terça-feira, 24 de janeiro de 2012

# 275

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turbulências.

tenho pensando muito a respeito de turbulências nos últimos dias.
não só as de avião, mas as da vida.
turbulências são aquelas coisas que acontecem, bagunçando a ordem das coisas, fazendo barulho, causando medo, mas depois passam.

quando mais novo eu tinha medo de avião, justamente por conta das tais turbulências. 
eu tremia só de pensar que teria que viajar de avião pra algum lugar, e quando entrava na nave ficava tenso, de olhos fechados por muitas vezes.
até que um dia, a turbulência tão temida aconteceu num vôo de BH pra Florianópolis. 
e o engraçado foi que, enquanto ela acontecia, em vez de entrar em pânico, eu fiquei calmo, calado, e esperando que passasse. 

e na vida é assim que acontece também. 
uma vez, num episódio de Xena, ela, falando de seu passado, apontava pra um lago e dizia: "veja aquele lago, está tranquilo e sereno, mas se você jogar uma pedra na água, tudo vai se estremecer, formar ondas, e tremer por um tempo. Logo, tudo vai voltar ao normal, a água vai ficar calma de novo, mas aquela pedra que causou o tumulto ainda vai estar lá, e mesmo que você a tire, a marca dela vai ficar. o lago nunca mais vai ser o mesmo."

acho que a gente pode comparar essa história do lago com as turbulências. depois da que passei no avião, nunca mais tive medo de voar.
e na vida é da mesma forma.

a gente passa pelas turbulências, têm as águas enervadas por pedras, e tudo passa, volta à calmaria, mas sempre deixa marcas.


terça-feira, 10 de janeiro de 2012

# 274

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sempre vai ter alguém pra te encontrar defeitos.
é que o mundo em geral tem uma visão meio pessimista das coisas.
talvez seja mais fácil e cômodo pensar pelo lado ruim, em vez de se forçar a alimentar esperança e pensar que as chances de algo dar errado são as mesmas de dar certo, 50/50.

bater o pé pra ser otimista no mundo de hoje pode até parecer meio bobo, mas no fundo, todo mundo sabe que pra que alguma coisa dê certo, a gente precisa acreditar, pelo menos um pouquinho, que há a chance de dar certo.
e, por mais Poliana que pareça, eu realmente acredito no poder da positividade.

desde pequeno sempre tive essa mania, de tentar ver o mundo por uma ótica de possibilidades, mesmo quando tudo e todo mundo apontava que não havia solução pros meus problemas. 
como eu disse ali em cima, sempre vai ter alguém pra apontar defeitos, em tudo.
nunca foi muito problema pra isso essa tendência, quase malvada, de negativismo alheio. nunca me fez deixar de pensar nas possibilidades boas.

não tou dizendo aqui que a gente tem que ser cego e só pensar que as coisas serão boas sempre.
de jeito nenhum. ser otimista não prejudica o ser realista. 
às vezes a gente tem que encontrar força até nas coisas ruins, pra que possamos superar e seguir em frente.
o mundo não é fácil, mas também não é esse monstro todo.

lembremos, a chance de as coisas darem certo e errado são as mesmas, 50/50.


segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

# 273

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de tempos em tempos é bom que a gente recomece.
não precisa de marcos, como um reveillon, ou um aniversário. 
só precisa daquele estalo íntimo, que avisa que tá na hora de deixar esse "eu" de hoje numa caixa, e inventar um novo.

é, porque reinvenção é um poder que todos temos. mas todos mesmo.
às vezes a gente se reinventa por necessidade, noutras a gente se reiventa por impulso, e noutras porque assim decidimos.
todas são boas.

a reinvenção, a transformação de nossos "eus" é sempre uma aventura, daquelas boas, que nem viagem de carro de vidro aberto, com aquele vento batendo na nossa cara, e mostrando como que tem possibilidades no mundo.
e nesse incentivo, a gente vai e vira outro. às vezes a mudança é pequena, quase imperceptível, mas ainda assim é importante.

mas o que tem que ser considerado nesse ato de reinvenção, sempre deve ser a nossa própria individualidade.
é, porque às vezes a gente se esquece num canto qualquer, e passa a viver de acordo com o que é bom aos olhos do resto do mundo. 
muitas vezes isso é bom mesmo, mas outras é bom só pra quem dita a regra. 
então, é bom aproveitar a reinvenção, pra saber que sobre a sua vida, a única pessoa que pode ditar a regra, que pode determinar seu comportamento, e que pode saber o que é bom ou ruim pra você é você mesmo.

