coisas não serão as mesmas depois da arrumação, mas tudo limpo é bonito. e é do que vou me orgulhar depois.

e bagunça é um trem assim: se vc não dá um jeito nela, ela só cresce. é.. porque todo dia tem roupa pra lavar, e consequentemente pra passar. todo dia tem coisa nova no quarto, nem que seja aquela notinha fiscal da araújo onde comprei o desodorante novo, que acabo por não jogar fora.

mas pelo jeito, pra eu cumprir essa meta de arrumação vou ter que fazer por etapas.
porque furacão não passa de uma hora pra outra. é devagar, soprando tudo aos poucos.

# 131

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então, um belo dia resolvi que iria ficar mais sério, e numa dessas inventei um monte de planos pra atingir esse objetivo.

resolvi que voltarei a escrever com mais frequência e mais sobre mim diretamente aqui, porque é uma forma de descarrego, além de poder ter ajuda nessa minha mania de me lembrar o que estava fazendo nesse mesmo dia do ano passado, quase todos os dias.

e é mesmo, escrever tira um monte de coisas da cabeça que acabam por me deixar um tanto agitado, e me deixa mais elétrico tb.

o blog continuará com meus enxertos de textos non sense, ou que só têm sentido pra mim, mas também vai ficar um cadin mais pessoal.

e nesses dias me encontro especialmente inspirado, porque quando sangue literalmente novo aparece na nossa vida, a gente ganha novo fôlego e inspiração. taí a citação. :)

continuando na saga da tentativa de centralização e seriedade, cismei porque cismei que ia ler toda a obra de Clarice Lispector, que era pra me sentir mais, e assim estou fazendo, e ando mesmo um tanto mais sensível, acho que até demais.

e isso é meio perigoso pra quem já gosta de dramas... heheh

e no fim das contas, acho que essa coisa não vai dar certo mesmo, e acho que até que é bom, que eu gosto da minha eletricidade, acho que isso tudo é só uma crise que logo passa.

por fim, tenho colocado meus filmes em dia, e acho que "logo estará tudo no seu lugar".

bom, agora as minhas ululâncias serão mais minhas.

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

# 130

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e não tem o que explicar.
aliás, explicar serve pra quê?! as explicações não têm, e nunca tiveram, verdadeira utilidade.
elas servem apenas pra mascarar a vontade que as gentes têm de tentar saber tudo do mundo.

mas então, não tem o que explicar, justificar..
principalmente quando se trata desses trens de sentimento.
ô gente. como que faz pra saber se esse jeito que o coração tá batendo agora significa paixão, ou não, se paixão era do jeito que ele bateu a 2 dias atrás.. é.. quando tem 2 batidas mais espaçadas é paixão, ou seriam quando bate 5 vezes mais rápido, duas devagar e volta a bater rápido?
pois é! não dá pra saber!

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

#129

:: do mergulho imaginário e das palavras que me ferem


é frustrante poder ver o mar só da janela.
ainda mais pra mim, que tanto gosto daquela imensidão azul.
mas é assim: a vida corre, o trabalho pede. e não dá tempo, tempo!, esse vilão atual dos meus dias, por conta dele não consegui molhar os pés dessa vez.

mas da janela do ônibus, que ia em direção àquela cidade do interior, eu sentia o vento forte misturado com o cheiro do mar bater no meu rosto.
e fiz questão de deixar a janela bem aberta, as duas, pra poder tentar, pelo menos na minha mente, ter uma sensação de mergulho, mesmo que imaginária, só naquele cheiro que eu não sei descrever...

não me satisfez por completo, mas foi bom ainda assim.
e naquela hora, quando o ônibus saía do litoral, ou pelo menos quando não dava pra enxergar o mar, eu voltava à leitura de Clarice Lispector, e isso talvez me influenciou pra ter aquelas sensações, e ainda a escrever isso aqui.

ela me atiça, ela me fere.
me faz ter inveja, e até doer por não ter nascido em sua época, não tê-la conhecido.
não sei.. talvez seja melhor assim.
talvez não saísse são depois de uma tarde de conversa com Clarice, talvez ela nem quisesse me receber.. mas acho que ela viraria minha cabeça de tal modo que eu saíria louco de lá.

e esse post tomou mais ou menos forma de querido diário, mas só porque cá estou numa pousada, insone, perturbado, e com palavras saltando pelos poros.

boa noite.

