terça-feira, 21 de dezembro de 2010

# 247

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|| do balanço anual


em uma avaliação apertada do meu ano de 2010, o resultado a que chego é que foi um ano bom sim.
um ano de mudanças. muitas delas.
mudei de casa, mudei de festas, mudei de trabalho, mudei de grupos de amigos, mudei meu corte de cabelo, mudei meu jeito de me ver.
e nenhuma mudança vem sem uma grande revolução, e assim foi o que ocorreu.
em um ano em que passei a me entender mais, a aprender mais comigo mesmo, a me entender e a me gostar mais, eu tive que fazer algumas escolhas em prol da minha satisfação pessoal, por mais egoísta que isso pudesse soar.
e nada tenho a reclamar até então.
um ano positivo.
me aproximei de pessoas fantásticas, com as quais eu aprendo muito, e rio, me divirto, sem peso, numa leveza que eu não sentia a tempos.
com a mudança de casa, pude receber amigos em casa com mais frequência, e passamos a ter tardes/dias/noites ótimas, com muita conversa, risos, e tudo o mais.
me distanciei de outras pessoas, de forma natural, e não me arrependo.
passei a dar mais valor a mim e ao meu trabalho, sendo reconhecido e reconhecendo que sou um bom profissional sim.
me aproximei mais da minha família, que cresceu com a chegada da Julinha.
e, por incrível que pareça, foi o ano em que menos me apaixonei pelos outros, mas que mais me apaixonei por mim mesmo, tendo um olhar crítico sempre.
tentei distribuir todos os sorrisos sinceros que pude.
fui o mais transparente possível com todos.
e acabo o ano com uma sensação de que 2011 será um dos melhores anos da minha vida.
assim espero.

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

# 246

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e ele acorda ouvindo uma de suas músicas favoritas, assim, de graça, presente dado pela vida, que apareceu no shuffle do seu windows media player.
era seu aniversário, e ele, que já tem o riso solto, sorria mais que nunca.
se levanta da cama e dança, tem vontade de dar cambalhota, mas já tem 29, e suas articulações já não são tão boas. não se desanima.
ri, e se olha no espelho, tentando se lembrar, debaixo daquela barba toda, de como era seu rosto a 10 anos atrás, e percebe que já não faz idéia, que talvez não tenha mudado muito, mas que aquela barba não existia, ah, isso não existia.
e seu dia corre bem, com aquela alegria que ninguém tirava. era seu dia. os amigos ligavam, os primos, as tias, as irmãs. foi ver a avó, e ela, quando o viu, em vez de esticar a mão pra habitual benção, abriu os braços e estampou o sorriso mais gostoso do mundo no rosto, e ele foi lá abraça-la, tão frágil, mas tão dele. 
entre presentes e presenças, entre músicas e textos, seu dia foi um daqueles, em que o mundo era dele.
e no ouvido só ouvia "parabéns eu, parabéns eu".


segunda-feira, 15 de novembro de 2010

# 245

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e ele sempre gostou de romances.
sempre. 
e gastava seu tempo imaginando como seria o próximo. se seria algo como uma tarde sentado nas pedras do arpoador, tomando água de côco e vendo as ondas baterem naquelas rochas todas, ou se seria algo como uma chuva grande, que molha tudo e a todos, porque não cai em uma só direção, que deixa as meias molhadas por dentro do sapato, mas que pára pro sol secar tudo, só pra chover de novo mais tarde.
e assim se divertia, pois já havia passado por ambos os tipos de romance.
e os dois haviam lhe dado felicidades e lições, bem como tristezas e decepções.
o que esperava agora é algum coisa que o impressionasse, que mexesse com toda aquela estrutura, virando o mundo de cabeça pra baixo. 
nem calmaria, nem caos, mas aventura, mas coisa inédita, diferenciações.
e enquanto esperava por tal aventura, se contentava com os romances alheios, esses dos filmes, que nem sempre terminavam bem, mas eram vividos.


domingo, 14 de novembro de 2010

# 244

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ATO I
 
então, em um momento da festa, começa aquela música que ele tomara pra si, aquela que fala que mesmo sem ser notado, ele continuava a dançar, "dancing on my own".
mas o engraçado é que não era só ele.
quando olhou ao redor, viu que outras pessoas dançavam também, de olhos fechados, como se sentissem a música. 
e isso foi bonito de notar. 

ATO II

enquanto a moça cantava que os dias de cão tinham se acabado, o menino estava lá dançando, de olho fechado.
ele batia palmas, de um modo que parecia que a música era pra ele, e que não tinha mais ninguém ali naquela festa. 
e pulava, mas pulava tanto, que parecia que as moscas de sua blusa saíam voando por aquele lugar de dançar. 
era bem bom de se ver. 