então, aproveitemos o momento de recomeço e de reinvenção pra tomar conta da nossa própria vida, pra fazer o que se tem vontade, e deixar de atuar que nem satélite na vida dos outros.
a gente é é planeta, uai.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

# 272


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às vezes encontramos respostas pra alguns conflitos, temores e medos onde menos esperamos.
Isso acontece com frequência comigo.

na última semana, após voltar da análise,  estava com a cabeça cheia de questionamentos,  conflitos,  o que é perfeitamente comum, aliás.

e eu não conseguia definir o ponto em que eu tinha que chegar diante daquele tanto de coisa que ululava na minha cabeça,  não conseguia colocar liga naquelas questões, o que estava me deixando aflito pra xuxu.

até que assistindo "Being Erica", meu seriado favorito,  consegui enxergar o que a analista me propôs.

a série é fantástica,  e trata, justamente,  de terapia, onde a protagonista ganha um terapeuta que tem o poder de manda-la ao passado,  para rever seus arrependimentos e entender o tanto que eles influenciam no que ela é aos trinta e poucos anos.

recomendo,  aprendi um tanto com ele, fora que a trilha sonora é fenomenal, e ainda que por ser canadense, foge um pouco do padrão das séries americanas, contra as quais nada tenho, aliás.

o importante é que eu me sinto bastante instigado a pensar depois de cada episódio,  que sempre tem alguma mensagem, e por vezes, como na última semana,  o conflito da Erica é semelhante ao meu, e isso me ajuda a refletir.

bom, a lição da semana foi que a gente sempre tem a tendência a esperar que o mundo haja dentro da nossa própria visão de certo e errado,  que é feita com base nas nossas vivências exclusivas e pessoais. Por conta disso nos frustramos e julgamos e brigamos quando as pessoas à nossa volta não agem como a gente agiria.
aí que tá o erro, quando a gente aprende a respeitar o outro como um ser individual,  com sua própria noção de certo, errado,  tempo e etc, baseada em suas vivências e até em medos, as relações se tornam mais reais e honestas, além de a gente tirar o peso da infalibilidade das costas.

o Nando Reis (de novo ele, sim), diz "a vida não precisa de juízes,  a questão é sermos razoáveis", e é justamente esse o caso. 

é só entender que ninguém tem a obrigação de agir como a gente agiria, que as coisas fluem, e nos trazem ótimas surpresas até. :)

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

# 271

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|| "e ficaram livres da perfeição, que só fazia estragos."||



o Nando Reis canta essa frase numa música que fala de um relacionamento.
e eu nunca tinha prestado muita atenção à letra dela, e me surpreendeu dia desses, pois é a mais pura verdade.

quando a gente engata um relacionamento, a gente tenta ter um comportamento perfeito. daqueles, sem tirar nem por, ser o príncipe encantado.
só que a perfeição é uma bagagem muito pesada pra se carregar em cima de um cavalo branco.
é difícil tentar ser perfeito e ser autêntico ao mesmo tempo, o que é um problema muito grande, afinal de contas, a pessoa que nos namora, apesar de suas expectativas, nos namora porque temos nossas próprias características no meio daquela multidão de pretendentes carentes.

e quando se toma consciência disso, fica mais fácil e tranquilo que nos comportemos de acordo com nossas próprias qualidades, e até mesmo, nossos próprios defeitos.
quando a gente deixa a tentativa de ser perfeito de lado, ou então a deixa quase nula, a gente passa a agir de acordo com nossa própria personalidade, com nossas peculiaridades e singularidades. é aí que a gente fica único, e mostra porque a gente merece ser namorado.

 e eu acho que é até bom, quando num relacionamento, a gente desconstrói a imagem de intocável e inerrável de um namorado perfeito. primeiro porque namorar alguém perfeito deve ser um saco. imagina a falta de surpresa, de brigas e de reconciliações? dispenso.
segundo, porque uma desilusãozinha, desde que não muito nociva, ajuda a tirar a aura de perfeição do relacionamento, fazendo com que o casal se veja do jeito que realmente são, e aí sim começa o namoro de verdade, na minha opinião.

quando a perfeição vai embora é que um começa a ver o outro da forma que é, como um ser humano, com defeitos e qualidades, desmistificando aquela imagem de conto de fadas. 
é aí que vão ver se vale a pena manter aquele relacionamento, afinal, é um ser humano, ora bolas. tem que ter saco, paciência e tolerância pra lidar com as fraquezas, o superego, as crises, enfim, é alguém como você.

e pra falar a verdade, sempre vale a pena.
deixa a perfeição pros contos de fadas. 
eu quero mais é ser imperfeito.

pra ler ouvindo "imperfeito" do Pato Fu. 

