quinta-feira, 22 de março de 2007

# 7

>>> de quase 1 ano atrás


Belo horizonte, 04 de maio de 2006

CONSIDERAÇÕES SOBRE A QUASE MORTE

“... quase morri a menos de 32 horas atrás ...”

(um dia perfeito – legião urbana)



E é assim, com um estouro só audível em sua intensidade verdadeira por aqueles que estão na iminência de levar um tiro, que uma vida pode se esvair.

Um segundo só já basta.. não precisa esperar mais nada. Com um único movimento acaba-se a luz, a respiração, a vida...

Ontem passei por uma situação assim, ou melhor, quase, graças a Deus.

Nunca pensei que estaria assim tão atemorizado frente à morte.. pôxa, logo eu que sempre “quase morro atropelado” em todas as esquinas, quase todos os dias. Mas foi diferente.

Estar frente a frente com uma arma não é a mesma coisa que um “fedaputa” gritado por um motorista no trânsito. É uma sensação que ainda não tinha sentido, o verdadeiro temor. E logo eu, o valente.

Num segundo que foi mais duradouro que muitas horas que se contam por aí, eu vi minha vida toda passando por mim num carro azul e dando tchau. E ela apontava pra mim e me dizia: você tem me aproveitado mesmo? Você tem se aproveitado de mim? Tem usufruído tudo o que posso te dar?

E eu olhava perplexo pra ela, naquele vestido verde, - ora bolas, a Vida é mulher – reclamando de mim aqueles minutos que perdi me preocupando com coisas pequenas, aqueles minutos que perdi pensando no que os outros pensavam de mim...

E lá estava eu, olhando pra Vida brava e sem conseguir dizer nada. Enquanto isso a ação continuava no ônibus nem tão lotado (era bom demais pra ser verdade) e a arma continuava ali do meu lado, mas era ainda aquele segundo paralizado, só eu e Vida e Vida e eu.

Não sabia o que dizer... fazer uma promessa de que aproveitaria melhor a partir dali? Não... já tinha gritado “carpe diem” pelo mundo inúmeras vezes antes... e sempre voltava ao estágio inicial. Me arrepender das coisas que já fiz? Não, eu não sou tão bonzinho assim também, afinal de contas, me diverti bastante fazendo algumas daquelas consideradas arrependíveis.

Ah, como não sabia o que dizer, optei pelo silêncio. E deixei a Vida me mostrar mais coisas sobre mim mesmo, mostrar meu lado covarde, meu lado valente, meu lado triste, o feliz e aquele que fingia ser um pouco de tudo isso de vez em quando.

Sei que de repente olhei praquilo tudo e vi o quanto a Vida é passageira - ela tava sentada ali do meu lado no ônibus - e que poderia terminar de repente, estupidamente.

Planos? Ah, pra quê faze-los? Quase que tudo o que planejei pra minha vida inteira ia embora com uma bala. Daí percebi o quanto de tempo que perdi os fazendo, uma tristeza, um vazio, me irrompeu e Vida abriu finalmente um sorriso, como se tivesse chegado a seu objetivo.

O segundo passou. A arma estava lá, eu na frente dela, o assaltante atrás. Bum! Fecho os olhos. O ônibus pára, mas ainda não abro os olhos... será que to vivo? Pensei.

Três caras correm pela rua e pela janela do ônibus chove um chip de celular, o meu. Eu estava vivo.

A sensação de quase morte me perseguiu a noite inteira, arrepios, calafrios, passou.

E agora? E a Vida? Ah.... guaraná.

Um comentário:

Thaís disse...

Barulho de tiro na Tv é muito ais assustador... Ao vivo parece estalinho de São João... mas... prefiro não ouvir de novo... no eu caso, foram a exatos 3 anos! E o tempo vai voando! Nem te conhecia ainda....