domingo, 31 de julho de 2011

# 261

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"...então me diz qual é a graça de já saber o fim da estrada quando se parte rumo ao nada?..."


porque o que me fascina é o que não consigo enxergar de longe, aquilo que não posso prever.
o que me chama a percorrer a estrada é o desconhecido. é não saber onde ela vai dar.
e nem onde ficam as paradas pra descanso em seu curso.

se o meu obejtivo é o nada, quero persegui-lo, sem bússola, nem placas, nem guias, nem qualquer coisa que me indique a direção que devo seguir.


é que quero um nada meu. um nada que eu possa encontrar sozinho, ou com a ajuda de quem teve coragem de me acompanhar nessa viagem louca. 
quanto tempo vai durar essa busca? não sei. 
e que graça teria saber? nenhuma. 
quando chegarmos ao nada daí podemos pensar: "Pronto! agora é hora de querer o tudo!"

O título é de "A seta e o Alvo" do Paulinho Moska

quinta-feira, 28 de julho de 2011

# 260

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ele descia sério pela rua.
porque depois dos óculos, parecia que enxergava o mundo com mais responsabilidades, e mais peso nas costas.
adquirira uma sobriedade grande depois que os colocou no rosto, que passou até a pentear os cabelos antes de sair de casa.

e ali ia, com a gravata azul, o cabelo de lado, partido do mesmo modo que o fazia aos seis anos, a pasta na mão e o paletó nas costas.
caminhava pela rua em direção ao escritório, ouvindo música, mas com o rosto carregado de seriedade.

até que se inicia uma música que o fez quebrar aquela expressão pesada e formar um sorriso.
era "na estrada", da Marisa Monte.

sorriu, como se uma força gostosa o tivesse invadido, e lhe faltou ar. teve que afrouxar a gravata.
e saiu cantando baixinho "tchurururururu uô uô uô"..

e nem os óculos seguraram a seriedade nesse dia, que ficou com cara de sorriso o dia todo.
atrapalhou o cabelo, e chegou ao escritório com a cara daquele de antes, só com lentes a mais.

terça-feira, 26 de julho de 2011

# 259

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cinco primeiros encontros.
(não necessariamente na ordem cronológica)


#1

"em cima do muro", era o nome de seu blog.

era 2003, e estava tudo começando. o mundo se abrindo, a vida sendo modificada.
coisas que nunca antes tinham passado por sua cabeça, agora eram sua realidade.
estava em fase de adaptação. e ali, naquele blog, contava como era isso pra si.

conheceu grandes amigos a partir daquele blog, e em um dia de julho recebeu um comentário especial: "você foi roubado, passe no meu blog pra ver."
e ele havia sido roubado mesmo. de sua rotina, de sua normalidade, de sua solidão.
aquele roubo, que era uma descrição de si em um texto, foi a porta de entrada pra um convite de cinema.

e no primeiro sábado de agosto de 2003, depois de uma conversa despretensiosa de mais de 4 horas, depois de assistirem a Tomb Raider, e comerem sanduíche de salsicha com mate couro, de falarem sobre "Memorial do Convento", e da leitura de "porquinho da índia" do manuel bandeira, e um canto no ouvido de "não vá ainda" da Zélia Duncan, se iniciava aquele primeiro namoro, que mudou e muito a sua vida.


# 2

era julho, e eram férias no Rio de Janeiro.

sempre gostou de praia, mar, sol... e diferente de seus amigos mineiros que lá moravam, não abira mão de um passeio à beira-mar.
e naquela sexta-feira foi sozinho.
havia aquela vontade de mergulhar, mas não havia ninguém que pudesse cuidar de suas coisas enquanto ia ao mar.
observador que era, viu que um rapaz que lia uma apostila, um roteiro, pedira a uns desconhecidos para vigiar suas coisas enquanto mergulhava em Ipanema.

pensou: "quem pede para alguém que olhe suas coisas, é confiável pra olhar as coisas dos outros".
e pediu ao moço quando este voltara, que se prontificou a vigiar, com um sorriso no rosto.
e após o mergulho, sentaram-se na mesma toalha, e conversaram até o fim da tarde.
numa festa no dia seguinte, em meio a uma roda de danças, espontaneamente, quase de maneira natural, se beijaram, e ali começou aquela relação boa de carinho. 


# 3

era domingo. almoço na casa de amigos.

todos riam, conversavam bem e comiam.
a porta se abre, e convidados de outra cidade chegam com um amigo.

naquela hora, só conseguia pensar no encanto que aquele desconhecido lhe causara.
pegou sua câmera, e ali mesmo, secretamente, fez uma foto, que foi enviada algum tempo depois com o título "a foto mais bonita que eu fiz".
se aproximaram, trocaram contatos, e passaram a sair como bons amigos por algum tempo.
seu coração se confundia, pedia uma revolução.
e assim, numa sexta feira de setembro, ambos confessaram que sentiam a mesma coisa.
se apaixonaram.
e com um "fique mais, que eu gostei de ter você, não vou mais querer ninguém agora que sei quem me faz bem", o namoro se iniciou.


# 4

eram 14hs da tarde. estava em seu escritório.

não haviam clientes marcados praquele dia, então estava, de certa forma, à toa.
de repente, batem à porta do escritório.
e num susto, ali estava alguém que não conhecia pessoalmente.

fascinou-se, e saíram em busca de um lugar pro outro morar.
passaram o resto do dia rodando pela cidade.
foram descansar. compraram um vinho, e na maior das despretensões, se encantaram.
e assim iniciava-se um novo romance.