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

# 270

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e depois de ficar alguns anos cansado de tantos relacionamentos conturbados, de tantas frustrações, de tanto precisar fazer esforços pra contornar esse ou aquele outro defeito alheio, como forma de adaptação, abrindo mão até mesmo de algumas de suas convicções pra que aquela "ficada" se desenrolasse pra algum canto, ele finalmente se cansou.

e foi só decretar o seu "Basta!", o seu "Chega!", que a coisa aconteceu. 
quando menos pensava, estava ali exposto à uma nova possibilidade, que parecia bem promissora, a começar pela forma que se deu.

foi um reencontro, é verdade. 
eles já se haviam sido apresentados a alguns anos atrás, por meio de um amigo em comum. 
reza a lenda que ambos se sentiram atraídos um pelo outro, mas eram tímidos ou medrosos demais pra se abordarem. 
daí perderam o contato, até a um mês atrás, quando, por meio de uma rede social, ele viu aquele outro como uma "sugestão de amizade", e tomou coragem, clicou naquele convite.

feito um convite pra um Café, se encontraram, e aquela empatia que havia se mostrado no contato virtual, mostrou-se ainda maior pessoalmente. e, numa noite em que não viram as horas se passarem, começou esse caso, que completou um mês nessa semana.

e ele, pela primeira vez em anos, se viu sem precisar fazer esforço nenhum pra contornar esse ou aquele defeito do outro. 
pelo contrário, não via defeitos reais, e até, de vez em quando perguntava pro outro "você é real, ou fruto da minha idealização?".
é real. viu que ainda existe no mundo gente pra quem a gente não precisa se fingir, se passar por príncipe perfeito.

se ambos são perfeitos? óbvio que não. e isso é excelente. 
eles tem seus defeitos sim, como todo ser humano. 
tem suas fraquezas, suas carências, seus medos e inseguranças.
sim, mas mais que isso, eles tem vontade de estar juntos. 
de se gostarem, de se apoiarem, e se suportarem.

e até então já foi o bastante pra completarem um mês juntos.
o que vem por aí, a gente deixa pro amanhã dizer.
o hoje, ah, esse está uma delícia, com gosto de jujuba e tic tac.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

# 269


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ele tinha todo um sol em seu peito.
a tal da intensidade e empolgação, com a qual se dedicava àquilo que lhe despertava a vontade.
não era de seu feitio conter aquele sentimento todo que tinha em si quando queria se dedicar a alguma coisa ou a alguém.
mergulhava, como se estivesse em alto mar, até onde conseguia, ou lhe era permitido.
e, por muitas vezes, teve que voltar à superfície, quase sem ar, de alguns mergulhos mal sucedidos, mas sempre encontrava forças pra respirar novamente.

o que não lhe faltava era coragem.
essa tinha de sobra.

uma vez, um tanto quanto cansado dos mergulhos em vão, resolvera que tentaria diminuir aquela força do sol, aquele calor todo de seu peito.
tentaria mergulhos mais rasos, e doar apenas algum calor, desses de forno convencional.

daí, quando toma essa decisão, descobre que nesse universo todo, existem mais pessoas com sol no peito, com a mesma intensidade e empolgação, e o mesmo talento pra mergulhos em águas profundas.
é então que vê a ironia da vida. quando entende por ser menos intenso, vem o mundo e lhe mostra que é a intensidade o seu diferencial.

com isso em mente, se veste com aquela coragem que já lhe cabe tão bem, vai de encontro com aquele outro que guarda o sol no peito, e mergulham juntos, em águas que ainda desconhecem, mas que não têm pressa pra desvenda-las em sua totalidade.
com a boa e velha intensidade, se vê, novamente, sem precisar nadar em direção à superfície.
se vê sim é com um riso grande no rosto, daqueles que nem se lembrava de quando havia sorrido.
e torce, de olho fechado, pra que essa sensação dure por muito tempo, tanto tempo que baste pra que se percam as contas.