domingo, 19 de outubro de 2008

# 128

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dessa terra estrangeira não conheço lhufas.
não sei onde estão os tetos, os chãos, as louças, os garfos... perdido. completamente sem rumo.
e não é ruim o que passo agora.
tirando a saudade daquele conforto que encontro em meus amigos da terra natal, o que passo agora não é de todo mal.
apenas é um confronto com quem mais me assusta.. um cara a cara obrigatório com o Sr. Comigo Mesmo.
sim, porque naquelas paredes brancas de ontem, naquele quarto de hotel, noutra coisa não poderia pensar senão em meus caminhos, meus medos, minhas loucuras, minhas paixões, enfim.. era um momento em que não cabia pegar o telefone e ligar pros meus amigos e me distrair.. os inturbanos são caros.
outra escolha não tive então.. só me encontrar comigo mesmo e discutir isso tudo.
em minha cabeceira, Clarice ria do desespero mudo que eu apresentava, talvez até mesmo inspirado nela.
enfim, os momentos de encontros comigo mesmo ainda não terminaram.

terça-feira, 9 de setembro de 2008

# 127

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e não tem como segurar.
quando vem a vontade, a coisa descamba.
sim, porque já era pouca, tinha vindo e ido, a agora vem de novo.
acionada com uma simples presença antiga, que nem tem mais as formas de quando existia de fato, mas que ainda desperta a vontade.

e tá aqui. doendo até.

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

# 126

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e sorrateiro ele começa a bisbilhotar pelo buraco que encontra naquele muro escuro.
e o mais curioso, é que não sabe nada sobre aquele lugar, nunca ali estivera, só passava pela rua e quis enxergar de mais perto.
e assim são as coisas.
lá de longe soam belas e perfeitas, até que a curiosidade e a vontade tão comuns aos homens as tornam comuns e ordinárias, passando a ter perceptíveis defeitos, que lá de longe não se via.
e no tempo que só havia beleza todos queriam estar mais perto.
mas depois da maculação daquilo que era longe, depois da hora em que vira perto, o encanto desaparece.
e passa a ser mais um.

aquilo por detrás do muro, maravilhará o menino nesse instante, e também nos outros enquanto ele apenas observar pelo buraco na parece cinza.
quando a sua curiosidade de gente o fizer saltar o concreto pra enxergar de perto o que lá há, o encanto se desfará e o menino procurará outro objeto pra despertar seu desejo de falta de distância.


quinta-feira, 7 de agosto de 2008

# 125

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não existem relógios,
nem formas realmente eficazes de contar o tempo.
as gentes convencionam suas medidas,
pra tentar contar tudo, cada coisa que existe
quase que num jeito ensandecido de controlar o mundo
mas são contagens tolas, há coisas incontroláveis.
por mais que se contem o tempo, não tem como saber o exato tamanho da saudade.
essa eu tenho medido com as horas. sempre as horas.

(começo de conversa de msn)

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

# 124

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e não é que a tal da chuva resolveu que ia matar a saudade dos solos da cidade (e dos meus sapatos, claro)?
num começo de tarde desses, quaisquer, de repente o céu se fecha como um livro cansativo e pesado, e sem nem pedir licença ou esperar o horário de almoço terminar, derrama aquela chuva gelada em cima do moço que andava sério, ou pelo menos parecer assim, com pasta e barba por fazer na rua.

quando deu por si, seus cabelos já se molhavam e os ombros lhe pesavam. não se lembrava direito de seu último dia de chuva, talvez estivesse começando a aprender a esquecer aqueles empecilhos da vida, mas ainda assim não gostou de sentir a água molhando suas meias.

choveu pouco, talvez por somente uns 10 minutos, mas o suficiente pra fazer daquele céu antes azulado, dum cinza escuro que dava medo, precisando até acender a luz daquela sala de trabalho.

e depois da trégua da hora de ir embora, o moço, no auge da insônia, se depara com a chuva de madrugada, guiando suas palavras com o barulho dos pingos batendo no vidro da janela à suas costas.

terça-feira, 29 de julho de 2008

# 123

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e as coisas que são boas só por si mesmas sempre são complicadas... ou distantes.
ficam em lugares demorados pra se chegar, e que as vidas corridas das grandes cidades não deixam muito tempo sobrando.

e ainda assim, num pequeno espaço de tempo, em que a gente se dá por livre das ocupações do mundo, a gente passa por pequenas felicidades em lugares inesperados.

e assim como se fosse o dono da ampulheta dos dias, a gente tenta conter toda aquela areia em potes de vidro, mesmo sabendo que não tem nenhum capaz de cabê-la. mas a tentativa de fazer parar o tempo, ou pelo menos, que ele se prolongue é inevitável, apesar de saber que nada tem esse poder.

no fim, os dias passam, e tudo é bom. os barulhos e silêncios.
quase que uma forma de recordar que ainda tem como respirar/suspirar nesse mundo, coisa que havia ficado pra trás, e nem se sabe onde, enterrada em algum lugar antigo, ou depositada na copa de uma árvore.

