domingo, 29 de abril de 2007
# 28
e lá no fim do céu, pelo menos até onde o alcance de sua vista alcançava e chamava de fim, raios cortavam o céu anunciando uma possível chuva.
mas ele pensa: - o céu tem estrelas, e vovó diz que quando tem estrelas não chove. e se de um lado um monte de nimbus cobre o vestido de estrelas daquele dia, do outro elas reluzem contentes, brincando de desenhar suas constelações e cirandando com a lua minguante, que a esta altura, não minguava, sorria, com o baile das estrelas.
e pensa outra vez: - devia ir pro lado das estrelas... mas meu destino de hoje é encontrar os raios, mas como eles estão no fim do céu, não devo chegar até lá, e com sorte, quando lançar a cabeça pra trás, verei uma estrela que será só minha.
e sai, com um pouco de receio, mas lá se vai rumo a seu destino.
e nem uma gota de chuva se fez.
terça-feira, 24 de abril de 2007
# 27
e ali, na sombra da árvore, deitado sob o céu azul mais azul que pôde se lembrar, pensou no infinito.
e se lembrou de como era o barulho do silêncio, quase confudido com paz.
estava tão em paz e sintonia consigo mesmo que, sem perceber, fechou os olhos e cochilou por algumas horas, à sombra daquela árvore, e nem mesmo as formigas alaranjada que ali moram o incomodaram.
era como se parte da àrvore se tornasse e gente a árvore tornasse em troco.
quando acordou sentiu-se natureza, quase com a sensação de seiva em suas veias, e o oxigenio lhe era combustível do mais puro, livre da fumaça dos malditos cigarros.
por instante deixara de ser gente.
e isso nem era ruim.
segunda-feira, 23 de abril de 2007
# 26
e daí o piano anuncia a nota que vai chegar em seguida.
é um barulho bom, que bate leve no ouvido da gente e faz vontade de rir.
mas não é o piano que chama a atenção em si, apesar de que aquele móvel preto grande seja bem chamativo por sua postura de coisa brava, mas sim uma certeza de que a melodia uma hora cessa.
e é o que vem depois do cessar do som que me atiça... que faz remoer o bichinho da curiosidade que me habita: que será que vai vir?
aplausos? pode ser que sim...
vaias nunca. nunca mesmo, porque piano é coisa chique, e gente chique não vaia porque mesmo não entendendo nada do que ouviu, tem que passar a impressão pras outras gentes chiques ao redor de que entendeu tudo e achou maravilhoso, e se possível, deixar até rolar uma lágrima falsa, só por ser chique.
mas voltando ao mistério...
por que o piano tem que ter um som assim.. que me atiça? não sei. só sei que gosto de ouvir e que termine logo... pra eu achar logo os segredos pós-notas.. e a maior delícia é que não se repetem.
ah. quero ouvir a abertura da turma do charlie brown e do Snoopy, e pensar em ser um menininho que arrasta um cobertor azul pra perto do outro, só pra ouvir um piano.
=D
quarta-feira, 18 de abril de 2007
# 25
quando eu me vejo em momentos de desbaratamento das idéias, perdido no meio do caos que é minha cabeça, eu olho pro teto.
o teto do meu quarto não é dos tetos de quartos de rapazes de 25 comuns. nele tem estrelas, luas, discos voadores...
então, meu escuro nunca é escuro.
quando apago as luzes, esses astros brilham fosforescentes naquela parede deitada acima da minha cama e às vezes, até me assuto com eles.
então pra mim não há dias com noites nubladas. minhas estrelas não temem as núvens.
e olhar pra esse teto divertido, me faz pensar: "é.. as coisas não são tão ruins."
e durmo um sono de poliana.
quarta-feira, 11 de abril de 2007
# 24
:: Da primeira vez de respirar
E abri os olhos antes de qualquer coisa. Ainda não sabia o que era nada, sem nomes, sem formas... tudo podia ser o que eu quisesse, mas ainda não queria nada, só abrir os olhos.