^^,

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

# 268



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ele achava graça das mínimas coisas.
sempre, sempre, procurava enxergar aqueles detalhes quase imperceptíveis nas pessoas e situações, detalhes esses que fariam daqueles momentos, daquelas pessoas, coisas únicas.
podia haver até mesmo uma semelhança entre um fato e outro, mas nunca eram idênticos, iguais.

e era justamente isso que lhe agradava.
gostava de pensar, como diz uma música das que mais gostava na vida "eu não existo nos lugares comuns", porque é assim que enxergava não só a si mesmo, mas o mundo todo.
uma vastidão sem lugares comuns.
nada nem ninguém era comum. de todo mundo só havia um exemplar, com suas sutilezas e particularidades.
e eram essas que entravam na memória.

e no fim das contas, se encantava com detalhes, com a vontade de desvendar o por trás daquelas coisas.
de saber o que havia de secreto naquilo que via a olho nu.

de vez em quando se deparava com as peças pregadas pela Dona Vida, e se via ali, com um mistério novo pra desvendar, através das mínimas coisas, das mais simples, o que havia por trás.
no momento, brinca de detetive, contando com a ajuda do Sr. Acaso, e uma certa compatibilidade de horários.

terça-feira, 20 de setembro de 2011

# 267


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ele achava engraçada a reação das pessoas quando não brigava por bobagens.
é que o mundo já era bastante complicado pra ficar fazendo tempestades em copos d'água.
além de achar que depois sem vinha o tempo bom, com arco íris e tudo.
por isso evitava, até onde podia, os joguinhos e conflitos bestas.

daí, por vezes era chamado de "fácil", "bobo", "condescendente"... mal sabia quem o chamava assim que ele só era prático.
se sabia o final de uma discussão, de uma conversa, e por aí vai, ia direto até esse.
certo é que gostava de fazer uns dramas de vez em quando, mas só quando desses ele tinha certeza que resultariam em ótimas risadas.

na maior parte das vezes tentava resolver as coisas com mais facilidade.
sem enrolações e discussões bobas.
mas isso não significava que aceitava qualquer cosia que lhe vinha. não mesmo.
tudo era observado e calculado.
e disso, no final, vinha sua avaliação e sua aprovação, ou não.

o fato de tratar com simplicidade coisas que, à primeira vista, poderiam ser complicadas, não quer dizer que aceita qualquer coisa.
mas sim que não quer complicar o que não precisa ser complicado.
isso confundia muita gente, que, de vez em quando, achava que o tinha a mão.
mero engano. ele só via beleza na simplicidade.

terça-feira, 13 de setembro de 2011

# 266


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a pouco mais de 1 mês atrás, um amigo muito querido foi morar em outro plano de existência.
e a morte dele mexeu com muita coisa aqui dentro.
seja pela prematuridade, seja pela forma, seja pela saudade.

enfim, a ida dele me deu uma terrível sensação de mortalidade, de vulnerabilidade.
daquelas coisas que a gente vê acontecer, mas sempre enxerga de longe. quando vem pra perto da gente causa um choque, um baque, que até causa uma certa tontura.

nunca alguém com a minha faixa de idade e do meu convívio havia falecido.
daí parei a repensar muitos aspectos da minha vida mesmo.
pensei que não vale a pena acumular mágoas e rancores. joguei todos numa caixa selada. deixei pra lá.
destes, só restam a memória, que é daí que vêm as lições da vida, mas não remoem mais.

pensei que devo ser mais flexível em minhas atitudes.
e cuidar mais de tudo ao meu redor. mais de mim.
passei a arrumar a cama todos os dias.
que arrumando o externo, o interno logo se ajeita.

tento entender mais o que há por trás das ações das pessoas, suas motivações, mas sem ficar procurando chifre em cabeça de cavalo, porque às vezes um pepino é só um pepino.

desde então, eu tenho tentando ser uma pessoa melhor, pra mim, antes de tudo, e pro mundo.
ver que a gente é humano, que sangra e que dói.
e por isso, temos que ter cuidado com os outros, que também são humanos, que tem sentimentos e que doem também.
esse fato triste me deixou com vontade de ser humano, e de viver intensamente o que tenho agora.

obrigado pela lição, amigo.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

# 265


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ela é uma pedra preciosa. 
o nome já não deixa mentir: Diamante. 
sempre brilha, sempre é bonita, e sempre a mais valiosa de todas as pedras.