# 5

era 31 de dezembro. ele passaria o reveillon na casa de uma amiga.

seu telefone toca ao fim da tarde, e escuta uma pergunta: "ei, onde você vai passar a virada de ano, posso ir com você?"
era um amor antigo. 
e assim, sem planos, foram para casa da amiga dele.
e na virada do ano, na hora em que as pessoas se beijam, se entreolharam, e sem dúvida, algo foi mais forte.
beijaram-se, e foi como se o tempo não houvesse passado.

entre sorrisos, comidas, e músicas ao violão, ali se declararam de amor novamente, e recomeçara aquele romance.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

# 258

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e ele gostava de arte, de cinema, de música, de livros, de deitar-se embaixo de árvores, e de all star.

em algumas tardes, ficava quieto, de olhos fechados, se escondendo das pilhas de papel que o cercavam, e colocava pra tocar alguma de suas moças preferidas no rádio, e ali, naquele canto de tempo, cantava baixinho as letras das músicas escolhidas, se imaginando noutro tempo e lugar.

e gostava da lasanha da sua mãe, quase o mesmo tanto que gostava da que sua avó fazia, ela era meio adocicada, ele dizia.
e de suco de caju também, e de comer melancia de garfo e faca, que era pra não dar muita sujeira na cara.

gostava ainda de discutir consigo mesmo, como se estivesse na análise, fazendo ponderações graves a seu respeito algumas vezes, e noutras, caindo naquelas gargalhadas enormes, que chegam a doer a barriga.

e se deliciava ao ver outras pessoas dançando, de um tanto, que às vezes parava só pra vê-las. preferia as que dançavam do seu jeito, que as que faziam coreografias.

sorrisos de canto de boca se formavam em seu rosto, e um tanto de alegria o invadia por motivos simples e bobos aos olhos dos outros.
e assim, de graça, sem pagamento ou motivo forte. 

e às vezes, o escolhedor de música de seu celular lhe presenteava, na mais pura aleatoriedade, com aquela música que melhorava seu astral, naqueles dias mais cinzas, e assim, por conta de uma música qualquer, se sentia bem.

o mero detalhe daquela música específica tocar lhe deixava explosivo, no sentido de contente, e assim, sem perceber, ele cantava baixinho a melodia, sem saber se havia ou não alguém olhando prali.

ele não ligava, porque gostava das coisas simples.

terça-feira, 19 de julho de 2011

# 257

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hoje de manhã eu passei no mercado pra comprar algumas maçãs.
e como sou chato pra comprar maçãs.
não gosto que tenham nenhuma marca mais escura, nenhum machucadinho ou buraco.
a maçã pra mim tem que ser aquela com a casca lisinha, perfeita, sem marcas.

daí comecei a rir sozinho, nessa hora da escolha, porque fiz uma comparação da escolha das maçãs com a escolha das pessoas.
não funciona assim. a gente não pode querer que as pessoas não tenham marcas, cicatrizes. 
ninguém saiu do barro, moldado direto pra gente.
todo mundo tem história, passado, marcas. e isso é até saudável, porque experiência é uma qualidade.

não há como exigir de alguém que não tenha suas mágoas, marcas ou traumas. todos temos. 
o negócio é como saber lidar com isso, sem peso, sem medos. o que é bem difícil, aliás.
como não temer aquela comparação com o romance anterior? como não inventar até mesmo uma pseudocompetição com o ex, pra querer disputar o cargo de mais inesquecível?
não aprendi ainda.

mas aprendi que passado existe pra todo mundo. é história, e não deve ser temido, não deve ser evitado, mas também não deve ser lembrado o tempo todo.
o passado é o que eu, você, e o próximo seremos amanhã. 
todo mundo será.
só assim se cria um novo presente.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

# 256

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ele tinha 21.
e era de leão.

numa obra do acaso, numa quase brincadeira, conseguiu abalar a zona de conforto do outro.

o outro, a muito se acostumara àquele estado de suspensão emocional. não se deixava mover por pequenas centelhas, e nem tinha vontade de começar nada do zero.
imaginava que o melhor seria se essas coisas de romance pudessem pular aquela fase do conhecimento e ir direto praquele momento em que ambos já se conheciam e as coisas poderiam acontecer com toda a segurança do mundo.
por muito tempo não deixava ninguém invadir seu espaço, que era só seu, e sentia até certa preguiça de deixar que isso acontecesse.
já havia passado por muita coisa no passado, que lhe cansaram de certa forma, e adormeceram toda aquela vontade de se doar.

e assim estava bem, sem procura, sem caça, só consigo mesmo. 

mas quando aparece um leão, é impossível que não se note, e seu rugido pode acordar sensações adormecidas.
e assim o foi.

após muito tempo sentiu vontade de novo de cuidar de alguém, de esperar. 
de preparar comida especial e passar tempo junto.
sentiu vontade de ser plural, de se dedicar e lembrou como é boa essa sensação, essa vontade de deixar alguém fazer parte de sua vida.
e assim o fez, e assim o foi.

o leão veio, rugiu, o despertou do estado de suspensão, bagunçou sua zona de conforto, e conseguiu rachar o muro de proteção.
mas o leão se foi. 
a sensação fica, e o despertar pro mundo permanece.
é muito importante que se ouçam rugidos às vezes.