Depois dos olhos, foi a vez da boca, o que é até engraçado de se dizer, porque naturalmente a boca se abriria antes para que se pudesse respirar. Eu disse naturalmente. E não estou falando de natureza, estou falando de mim. Pois bem, depois de abrir os olhos, e ver o mundo que ainda não se chamava mundo, abri a boca, e pela primeira vez o ar me invadiu, pela primeira vez respirei, e me senti como um balão desses de criança, me inflando aos poucos, e essa sensação me era divertida.
Ao mesmo tempo que o ar me enchia, me ria por dentro, e era como se bolhas de sabão me invadissem e de repente o desespero: o que fazer com tanto ar? Que desse momento em diante já se chamava ar. Ainda não aprendera que da mesma forma que entrou ele teria que sair. E aí sim o natural me tocou, e meus pulmões expulsaram aquele invasor que me proporcionou tanta alegria naquele precioso momento.
E aí já era tarde... um vício por ar me tomara. E depois da primeira vez não quis mais parar. E tornei-me alguém que respirava, e o melhor, que gostava disso.
Os respiros então começaram a variar de formas, uma hora eram fortes de afobamento, noutra leve, devagarzinho que era pra não acordar ninguém, e ainda tinham os sapecas, que não podiam ser ouvidos, mas que se deliciavam. E tornaram-se por vezes suspiros de emoção, de vontade, de inveja até. Mas jamais a sensação daquele primeiro respirar fez-se presente outra vez.
domingo, 8 de abril de 2007
# 23
e no pingo de chuva que atingiu minhas costas naquela tarde de ontem senti um arrepio.
sei lá se o pingo atingiu algum ponto específico das minhas costas que pode provocar arrepios, ou se foi só pelo fato de ser uma gota de água gelada que eu não esperava. só sei que senti um arrepio.
e isso nem foi ruim.
no momento eu achei tão bom o susto que um sorriso me alcançou e caí em gargalhada de tal forma que tive que parar aquela corrida de quem estava atrasado pra rir por alguns segundos.
e achei engraçado a forma como aquela coisa tão boba quanto uma gota d'água me arrancou aqueles momentos de alegria, é coisa que a gente não entende.
e quer saber? se eu passar a entender, não vai ter mais graça.
quarta-feira, 4 de abril de 2007
# 22
e os olhos estão pesados... uma lágrima ou outra escapa deles, nada passional, só sono mesmo.
e embora esteja claro que não conseguirá ficar ali por mais uma hora, como queria, pra fazer sei lá o quê, ainda insiste.
tolice.. dali a uns minutos vai desistir e correr pra cama, onde vai ter o trabalho de jogar pelo chão as roupas recém passadas, pra seu desespero posterior.
assim que deitar, reinicia o ritual de todos os dias: pega seu chá de hortelã ou erva doce, vai tomando aos golinhos pra não se queimar, e sabe que é só se deitar que o sono some.
liga o rádio com um cd mais tranquilo, pega a revistinha de Sudoku e começa a encaixar os numeros nos quadrados, e quando se assuta, já desligou a luz, jogou a revista pelo chão e já estava dormindo.
os minutos antes do sono têm servido pra pensar: "puxa, daqui a pouco tenho que acordar...."
segunda-feira, 2 de abril de 2007
# 21
- sim, é hoje!
- o que que é hoje menino?
- é hoje o dia novo que nasceu.
- uai, mas é normal, todo dia nasce.
- não, mas hoje é especial.
- gente... o que tem de especial?
- tudo! não tá vendo?
- o quê?
- ah, é coisa que não sei te explicar... coisas simples.
- tipo o quê?
- olha só.. o vento tá soprando mais leve, tem uma flor nova naquela àrvore, os passarinhos estão piando mais...
- eu hein.. vc tá ficando doido?
- não.. eu tou ficando simples.