mas o que se esquece é que antes de ser diamante, tem que se passar por um trabalho todo árduo e duradouro. 
por vezes, até sofrido, afinal, pra virar diamante, tem que ser carvão antes.
e a gente sabe que pra esse processo acontecer, é preciso de calor forte, calor de vulcão, quiçá.


e é preciso que seja esculpida a pedra pra atingir aquele preciosismo hexagonal que a gente vê nos filmes.
aí, a moça diamante passa por uns tempos tristes. 
só que ela se esquece que é fênix de nascença. 
que já passou por coisas muito maiores que a do momento.


mas a tristeza é legítima, e é real. ela tá triste.
porém, eu só enxergo essa tristeza como aquele vulcão, que tá lá, aquecendo o carvão, pra fazer ele ficar precioso.
e a gente vai esculpir, porque amigo não tem limite de paciência. e se amigo não tem, imagina irmão... tsc tsc. se engana essa moça.


então, minha pedra preciosa, o importante é aceitar todo esse calor que vem trazendo essa tristeza, e saber que a fênix renasce é das cinzas, e que pra ter cinza, tem que ter quentura antes.
você tá no vulcão, nessa forma de carvão que a vida te deixou agora, mas eu sei, tenho a total certeza, que daqui a pouco você vai voltar a ser diamante, com mais brilho que nunca.
daquele de precisar de óculos escuros pra enxergar.
porque é da sua natureza. porque é assim que eu te vejo, e porque é assim o seu destino.


sexta-feira, 2 de setembro de 2011

# 264


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"para cada mais sutil sentimento, para cada mais sutil sensação, para cada situação possível humana, já existe uma canção correspondente".


Adriana Calcanhoto disse isso em um show, e eu não me esqueci dessa frase, que é a mais pura verdade.


e eu que o diga.
tenho  trilha sonora pra tudo na vida.
desde a música pra dormir, pra música de acordar, até a música de lavar louça e lavar banheiro.


e não abro mão.


ando pelas ruas cantando, que é um trem que liberta a gente.
e no fim das contas, ainda ajuda a trabalhar um pouco dessa minha timidez.


uma vez um amigo me viu cantando enquanto andava, e depois contei pra ele que a música era "Madalena".
ele achou graça e agora toda vez que a escuto eu dedico pra ele.


e todo dia é novo, com um sentimento novo, novas sensações. 
às vezes, muitas delas ultimamente, não encontro as palavras certas pra expressar essas sensações pelos meus textos, então eu canto.
que, como disse a Adriana, sempre tem uma música pra contar aquilo por nós.


agora mesmo eu tou aqui, cantarolando alguma coisa que diz por mim o que sinto.
e assim é o tempo todo.


cantemos.

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

# 263


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em setembro se completam dois anos que faço análise, terapia, psicoterapia, enfim, cada hora uso um desses nomes pras minhas sessões de quarta com a Dra. Elenice Maria.
e é gigantesca a diferença na minha vida após ter iniciado a análise.
culpa do meu amigo Lu, que um dia me disse: "Capeta, vou te indicar minha terapeuta, você vai gostar".
e eu, que sempre torci o nariz pra essas coisas de terapia, pensei: "bom, mal não há de fazer", e fui lá experimentar. e não largo mais.


acho nesse tempo aprendi mais sobre mim do que nunca, e fiquei extremamente satisfeito com isso.


tenho aprendido a me colocar no mundo, que não tenho a obrigação de ser perfeito, que não sou salvador da vida de ninguém, e que não preciso estar bem e feliz o tempo todo.
e mais, que o importante na vida é o equilíbrio. em todos os campos, em todos os momentos.
que a gente tem que se manter arrumado, pra vida seguir arrumada.


e que vai ter gente que não vai gostar de mim do jeito que eu sou, e vice versa, e que isso é parte da vida.


aprendi que a auto estima é algo que tem que partir de dentro pra fora, de mim pro mundo, e não o contrário.
que não sou o "bom geral", e que não tenho obrigação nenhuma de o ser.


e que a autenticidade é um diferencial, e que às vezes não é só porque todo mundo tá mergulhando no mar que a água é saudável.
e ainda, que chá de camomila com canela é ótimo pra dormir, e ainda ajuda na glicose e a emagrecer.


e que eu tenho que ter a consciência de que o mundo tá girando, cheio de novidades, e que eu tenho que me preservar e saber que não tou completo, e que nunca vou estar. 
estou em pleno desenvolvimento e aprendizado.


acho que Elenice Maria ficaria orgulhosa de saber disso.
e ia perguntar daquele jeito só dela: "É mesmo, Jeferson?"