ATO III

"music makes the people come together"

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

# 243

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dizem que se deve ter cuidado com pessoas como eu.
intensas, sem medo das gentes, sem irritações constantes e freios de traumas.
espontâneas e tímidas ao mesmo tempo, românticas e atrevidas, sem fazer planos pro amanhã, mas torcendo quietinhas para haja um.
que não desistem das futuras vivências por conta das vivências passadas, que sabem que cada pessoa é única, tanto em seus defeitos, quanto em suas virtudes.
sonhadoras e destemidas, com riso solto, e um charme que atrai aquele monte de amigos pra perto. 
de múltiplas atividades, completamente distintas, porém sem perder a essência principal, que é sua personalidade.
leais a seus amigos, até que desmereçam tal lealdade, e que não cultivam amizades por pura e simples tradição ou necessidade.
que se apaixonam intensamente e sem limite, que se deixam levar pela vida, e que não se destroem ao fim daquela vivência.
que olham nos olhos quando falam, e ainda assim, mantém um mistério em torno de si.
extremistas às vezes, mas que conseguem deixar o rancor de lado na maioria das vezes.
doces, porém perigosas, que são divertidas e dignas de respeito, num só momento.
dizem que se deve ter cuidado com pessoas como eu.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

# 242

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e no fim, continuo sendo o mesmo de sempre.
aquele que muda, mas mantém a essencia.
não adianta minha altura crescer,
meu peso diminuir ou aumentar,
minha voz enrouquecer ou sumir.
no fundo, não passo de um moço vestido de abelha, 
(que nem no clipe de No rain do Blind Melon)
que desde menino, voa voa, fugindo da chuva,
'pra manter as bochechas secas'
e à procura de girassóis.

let it be.
deixa isso ser.

a gente só tem o universo pra percorrer voando.
com essas asas de abelha, 
cantarolando pra chuva não vir.

e no fim das contas continuo o mesmo de sempre.
aquele do sorriso besta, e de cabeça pra baixo.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

# 241

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|| lá do baú



traduções do rei.

"eles vao ver a gente voando numa altura filha da puta
"desce daí", eles vao dizer
mas tudo parece tao perfeito lá de cima
"desce daí", mas a gente vai continuar

"Eu acho que é um sinal"

essas pintinhas no seu olho sao imagens de espelho, e quando a gente se beija, 
elas parecem perfeitamente alinhadas
Eu tenho que supor que foi Deus mesmo quem fez a gente de barro, 
com esse encaixe de peça de quebra-cabeças

A verdade é queisso pode parecer doido, 
mas são coisas assim que pipocam nessa minha cabeça bagunçada 
quando eu acho que vou morrer de saudade
quando voce tá na estrada, muitas semanas de shows, 
e vc procurar no radio espero que essa musquinha te guie

Eles vão ver a gente voando numa altura feladaputa, 
"desce daí", eles vao dizer. Mas tudo parece perfeito quando a gente vê de longe. 
"desce daí". mas a gente não desce...


|| The postal service - such great heights
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segunda-feira, 25 de outubro de 2010

# 240

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Eu não estou em lugares comuns.

E isso é certo, assim como o vento não tem cor, mas pode colorir o mundo com as folhas que carrega.

Talvez no bater de asas de uma abelha eu possa estar escondido, tentando fugir de carona naquelas costas amarelas e pretas.
Mas não consigo ir muito longe.

Assim como estátuas de areia, me paraliso em beira-mar logo me desfaço com a força das ondas.
Isso tudo pra logo vir uma criança e me dar a forma que quer que eu tenha de novo.

Eu não estou em lugares comuns.

Posso estar no pó que cai da estrela azul, recém nascida no universo e pronta pra brilhar.Caio em Terra e ninguém percebe, só procuram a luz.

Definitivamente, eu não estou em lugares comuns.

Me procure embaixo da folha mais seca do outono, de onde posso flutuar no ar em sua queda, mesmo por alguns instantes, mas sentindo a sensação mais perfeita que poderia ter.