a distância é implacável.
restam as pequenas felicidades distantes, como quase uma forma de saber-se vivo outra vez.
quase que num lampejo de esperança de tempos melhores.
só se sabe que as coisas boas estão agora distantes, mas é grato por tê-las lhe acontecido.

segunda-feira, 14 de julho de 2008

# 122

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e chegando cedo nessa cidade bonita, onde o mar se mostra grande demais, e o sol atinge um calor forte que nem protetor solar resiste, foi logo pensando em mergulhar.
tomou o onibus 136 e foi direto pra casadeseus amigos que lhe acolhem sempre em seus momentos de fuga.
chegando naquela casa do botafogo, pensou em ir pro mar, mas a viagem lhe cansara tanto, que, sem perceber, estava logo cochilando.. o mar ficaria pra mais tarde.

e se iniciavam as ferias.

quarta-feira, 2 de julho de 2008

# 120

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comendo biscoitos de polvilho e tomando chá de hortelã, e já era mais de meia noite e quinze.

num sem medo repentino, ele toma as rédeas daquele momento e se volta pra trás outra vez naqueles dias, e suspira fundo ao perceber que o seu tocador de músicas do computador começou aquela que ele evita às vezes.

e dessa vez a ouve por inteiro, se deixando levar pela memória que é bastante boa pra esse tipo de lembrança, e de volta vem até os cheiros do momento antigo.

e ainda pára praquele questionamento recorrente: será que ainda pensam em mim?

e toma folhas de papel e escreve aquelas cartas que não serão publicadas, tampouco entregues, e as deixa na caixa junto às outras.

e lá se vai mais uma carta pra caixa dos amores antigos, que recebe todos os meses pelo menos uma dessas cartas...

e mordisca outro biscoito, e coloca mais água pra ferver.

terça-feira, 17 de junho de 2008

# 119

"... Ulisses devorador de milkshake ..."


[...]

...e naquele barco, à procura de seu tesouro o marinheiro seguia sem pensar em mais nada, afastando inconscientemente as lembranças de um dia que passou, de uma vida deixada em stand by a partir do momento em que entrou naquele barco.

Pobre e distraído navegador. Busca o ouro, sem saber que o que tem de mais precioso ficou em terra firme. É sonhador, vive em um mundo só seu onde ouviu que pelas redondezas um homem conseguiu forjar asas com cera e voou em direção ao sol. O que não tomou conhecimento foi do fim do Ícaro voador, abatido pelo calor de seu sonho.

E lá vai o navio, nele um navegador com corpo de homem e sonhos de criança na cabeça. Na mão um milkshake de nutella. Se parasse para olhar pra trás veria Penélope distraída [forçosamente] à procura de linha e agulha. Começaria então a tecer a manta de seu Ulisses.

[...]

O título é de "Eletricidade" da Fernanda Porto... porque de sonhador todo mundo tem um pouco.

quarta-feira, 4 de junho de 2008

# !!8

:: "O acaso tem suas mágicas, a necessidade não"


¿ (...) será que um acontecimento não se torna mais importante e carregado de significados quando depende de um número maior de circunstancias fortuitas?
Só o acaso pode ser interpretado como uma mensagem. Aquilo que acontece por necessidade, aquilo que é esperado e que se repete todos os dias, não é senão uma coisa muda. Somente o acaso tem voz. Tentamos interpretar o acaso como as ciganas lêem no fundo de uma xícara o desenho deixado pela borra de café.¿


A insustentável leveza do ser - Milan Kundera

quarta-feira, 28 de maio de 2008

# 117

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e lá atrás, antes de se tornar amarga em razão das asperezas que a vida lhe trouxe, ela gostava de sentar-se à beira da calçada pra procurar as pedras brilhantes no meio dos paralelepípedos da rua.

achava poucas, é verdade, mas as colhia e colocava naquele pote grande de maionese que uma vez ganhara da mãe, com um laço e a pintura de um coração em seu vidro. dizia que um dia encheria até a metade o pote com as minúsculas pedrinhas, e então colocaria água de nascente e um peixe dourado, que chamaria-se Jasmim.

e assim seus dias seguiam-se, a menina na calçada e a procura das pedrinhas que eram difíceis de encontrar. mal chegara aos 3 dedos do pote quando começaram as chuvas.

e nessa época, não era bom que as crianças brincassem na rua, nem nos estios, calçadas de galochas. e nesse ponto, sua mãe, embora ausente na maior parte da vida, era rigosa. não podia sair.

ao fim das chuvas, o progresso se mostrara.

não havia mais paralelepípedos. a rua agora era de asfalto. liso, seco e cinza. não havia cor, e nem sinais de pedrinhas brilhantes, porque essas se escondiam nos vãos dos paralelépidos.