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

# 262

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Jamais vou me esquecer daquela voz forte, de trovão.
Nem daquele jeito brilhante e estrondoso - como um raio.
Breno era uma força da natureza. e sempre será.


não sei exatamente o que passava por sua cabeça quando tomou sua decisão.
só sei que seu vazio vai perdurar por toda a minha vida.


o que faço com esse espaço que ficou, daquele moço grande, carinhoso, que me abraçava e sorria quando me via?
que ria comigo pelas coisas mais bobas. e ainda se arriscava a dançar até aquilo que não gostava só pra me agradar?


ah, seu menino! essa sua aprontação foi a maior de todas.
devia ter me ligado, que eu te daria um esfrega na cara daqueles, que você iria se recuperar só no dia seguinte, e me ligar dizendo: "é jéfi, você tinha razão", com aquela voz de fazer tremer a terra.


sei que agora, quando eu ouvir um trovão, eu tenho que prestar atenção, porque entre um e outro vai ter sua voz falando alguma coisa daqueles autores que eu não entendo nada, mas que eu achava excelente você saber citar.
ou então vai ter você falando em tom debochado "êee jeferina", quando eu te chamava de "berenice augusta".


ê Breno, você tinha que aprontar mais essa comigo.. eita ferro.
como que eu fico sem te abraçar forte quando te vejo?


e como que eu escuto outra vez na vida "sleep in" do Postal Service, que era nossa música de voltar pra casa?


putz, meu amigo. você me deixa um vazio grande.
grande do seu tamanho, aliás, maior que você até, de um tamanho que você não saberia medir, nem com as aulas da engenharia.


hoje ganhei um anjo.
mas eu prefiro pensar que você tá dormindo, que nem a música diz: "don't wake me, i plan on sleep in".
pode dormir.


uma hora, quando a gente acordar junto, a gente canta em uma só voz.
vai demorar um cadin, assim espero, mas há de vir.


vai em paz, meu amigo.
vá com Deus.

domingo, 31 de julho de 2011

# 261

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"...então me diz qual é a graça de já saber o fim da estrada quando se parte rumo ao nada?..."


porque o que me fascina é o que não consigo enxergar de longe, aquilo que não posso prever.
o que me chama a percorrer a estrada é o desconhecido. é não saber onde ela vai dar.
e nem onde ficam as paradas pra descanso em seu curso.

se o meu obejtivo é o nada, quero persegui-lo, sem bússola, nem placas, nem guias, nem qualquer coisa que me indique a direção que devo seguir.


é que quero um nada meu. um nada que eu possa encontrar sozinho, ou com a ajuda de quem teve coragem de me acompanhar nessa viagem louca. 
quanto tempo vai durar essa busca? não sei. 
e que graça teria saber? nenhuma. 
quando chegarmos ao nada daí podemos pensar: "Pronto! agora é hora de querer o tudo!"

O título é de "A seta e o Alvo" do Paulinho Moska

quinta-feira, 28 de julho de 2011

# 260

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ele descia sério pela rua.
porque depois dos óculos, parecia que enxergava o mundo com mais responsabilidades, e mais peso nas costas.
adquirira uma sobriedade grande depois que os colocou no rosto, que passou até a pentear os cabelos antes de sair de casa.

e ali ia, com a gravata azul, o cabelo de lado, partido do mesmo modo que o fazia aos seis anos, a pasta na mão e o paletó nas costas.
caminhava pela rua em direção ao escritório, ouvindo música, mas com o rosto carregado de seriedade.

até que se inicia uma música que o fez quebrar aquela expressão pesada e formar um sorriso.
era "na estrada", da Marisa Monte.

sorriu, como se uma força gostosa o tivesse invadido, e lhe faltou ar. teve que afrouxar a gravata.
e saiu cantando baixinho "tchurururururu uô uô uô"..

e nem os óculos seguraram a seriedade nesse dia, que ficou com cara de sorriso o dia todo.
atrapalhou o cabelo, e chegou ao escritório com a cara daquele de antes, só com lentes a mais.

