quinta-feira, 27 de maio de 2010

# 222

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"pra que eu me divirta, às vezes basta um sorriso, às vezes uma palavra é tudo o que eu preciso"

e é que ele estava à toa pela vida, cheio de questionamentos, cheio de sugestionamentos, mas sem qualquer rumo certo.
a moça que analisava suas atitudes toda semana, havia lhe dito: "desacelere! o mundo não termina amanhã! por quê tem que ser tudo nessa intensidade toda?"
e depois dessas palavras, que foram como grampos pregados num papel branco, ele pensou em diminuir sua velocidade, que sim, sempre fora assim, rápida demais, elétrica demais. resolveu se focar.

e naquela noite, mesmo passando frio, não queria entrar pro lugar das danças, porque ele estava ali se divertindo, com casos engraçados, mas entredido demais com aquele sorriso sem jeito que ele enxergava, uma coisa entre o tímido e o desajeitado, mas ainda assim, tão forte e sincera, que ele só não conseguia sair de lá.
e pronto! estava lá, focado, desacelerado, sem vontade de sair de perto, porque o tempo tava frio, mas aquela alegria do momento o aquecia.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

# 221

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é que eu tenho uma caixa aqui dentro de mim, com toda a minha gravidade.
vez ou outra, eu deixa ela se abrir pra alguns amigos, que são os que sabem que também sou equilíbrio.
mas na maior parte do tempo, a caixa fica fechada, porque muito do que tem dentro dela é de doer. 
e eu não sou dos que gostam de doer. 

quinta-feira, 13 de maio de 2010

# 220

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e lá estava ele, depois de umas cervejas, dançando, numa madrugada de sábado.
em meio a conhecidos, ele dançava de olhos fechados, quando a música era daquelas que mexiam consigo, fazendo aquele arrepio gelado subir pela espinha.
noutras, abria a boca e gritava a música a plenos pulmões, como se fosse pro mundo todo ouvir.
e nessas, dançava, dançava e dançava.
numa hora qualquer, pisou no pé de alguém, e, como sempre, se desculpou.
a pessoa sorriu, e ele voltou a dançar do mesmo jeito.
tempos depois, pisou novamente no pé alheio, e pediu novamente desculpas, ao que percebeu que o pessoa sorria e o encarou, dizendo "quem é você que pede desculpas quando pisa no pé de alguém numa boate? você existe?" e, num sorriso trocado, começaram a dançar juntos, e em silêncio.
não trocaram nomes.
mas de lá saíram, e conversaram como nunca, como se o mundo fosse terminar naquele dia, e tinham que esgotar todos os assuntos.
artes, literatura, cinema, teatro, amor, vida, enfim, os mais diversos assuntos, de modo meio sério e meio descontraído, mas com profundidade.
a manhã chegou, e eles não perceberam.
a conversa terminou, e com um beijo, se despediram.
e nem os nomes trocaram.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

# 219

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- "você é uma das pessoas mais divertidas que eu já conheci."

e ele ouvira essa frase por 3 vezes, de 3 pessoas diferentes nos últimos meses. e isso o perturbou.
sim, por mais que ser uma pessoa divertida é uma coisa boa, no sentido de atrair a atenção das pessoas, de manter gente ao redor, por outro lado, pode ser uma coisa terrível.
e ainda mais pra ele.
sim, ele não queria essa imagem de comediante. ele era bastante sério sim, e isso estava, de certo modo, disfarçado. talvez pela facilidade maior em ser alguém que arranca risadas dos outros, o que é leve, em vez de alguém que trava discussões sobre temas graves.
mas... ele também sabia falar dos temas graves.
e o incômodo foi se tornando sem tamanho, mas a gravidade disso tudo foi interiorizada, tornando-o alguém divertido pra quem tava de fora, mas alguém grave pra si mesmo.
e ele vem empenhando um esforço bem grande no sentido da seriedade. então, ele vai continuar rindo das bobagens da vida, mas ele também vai querer falar sobre o cinema koreano e de como acha que "na natureza selvagem" é um filme terrível.
experimenta.