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simple things - belle and sebastian

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quinta-feira, 21 de outubro de 2010

# 239

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- agora me conte, o que você tá sentindo.
- eu, eu.. eu tou sentindo... aliás, eu não tou sentindo. tou sentindo nada.
- você sabe que eu te pergunto é de amor né?
- sei sim, mas o amor que eu tenho aqui, agora, é só meu. não tem novo, não tem antigo, não tem nenhum alheio que me move. quem que eu tou amando agora sou eu. e ao mesmo tempo, é a mim que eu odeio também.
- mas... mas como é isso? logo você, que sempre está dando o seu amor por aí...
- não sei explicar. acho que aprendi a descansar isso em mim. não tou amando, de amor romântico, a ninguém por agora. não sei como acordarei amanhã, mas nos últimos tempos, meu amor sou eu. e só eu. e tou vendo o tanto que esse amor é de verdade, porque o que tem de defeito que eu tenho enxergado não se conta. e amar é isso não é? de achar qualidade e defeito, e ainda assim os defeitos serem lindos.
- prossiga.
- não sei colocar isso em palavras, mas é mais ou menos assim: não tou de porta fechada, não tou fechado pra balanço, mas não tou remexido. tou em suspensão, e se chegar alguém que consiga me tirar desse estado, eu posso vir a me apaixonar, e viver toda aquela história nova. mas se não vier, não tem problema, eu vou seguir me amando. algo por aí.
- e você não se sente vazio? não sente falta? não tá carente?
- sinto sim, sinto falta, carência, saudade... mas não sinto também, o que é estranho. eu sinto é vida, sabe, eu sinto que nenhuma dessas coisas é capaz de me impulsionar... nem saudade, nem carência, nem falta e nem vazio. eu tou bem. bem sim. 
- você se diria autossuficiente?
- jamais. mas não tou dependente do amor dos outros, de uma noite de sexo, de uma compaixão qualquer... eu tou tranquilo do jeito que tou.
- interessante. bem, nossa sessão termina por aqui. boa noite.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

# 238

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e na quarta feira reassisti dois dos meus filmes preferidos na vida.
e foi aquela explosão de coisas aqui dentro que sempre me impressiona.
aliás, é engraçado como músicas, filmes, séries, textos, enfim, é impressionante como essas coisas causam esse efeito extasiante em mim.
 
nesse caso, vendo "antes do amanhecer" e "antes do pôr do sol" eu tive um misto de vontades. daquelas de fugir, de me esconder, de gritar, de rir.. ah, um monte de sensações, principalmente por conta de que eu me identifico com várias passagens.
 
a intensidade dos dois personagens, cada um a seu modo, é muito parecida com a minha, com o modo com o qual eu encaro tudo o que eu faço e vivo.
e acho.
uma delas é essa fala de Jesse:
 
"You know what's the worst thing about somebody breaking up with you? It's when you remember how little you thought about the people you broke up with and you realize that is how little they're thinking of you. You know, you'd like to think you're both in all this pain but they're just like "Hey, I'm glad you're gone"."
 
e outra é uma da Celine, quando ela diz que não consegue se desfazer de ninguém que passou por sua vida, porque é alguém que gosta de pequenas coisas, e todo mundo é cheio de detalhes próprios, de sutilezas únicas.
 
 enfim, é engraçado notar que quando se explode essa sensação no peito, essa de sentir algo que a gente até se esquece que existe, essa de sentir, a gente percebe que anos vêm, anos vão, e a gente continua assim, sentindo. e nem é sentindo algo específico, é só sentindo mesmo, no sentido de ser humano.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

# 237

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e mais uma vez ele encaixotou suas coisas, dividiu suas roupas entre malas e sacolas, e carregou tudo pro caminhão de mudanças.
e lá ia pra um novo endereço.
mas pra ele, dessa vez, não era uma simples mudança de endereço. a sua mudança era quase total.
estava mudando de hábitos, de trabalho, de focos na vida, de jeito, e até mesmo mudando alguns amigos.
parecia que havia passado um furacão na sua vida, e carregado uma parte bem grande de tudo aquilo que ele havia construído até então, o que não mexeu só com seus pertences, mas com alguma coisa dentro dele mesmo.
quem o vê hoje diz que ele parece mais calmo, mais sereno, e ele mesmo reconhece isso nele.
já não é mais aquele turbilhão de gente, que tem que fazer duzentas e vinte e três coisas ao mesmo tempo. ele está mais focado, mas determinado, e até mais sincero consigo e com os outros.
quando pisou na casa nova já percebeu que ali as coisas iam ser bem diferentes. seu quarto era imenso, pelo menos o maior em que já viveu, e que não podia deixar suas coisas jogadas.
foi ao mercado, comprou um pé de pimenteira e outro de arruda, os alojou na sala da casa, lembrando que sua avó havia lhe dito que era pra espantar "mau olhado", não era dos mais crentes nessas coisas, mas não custava nada.
descarregou as caixas, colocou sua cama no canto da janela, e nela deitou-se, olhando pra tudo aquilo ao redor, que ainda era uma grande bagunça, mas sabia que estava em casa.
e assim, de pouco em pouco vai se arrumando, de ajeitando, reconstruindo cada pedaço levado pelo furacão.
e o melhor, sabe que toda mudança é pro bem, afinal, nunca se ouviu dizer de borboleta virando lagarta.
é evolução.