terça-feira, 26 de julho de 2011

# 259

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cinco primeiros encontros.
(não necessariamente na ordem cronológica)


#1

"em cima do muro", era o nome de seu blog.

era 2003, e estava tudo começando. o mundo se abrindo, a vida sendo modificada.
coisas que nunca antes tinham passado por sua cabeça, agora eram sua realidade.
estava em fase de adaptação. e ali, naquele blog, contava como era isso pra si.

conheceu grandes amigos a partir daquele blog, e em um dia de julho recebeu um comentário especial: "você foi roubado, passe no meu blog pra ver."
e ele havia sido roubado mesmo. de sua rotina, de sua normalidade, de sua solidão.
aquele roubo, que era uma descrição de si em um texto, foi a porta de entrada pra um convite de cinema.

e no primeiro sábado de agosto de 2003, depois de uma conversa despretensiosa de mais de 4 horas, depois de assistirem a Tomb Raider, e comerem sanduíche de salsicha com mate couro, de falarem sobre "Memorial do Convento", e da leitura de "porquinho da índia" do manuel bandeira, e um canto no ouvido de "não vá ainda" da Zélia Duncan, se iniciava aquele primeiro namoro, que mudou e muito a sua vida.


# 2

era julho, e eram férias no Rio de Janeiro.

sempre gostou de praia, mar, sol... e diferente de seus amigos mineiros que lá moravam, não abira mão de um passeio à beira-mar.
e naquela sexta-feira foi sozinho.
havia aquela vontade de mergulhar, mas não havia ninguém que pudesse cuidar de suas coisas enquanto ia ao mar.
observador que era, viu que um rapaz que lia uma apostila, um roteiro, pedira a uns desconhecidos para vigiar suas coisas enquanto mergulhava em Ipanema.

pensou: "quem pede para alguém que olhe suas coisas, é confiável pra olhar as coisas dos outros".
e pediu ao moço quando este voltara, que se prontificou a vigiar, com um sorriso no rosto.
e após o mergulho, sentaram-se na mesma toalha, e conversaram até o fim da tarde.
numa festa no dia seguinte, em meio a uma roda de danças, espontaneamente, quase de maneira natural, se beijaram, e ali começou aquela relação boa de carinho. 


# 3

era domingo. almoço na casa de amigos.

todos riam, conversavam bem e comiam.
a porta se abre, e convidados de outra cidade chegam com um amigo.

naquela hora, só conseguia pensar no encanto que aquele desconhecido lhe causara.
pegou sua câmera, e ali mesmo, secretamente, fez uma foto, que foi enviada algum tempo depois com o título "a foto mais bonita que eu fiz".
se aproximaram, trocaram contatos, e passaram a sair como bons amigos por algum tempo.
seu coração se confundia, pedia uma revolução.
e assim, numa sexta feira de setembro, ambos confessaram que sentiam a mesma coisa.
se apaixonaram.
e com um "fique mais, que eu gostei de ter você, não vou mais querer ninguém agora que sei quem me faz bem", o namoro se iniciou.


# 4

eram 14hs da tarde. estava em seu escritório.

não haviam clientes marcados praquele dia, então estava, de certa forma, à toa.
de repente, batem à porta do escritório.
e num susto, ali estava alguém que não conhecia pessoalmente.

fascinou-se, e saíram em busca de um lugar pro outro morar.
passaram o resto do dia rodando pela cidade.
foram descansar. compraram um vinho, e na maior das despretensões, se encantaram.
e assim iniciava-se um novo romance.


# 5

era 31 de dezembro. ele passaria o reveillon na casa de uma amiga.

seu telefone toca ao fim da tarde, e escuta uma pergunta: "ei, onde você vai passar a virada de ano, posso ir com você?"
era um amor antigo. 
e assim, sem planos, foram para casa da amiga dele.
e na virada do ano, na hora em que as pessoas se beijam, se entreolharam, e sem dúvida, algo foi mais forte.
beijaram-se, e foi como se o tempo não houvesse passado.

entre sorrisos, comidas, e músicas ao violão, ali se declararam de amor novamente, e recomeçara aquele romance.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

# 258

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e ele gostava de arte, de cinema, de música, de livros, de deitar-se embaixo de árvores, e de all star.

em algumas tardes, ficava quieto, de olhos fechados, se escondendo das pilhas de papel que o cercavam, e colocava pra tocar alguma de suas moças preferidas no rádio, e ali, naquele canto de tempo, cantava baixinho as letras das músicas escolhidas, se imaginando noutro tempo e lugar.