assim, o fim das chuvas foi também o fim da caçada, e a menina não mais se sentou na calçada da rua, e nem mais teve seu peixe Jasmim.

a chuva não lavou só a simplicidade daquele lugar, deixando o caminho limpo pro progresso cinza.
a chuva lavou também os sonhos da menina.


segunda-feira, 26 de maio de 2008

# 116

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shhhh... sussurrou a moça de verde, pedindo um silêncio de um instante.
o instante era dela, naqueles dias de tentar se preservar.
do quê, ela ainda não sabia. e talvez nem quisesse saber. só se sentia parte demais do mundo, e não era tempo disso.
soltou o dedo do lábio nu, sem batom, que ainda estava ali estacionado como que marcando o tempo de não ter palavra, e de olhos fechados, ergueu a cabeça de leve, mas tão de leve, que quase não se notaria, se houvesse alguém ali, e a respiração se fez forte.

ela pensou em soltar as raízes, e deu um salto rápido e baixo, como se fosse só pra mostrar que não tinha ligação qualquer com o chão.

e de olhos fechados, e ainda em silêncio, sentiu-se sua, e tão somente sua.
e mesmo que houvesse alguém, não a teria. só pousaria do lado, e a acompanharia sendo alguém, não parte dela. conseguiu se completar.

e assim, no instante de um vôo silencioso, formado de um salto de olhos fechados, ela não era mais de ninguém, nem do mundo. era só dela. só dela.

sábado, 24 de maio de 2008

# 115

::  pequenas solidões cotidianas.


e lá se ia mais um dia.
o moço acorda, abre o olho, e procura pelos óculos.
não se lembra bem onde os deixou. estava bêbado quando foi dormir.
talvez pra fugir de si mesmo, ou das vozes que não se calavam em sua cabeça, tomou por companhia um copo de vodka e as paredes brancas.
nada na tv o atraía, e não queria raciocinar demais com seus dvds, quase todos tristes, então contentou-se em encarar a parede cor de pérola e o copo de vodka, que encheu-se repetidamente aquela noite toda.
não se lembrava a hora em que dormiu.e nem se sentia melhor. a noite havia sido dolorosa, sua própria companhia era sua maior dor.
e quando bêbada, era ainda mais feroz, o confrontando com aquelas verdades sinceras e tristes, que não queria ter conhecimento.
a amnésia alcóolica não funcionou dessa vez. lembrava-se de tudo, infelizmente.
com os óculos finalmente encontrados, levanta-se, procura os chinelos azuis, e a cabeça dói.
dá bom dia pras flores da janela. e encara a casa vazia.
faz tempo que não tem companhia ali. e mesmo com flores, peixes e ar, se sente só.
aliás, se sente só quase o tempo todo, mesmo quando envolto dos amigos.
porque a solidão tem várias formas, e vários sentidos.
se sente só, abandonado por si mesmo.
e vive às voltas com as pequenas solidões cotidianas.

segunda-feira, 12 de maio de 2008

# 114

:: do calor nas mãos com o friozinho do outono


e de um dia pro outro fez-se o frio.
depois e uma tarde em que foi preciso afrouxar e dobrar as mangas da camisa social azul clara, o moço precisou, conforme a noite ia nascendo e trazendo um sopro mais frio que dos últimos dias, tornar a estendê-las e abotoar até, pra ver se continha o frio que começava a bater.

finalmente o outono mostrava sua cara, ainda não trazendo muitas quedas de folhas - o que é um espetáculo de poesia natural - mas já abraçando a cidade com aquele frio de dormir de edredon.

o moço até que gostava desse tempo frio - desde que sem chuva - mas não achava muito confortável a sensação de suas mãos congeladas e nem de seus pés com frio. nesse caso preferia o tempo quente. ou pelo menos um aquecimento de mãos alheias em suas mãos.

e no cair da noite, em casa, enquanto o frio esquentava o seu estar só, enquanto não tinha a seu alcance as mãos que esperava, aquecia no fogão a água, entornava em uma xícara com um sachê de chá de hortelã e assim, segurando a porcelana quase que num abraço, sentia o calor nas suas mãos, enquanto assistia a um programa qualquer na tv.

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domingo, 11 de maio de 2008

# 113

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muito se discute vida afora sobre o que é bom e o que é ruim.
sobre o que é fácil e difícil.
sobre o que é bonito e o que é feio.
e por fim, sobre a associação disso tudo.

pois bem.

o que é bonito não é fácil, e nem sempre é bom.
o que é feio não é ruim, e nem sempre é fácil.
o que é ruim não é difícil, e nem sempre é feio.

aí me cansei de tantas associações.
fica parecendo aqueles jogos de ligar que fazia quando tinha seis anos.
não.

a única conclusão sobre isso dos útimos dias, a que eu me permito pensar é que o que é bom, não é fácil, e não é feio, só exige paciência e uma placa de reserva.

a dificuldade nesse caso específico só aguça os sentidos, deixando no ar um certo charme e uma vontade de testar os limites das decisões inabaláveis.

as cartas estão nas mesas.
os abraços grandes estão dados.

agora é sentar na porta pra tomar ar no frio.
mesmo que o ar não esteja faltando lá dentro.

sexta-feira, 9 de maio de 2008

# 112

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e ela se assustava cada vez mais com a capacidade do mundo de problematizar as coisas simples.

