quarta-feira, 11 de abril de 2007

# 24

:: Da primeira vez de respirar


E abri os olhos antes de qualquer coisa. Ainda não sabia o que era nada, sem nomes, sem formas... tudo podia ser o que eu quisesse, mas ainda não queria nada, só abrir os olhos.

Depois dos olhos, foi a vez da boca, o que é até engraçado de se dizer, porque naturalmente a boca se abriria antes para que se pudesse respirar. Eu disse naturalmente. E não estou falando de natureza, estou falando de mim. Pois bem, depois de abrir os olhos, e ver o mundo que ainda não se chamava mundo, abri a boca, e pela primeira vez o ar me invadiu, pela primeira vez respirei, e me senti como um balão desses de criança, me inflando aos poucos, e essa sensação me era divertida.

Ao mesmo tempo que o ar me enchia, me ria por dentro, e era como se bolhas de sabão me invadissem e de repente o desespero: o que fazer com tanto ar? Que desse momento em diante já se chamava ar. Ainda não aprendera que da mesma forma que entrou ele teria que sair. E aí sim o natural me tocou, e meus pulmões expulsaram aquele invasor que me proporcionou tanta alegria naquele precioso momento.

E aí já era tarde... um vício por ar me tomara. E depois da primeira vez não quis mais parar. E tornei-me alguém que respirava, e o melhor, que gostava disso.

Os respiros então começaram a variar de formas, uma hora eram fortes de afobamento, noutra leve, devagarzinho que era pra não acordar ninguém, e ainda tinham os sapecas, que não podiam ser ouvidos, mas que se deliciavam. E tornaram-se por vezes suspiros de emoção, de vontade, de inveja até. Mas jamais a sensação daquele primeiro respirar fez-se presente outra vez.

2 comentários:

Anônimo disse...

Da primeira vez é mais gostoso.
Você sabe se gosta ou não, se não gosta não faz de novo... Mas se gosta, quer mais, sempre que der.
O respirar com dúvida é que é ruim.
Abraço.

Thaís disse...

Fala a verdade pra mim, isso é seu? Rs... Por que que só você nasceu escritor nessa nossa família, héim? Eu também quero! Te amo, tá? Mas às vezes você me mata de inveja! Beijo enorme!