e gostava da lasanha da sua mãe, quase o mesmo tanto que gostava da que sua avó fazia, ela era meio adocicada, ele dizia.
e de suco de caju também, e de comer melancia de garfo e faca, que era pra não dar muita sujeira na cara.

gostava ainda de discutir consigo mesmo, como se estivesse na análise, fazendo ponderações graves a seu respeito algumas vezes, e noutras, caindo naquelas gargalhadas enormes, que chegam a doer a barriga.

e se deliciava ao ver outras pessoas dançando, de um tanto, que às vezes parava só pra vê-las. preferia as que dançavam do seu jeito, que as que faziam coreografias.

sorrisos de canto de boca se formavam em seu rosto, e um tanto de alegria o invadia por motivos simples e bobos aos olhos dos outros.
e assim, de graça, sem pagamento ou motivo forte. 

e às vezes, o escolhedor de música de seu celular lhe presenteava, na mais pura aleatoriedade, com aquela música que melhorava seu astral, naqueles dias mais cinzas, e assim, por conta de uma música qualquer, se sentia bem.

o mero detalhe daquela música específica tocar lhe deixava explosivo, no sentido de contente, e assim, sem perceber, ele cantava baixinho a melodia, sem saber se havia ou não alguém olhando prali.

ele não ligava, porque gostava das coisas simples.

terça-feira, 19 de julho de 2011

# 257

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hoje de manhã eu passei no mercado pra comprar algumas maçãs.
e como sou chato pra comprar maçãs.
não gosto que tenham nenhuma marca mais escura, nenhum machucadinho ou buraco.
a maçã pra mim tem que ser aquela com a casca lisinha, perfeita, sem marcas.

daí comecei a rir sozinho, nessa hora da escolha, porque fiz uma comparação da escolha das maçãs com a escolha das pessoas.
não funciona assim. a gente não pode querer que as pessoas não tenham marcas, cicatrizes. 
ninguém saiu do barro, moldado direto pra gente.
todo mundo tem história, passado, marcas. e isso é até saudável, porque experiência é uma qualidade.

não há como exigir de alguém que não tenha suas mágoas, marcas ou traumas. todos temos. 
o negócio é como saber lidar com isso, sem peso, sem medos. o que é bem difícil, aliás.
como não temer aquela comparação com o romance anterior? como não inventar até mesmo uma pseudocompetição com o ex, pra querer disputar o cargo de mais inesquecível?
não aprendi ainda.

mas aprendi que passado existe pra todo mundo. é história, e não deve ser temido, não deve ser evitado, mas também não deve ser lembrado o tempo todo.
o passado é o que eu, você, e o próximo seremos amanhã. 
todo mundo será.
só assim se cria um novo presente.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

# 256

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ele tinha 21.
e era de leão.

numa obra do acaso, numa quase brincadeira, conseguiu abalar a zona de conforto do outro.

o outro, a muito se acostumara àquele estado de suspensão emocional. não se deixava mover por pequenas centelhas, e nem tinha vontade de começar nada do zero.
imaginava que o melhor seria se essas coisas de romance pudessem pular aquela fase do conhecimento e ir direto praquele momento em que ambos já se conheciam e as coisas poderiam acontecer com toda a segurança do mundo.
por muito tempo não deixava ninguém invadir seu espaço, que era só seu, e sentia até certa preguiça de deixar que isso acontecesse.
já havia passado por muita coisa no passado, que lhe cansaram de certa forma, e adormeceram toda aquela vontade de se doar.

e assim estava bem, sem procura, sem caça, só consigo mesmo. 

mas quando aparece um leão, é impossível que não se note, e seu rugido pode acordar sensações adormecidas.
e assim o foi.

após muito tempo sentiu vontade de novo de cuidar de alguém, de esperar. 
de preparar comida especial e passar tempo junto.
sentiu vontade de ser plural, de se dedicar e lembrou como é boa essa sensação, essa vontade de deixar alguém fazer parte de sua vida.
e assim o fez, e assim o foi.

o leão veio, rugiu, o despertou do estado de suspensão, bagunçou sua zona de conforto, e conseguiu rachar o muro de proteção.
mas o leão se foi. 
a sensação fica, e o despertar pro mundo permanece.
é muito importante que se ouçam rugidos às vezes.