- nussa, como é que pode gente?

a maioria das chuvas podem ser entendidas como um monte de pingo d'água caindo do céu.. mas não.. é preferível que soem como tempestades.. sei lá.. é mais catastrófico, dramático.. quase mexicano.

o tempo começa a esfriar e você já vê cachecóis, gorros, e um verdadeiro artefato fornístico envolvendo as pessoas.. pôxa.. cadê aquela sensação gostosa do frio tocando a pele?
e aquele arrepio que invoca um abraço.. ah nem..

quarta-feira, 16 de abril de 2008

# 111

:: pequenos furtos


e com o resto de riso que sobrou daquela última gargalhada, ele olhou pro lado, foi quando viu aquele outro, que nem pensava que existia.
e o outro acabou por ganhar, ou roubar, depende do ponto de vista, aquele resto de sorriso, e o retribuiu com uma formação de leve da boca em meia lua, assim, de canto só, meio disfarçado, porque tinha várias gentes na rua.
o primeiro ruborizou no exato momento, e num movimento rápido e involuntário olhou pro chão, cheio de ladrilhos azuis escuros, enquanto sentia as bochechas arderem pela timidez que o dominara.
puxa vida, que coisa nova.
já era dado aos flertes, mas esse foi de surpresa, o pegou desprevenido, e não sabia em absoluto o que podia fazer.
ficou a contar ladrilhos e quando voltou o rosto pro lado de onde veio o sorriso retribuído, ele já não estava mais lá.
nunca soube quem era aquele que o roubou, mas prega pela cidade cartazes de "Procura-se: o dono do sorriso de meia lua" recompensa-se bem.


sábado, 29 de março de 2008

# 101

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nada se compara aos dias de chuva.
putz. como detesto andar pela rua sendo atacado pelos pingos da chuva fria... como detesto quando a água entra no meu sapato, e como detesto ter pular as enxurradas, e vez por outra cair em alguma, molhando inteira aquela roupa que eu mesmo lavei e passei minutos antes.

além do mais, as chuvas são um problema pra um andarilho como eu. como que eu posso resolver voltar pra casa à pé do trabalho, se está prestes a cair um temporal.. ah nem.

bom, é outono. então vamos ter paciência que daqui a pouco as chuvas acabam.

ah, e detesto a previsão do tempo.
sempre errada.


quarta-feira, 26 de março de 2008

# 110

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e no meio do caminho de volta pra casa, naquele mesmo ônibus amarelo, um espirro chega.
já vinha sentindo o "corpo ruim" como diria a sua Vó, e o nariz começando a fungar desde cedo.. tudo sinal de que a tal da gripe tava rondando de novo seus caminhos.

- droga, e logo hoje que não troxe guarda-chuva.

e começa a dar uns passos mais apertados que os anteriores, mas não encontra ânimo em correr depois de um dia cheio de trabalho.
enfim alcança o começo da rua que tem que subir pra chegar em casa, e a chuva ainda não passa de uns pinguinhos atrevidos que insistem em cair bem dentro do olho dele quando olha pra ver como está o céu.

chega em casa, chá quente e banho bom.
- quede meus remédios pra gripe?!

e no fim da noite, depois de tomar os tais comprimidos com coca-cola, se esquece que estava gripado e se distrai vendo seriado de super herói.


segunda-feira, 24 de março de 2008

# 109

:: das noites implacáveis de domingo


- "a gente consegue se distrair a semana inteira, e nem pensar no que nos machuca durante toda ela, mas as noites de domingo são implacáveis."

constatação à qual chegamos eu e um amigo a mais de um ano atrás. e é fato.

por mais distante e casca grossa, tipo aquela do abacaxi amarelo ali na geladeira, que aparentemos ser, humanos que somos, temos pontos fracos. e acho que esses pontos ficam mais evidentes nas noites de domingo.

noite de domingo é quando todo mundo se prepara pra semana nova, descansa pra segunda feira que nascerá dali a poucas horas, ou quer apenas ter um momento mais intimista ali com a família ou tomar uma dose de carinho, os que tem companhia, digo.

pros que não a têm, resta aquela tentativa absurda de tentar se distrair, seja vendo um filme de steve seagal na globo pela milésima vez ou assistir a sessão das dez, topa tudo por dinheiro, ou qualquer programa que o sílvio santos inventar de colocar na programação mutante do sbt.

outros, como este que agora escreve, tenta se desvencilhar da tal da implacabilidade fazendo sopa de letrinhas com legumes e bacon, e vendo aqueles episódios de seriado emprestados. não adianta, porque sempre vai ter aquela hora do silencio e da votade de cortá-lo com um grito forte.

mas o grito não pode vir... os vizinhos estão dormindo, se preparando pra segunda.

resta se remoer com os destroços de si mesmo, esperando o tempo passar, olhando pro rádio relógio e torcendo pro dia raiar logo, ou o sono te pegar de uma vez.

sexta-feira, 21 de março de 2008

# 108

::

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e de longe o observa, assim, sem saber ao certo o que acontece.
se realmente existem sinais, ou se esses são só fruto daquela imaginação sem tamanho.
e reclama de boca fechada que o mundo podia ser mais simples e as coisas mais claras, quase que com legendas, que é pra não ficar usando seus grãos de areia pra construir castelos que podem desabar num sopro.
.
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e continua ali, inerte, só a observar. não ousa tentar nada diretamente, só continua pensando naquele sorriso e nos olhares trocados, e se firma nisso e nos leves toques de seus dedos mindinhos durante as danças, como sendo indícios de coisas boas.

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e assim vai o castelo crescendo, mesmo que só na sua imaginação.
ô mundo complicado.
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# 107

::  valsas


todo mundo devia ter uma valsa na vida.
dessas de fazer dançar com a vassoura na falta de alguém.
e que ia ser do mesmo tanto de feliz.

todo mundo tinha que ter uma valsa na vida.
e fazer que nem a amelie, sendo contente com coisas pequenas.
e que fazem um momento grande.

é.. todo mundo devia ter uma valsa na vida.
daquelas de esperar por duas horas alguém sem reclamar.
porque a valsa pára o tempo.

todo mundo devia ter uma valsa na vida.
e sentar num café e esperar, esperar, qualquer coisa.
e a coisa pode ser alguém
e esse alguém pode ser que seja eu.

dois pra lá.
dois pra cá.
.

# 106


:: banalidades



e eu quero as coisas banais,
aquelas que a gente faz sem pensar
soltar bolhas de sabão no meio da praça
pular nas faixas de pedestre
e comer pipoca doce de carrinho

e eu quero não me preocupar
se vai chover ou fazer sol
se saio tarde ou chego cedo
ou com que cor eu devo me vestir

eu só quero um dia pra mim
daqueles que nem horario tem
e onde eu faço o que não planejei
e encontro quem eu não esperava

agora só quero coisas banais
nada de terno e gravata
nem me preocupo com formalidades
quero correr no meio da rua
e gritar musicas bonitas no meio da multidão

só quero coisas banais
e nada mais

# 105

:: pontos



cheio de pontos.
de ônibus,
de interrogações,
de exclamações,
reticencias...
só não conheço o ponto final

será que tem isso?


# 104

::


o problema da felicidade é a baixa estima dela,
ela sempre acha que poderia ser melhor.
sempre se sente incompleta.
e por mais feliz que a felicidade esteja,
ela sempre vai querer achar um motivo pra ficar triste.
ah dona felicidade, compra um espelho pra ti sô.

terça-feira, 18 de março de 2008

# 103

:: "...então me diz qual é a graça de já saber o fim da estrada quando se parte rumo ao nada?..."


Porque o que me fascina é o que não consigo enxergar de longe, aquilo que não posso prever. O que me chama a percorrer a estrada é o desconhecido.

Se o meu obejtivo é o nada, quero persegui-lo, sem bússola nem placas nem guias nem qualquer coisa que me indique a direção que devo seguir.

Quero um nada meu. Um nada que eu possa encontrar sozinho, ou com a ajuda de quem teve coragem de me acompanhar nessa viagem louca. Quanto tempo vai durar essa busca? Não sei. E que graça teria saber? Nenhuma. Quando chegarmos ao nada daí podemos pensar: "Pronto! Agora é hora de querer o tudo!"

E lá se dá início a uma nova viagem...

O título é de "A seta e o Alvo" do Paulinho Moska.

# 102

:: cadeira azul e luzes brancas


desde pequeno imaginava que quando fosse grande, eu seria um dentista,me vestiria de jaleco branco e máscara e receberia meus pacientes com um sorriso certinho.

já via meu consultório, com uns quadros de dentes com olhos sorrindo pras crianças, ensinando-as a escovar os dentes, as cadeiras de dentista azuis e aquela luz branca típica de consultórios.

ele seria no centro de BH ou em Florianópolis. imaginava ainda a sala de espera, toda azul clara com um monte de revistas de atualidades pros adultos, e turma da Mônica (com os planos infalíveis do Cebolinha) e Tio Patinhas (e sua moedinha número um) pras crianças, e no rádio tocaria música leve.


nessa época, eu ainda era um tanto mais tímido, e introvertido,tinha poucos amigos e conversava pouco, bem ao contrário de hoje, diriam.

lembro que imaginava minha vida de dentista na hora do recreio do colégio, onde ficava sentado sozinho na arquibancada vendo os outros alunos brincarem, correrem e conversarem.
eu brincava com as luzes brancas em cima da cadeira azul, na minha imaginação.

terça-feira, 4 de março de 2008

# 101


:: da primeira vez de respirar


E abri os olhos antes de qualquer coisa. Ainda não sabia o que era nada, sem nomes, sem formas... tudo podia ser o que eu quisesse, mas ainda não queria nada, só abrir os olhos.

Depois dos olhos, foi a vez da boca, o que é até engraçado de se dizer, porque naturalmente a boca se abriria antes para que se pudesse respirar. Eu disse naturalmente. E não estou falando de natureza, estou falando de mim. Pois bem, depois de abrir os olhos, e ver o mundo que ainda não se chamava mundo, abri a boca, e pela primeira vez o ar me invadiu, pela primeira vez respirei, e me senti como um balão desses de criança, me inflando aos poucos, e essa sensação me era divertida.

Ao mesmo tempo que o ar me enchia, me ria por dentro, e era como se bolhas de sabão me invadissem e de repente o desespero: o que fazer com tanto ar? Que desse momento em diante já se chamava ar. Ainda não aprendera que da mesma forma que entrou ele teria que sair. E aí sim o natural me tocou, e meus pulmões expulsaram aquele invasor que me proporcionou tanta alegria naquele precioso momento.

E aí já era tarde... um vício por ar me tomara. E depois da primeira vez não quis mais parar. E tornei-me alguém que respirava, e o melhor, que gostava disso.

Os respiros então começaram a variar de formas, um hora eram fortes de afobamento, noutra leve, devagarzinho que era pra não acordar ninguém, e ainda tinham os sapecas, que não podiam ser ouvidos, mas que se deliciavam. E tornaram-se por vezes suspiros de emoção, de vontade, de inveja até. Mas jamais a sensação daquele primeiro respirar fez-se presente outra vez.


segunda-feira, 3 de março de 2008

# 100

::

"lua azul, lua azul turquesa
já que a casa está vazia
vem me fazer companhia
na janela da cozinha"

e ontem foi assim que vi minha casa ficar, vazia vazia, de dar dó e  ouvir o eco soar na sala grande.

tá quase aquela casa engraçada que não tinha nada, mas a gente ainda tem parede, banheiro, estante e TV.
e um teto com estrelas.

não não.. não teve briga, nem separação. não teve nenhum evento grande e nada de imprevisto. Os móveis eram de um amigo que se mudara pro interior e voltara pra capital agora.

mas bem, o vazio não vai durar pro muito tempo, e logo o eco vai deixar saudades.
essa semana a geladeira, fogão e companhia ilimitada estão chegando pra ocupar aqueles espaços vazios, ah, e o sofá também chega.

enquanto isso, a gente senta nas almofadas azuis, alaranjadas e vermelhas e vemos tv no chão.

e brincar de eco é divertido, principalmente quando o que ecoa são as risadas. rs

:)

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

# 99

::


"... Das pessoas deveria bastar saber como se chamam, e levarmos o resto da vida para saber quem são, pois ser não é ter sido, ter sido não é será..." {José Saramago}

estaria o Saramago certo dessa vez?


terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

# 97

:: Prelúdio de Olívia



e lá estava Oívia, com sua pose imponente de sempre, olhando através dos óculos bege, que deveriam fazer às vezes de óculos de sol, embora o sol a afetasse do mesmo modo, mas era a moda, paciência.

olhava ao longe com o nariz empinado e aquela bolsa azul de marca francesa no braço esquerdo, avistando um casal de mãos dadas e achando aquilo uma grande patetice.

ela já não acreditava nessas coisas. havia passado por tantas absurdidades na vida que o amor soava aos seus ouvidos como uma grande bobagem sem fim, quase como uma bebida que atacava os tontos que o provavam.

Não se sabe se havia ali uma ponta de inveja ou o quê, mas Olívia continuava inerte, olhando praqueles dois com um desdém que só ela possuía, e lembrando-se que preferia ser só, do jeito que era, com sua sabedoria do mundo, e sua impecável aparência. Olívia acreditava saber tudo no mundo. Olívia não acreditava nas pessoas e suas honestidades e sinceridades falhas.

- "Antes estar só e me sentir um sucesso, que está acompanhada e me sentir uma derrotada." pensou alto, enquanto passava equilibrada naquele salto alto importado, e ostentando toda aquela pose de quem sabe de tudo no mundo.

Olívia agora voltava à sua casa para reencontrar seu único amor, sua basset Janice, a cã.


quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

# 96

:: do senhor do tempo


e de uma vez só aquela água toda caiu do céu, bem em cima dele e seu terno novo.
e pensou: Pombas! quando não trago meu guarda-chuvas, chove e vice versa.

resultado: passou a sentir o senhor do tempo, tudo por conta do guarda-chuva gigante que quando o acompanhava, trazia o sol e quando ficava em casa, a chuva aparecia.

até que numa tarde qualquer, nesses caminhos de ônibus, o moço desceu e o guarda-chuva continuou o caminho.
agora tornaria outro moço como senhor do tempo.

só restava agora comprar outro, ou quem sabe, uma capa de chuva.

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

# 95


::  tempo da mesma chuva



" I cant sleep tonight
Everybody saying everythings alright
Still I can't close my eyes
Im seeing a tunnel at the end of all these lights

Sunny days
Where have you gone?
I get the strangest feeling you belong

Why does it always rain on me?
Is it because I lied when I was seventeen?
Why does it always rain on me?
Even when the sun is shining
I cant avoid the lightning
I cant stand myself

Im being held up by invisible men
Still life on a shelf when
I got my mind on something else

Sunny days
Where have you gone?
I get the strangest feeling you belong

Why does it always rain on me?
Is it because I lied when I was seventeen?
Why does it always rain on me?
Even when the sun is shining
I cant avoid the lightning
Oh, where did the blue skies go?
And why is it raining so?
Its so cold

I cant sleep tonight
Everybody saying everythings alright
Still I cant close my eyes
Im seeing a tunnel at the end of all these lights

Sunny days
Where have you gone?
I get the strangest feeling you belong

Why does it always rain on me?
Why does it always rain.."

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

# 94

:: o rei da cozinha


e na cozinha me faço rei.
sim, eu mesmo me declarei, sem ninguém impor objeção.
e já que título que não é contestado é título dado, sou Rei.

tem quem não gosta de me ver cozinhar, mas lambe os beiços quando fica pronto o prato bonito, e por muitas vezes um tanto.. ãhnnn.. exótico.

sim meus senhores e senhoras, ando com o rei na barriga, literalmente. inventando pratos divertidos, usando de tudo que há naquela cozinha branca, misturando halls com strogonoff (e dando certo), agridoce com queijo, e erva doce e macarrão.

e meus convidados andam satisfeitos e pedindo mais.
:)

então, já sabem: quando a fome bater, ligue pro rei. quem sabe não te faço um banquete?

# 93

:: das quase palavras



tem coisas que não precisam de sons, grafias e nem mesmo letras pra se tornarem palavras, ou quase.

é que tem uns detalhes que falam por nós, umas expressões no rosto, um muxoxo com a boca, um olhar mais afinado e um assovio bem soprado.
isso tudo fala um monte, e sem ser palavra. pode ser deboche, felicidade, desafio e até raiva, mas significam um monte, às vezes, são mais fortes que qualquer juntamento de letras.

quem não tem medo de um olhar daqueles "vc me paga"?
ah, eu tenho, e sou mestre de fazê-los também.

tenho andado em fase de gestos, com mania de minimizar as coisas. então ando bem calado, mas bastante gestual.
então é bom se atentar ao mundo e seus detalhes, porque pouca coisa, pode ser muito, pode dizer muito.

e as quase palavras são uma delícia. quase um jogo de mímica.
então entende quando eu te sorrir. quer dizer muito mais que palavra.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

# 92

 
:: cheiro
 
 
não suportava a idéia de não estar cheiroso.
não, na verdade, seu medo era de estar com algum cheiro ruim, com chulé, cecê, entre outro acrezinhos comuns da raça humana.
 
pra se precaver, sempre, sempre, levava consigo, ou na mochila azul e cinza de uma alça só, ou na maleta preta de moço sério, um frasco de spray do seu desodorante preferido, não convém aqui contar a marca que é pra ninguém ter o mesmo cheiro bom.
 
e assim, vez por outra, durante o dia, lá ia ele tirar da bolsa seu frasco de cheiro bom, e discreta e secretamente desabotoar um ou dois botões de sua camisa, e mais escondido ainda, passar o frasco pro lado de dentro dela e, fazendo cara de paisagem, espalhar aquele aroma sobre o seu peito e axilas, sentindo um arrepio pequeno e gostoso por conta do gelado do tubo de spray.
 
e lá se ia outra vez, feliz e seguro com seu cheiro renovado.