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

# 236

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... e assim, depois de tudo o que aconteceu, ele olha pro mar e fala: 

- Pra quê tanto sal nas suas águas? Isso faz com que meus olhos fiquem ardendo e que eu precise urgentemente de uma ducha quando chego em casa. 
- Não sei, responde uma voz que não dá pra saber de onde vem. 

E assim ele volta a caminhar só pela praia se divertindo com as pegadas que seus próprios pés deixavam na areia semimolhada por aquela onda que acabou de voltar pra casa. E ele pensa: Ondas! 

Daí corre em direção à espuma que ainda resta na beira do mar e mergulha como se golfinho fosse e se admira com a visão de seus próprios pés na areia... 

terça-feira, 14 de setembro de 2010

# 235

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"save the last dance for me"


e é bem assim. eles já se conheceram, o mundo já girou. a eles permaneceram junto nesse tempo todo, juntos, embora sempre cada um do seu canto.


mais se desencontraram que encontraram, mas mantiveram contato quase que diário por todo o tempo, exceto por uma pequena pausa de sumida de um deles a uns anos atrás. mas foi tão pequeno o tempo, que eles nem contam.


e se amam sim, de formas diferentes, talvez, mas o fato é que um se tornou essencial ao outro. e ambos crescem nesse tempo.


não são um casal, aliás, são algo um pouco melhor que isso: são íntimos.


um dia, numa das brincadeiras do destino, podem vir a se tornar um desses casais que vão ao cinema juntos e ficam de mãos dadas vendo o filme, saem pra um café como dois apaixonados, e dividem a mesma cama ao fim da noite.


por hora, são dois que se amam, e como se amam, mas não da forma convencional.
a verdade é que, toda vez um deles vê o outro, canta esperançoso e baixinho: "so darling... save the last dance for me", na versão no Bublé.

terça-feira, 7 de setembro de 2010

# 234

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das cartas não mandadas.
03 de setembro de 2009.



eu fico cá pensando e caí por mim: nunca te escrevi uma carta de verdade.
não, não contam os bilhetes trocados no trem, escritos em papel azul, na volta daquela viagem de Ipatinga.


eu falo de cartas, daquelas que começam com "Belo Horizonte, dia tal do mês tal do ano tal".
e acho que já é um pouco tarde pra escrever alguma né.. depois de tanto tempo, de tantos acontecimentos.
na carta eu falaria do clima do dia. da temperatura, que reflete também o estado emocional. se fosse agora, eu diria que meu céu está se abrindo depois de uma longa temporada de nuvens carregadas.

bom, o importante é que é impressionante. não sei se sou eu que tenho uma propensão de viver numa eterna roda gigante, que gira gira gira e acaba voltando no mesmo lugar, mas eu tenho sempre a sensação que não me desliguei de verdade de você. por mais que eu quisesse ter acreditado nisso.

hoje tudo é mais claro, eu ando mais sereno, e com isso, os pensamentos me levam a analisar as histórias antigas sob uma outra ótica, que eu não me permitia enxergar antes.
hoje eu vejo que nosso fim foi num momento de turbulência, de precipitação, de orgulho ferido, diria.. eu não entendia tão bem as coisas como hoje. era quase egoísta.
e isso já não importa hoje.. depois desse tempo que passou. muita coisa aconteceu, muitas pessoas apareceram, desapareceram, se misturaram, enfim.. a vida seguiu seu curso. 

e se eu fosse te escrever uma carta hoje, contando os acontecimentos que se passaram desde aquele tempo até agora, precisaria de umas 20 folhas de papel, pelo menos, pra chegar num final com algo do tipo "mas que você ainda mexe  comigo" ou até mesmo "pra passar isso tudo e dar por mim que amor não morre".


o negócio é que hoje eu estou bem mais tranquilo, mas no geral, tem dias em que é proibido ouvir "Ainda Bem" da Vanessa da Mata, porque eu fico pensando que sei sim "como seria essa vida"... e nisso o olho ia encher de água. 

e pensar que eu nunca te escrevi uma carta.. hoje seria desnecessáro. talvez você nem lesse.. talvez rasgasse assim que recebesse. talvez a guardasse.


e também, eu não saberia como dizer as coisas sem soar temperamental demais. 


é.. meu orgulho está de férias, permanentes, talvez, pelo menos assim espero, e isso é tão bom porque me permite admitir certas verdades.


e o tempo não fez passar. o tempo foi só perdido.
e é tudo saudade. 
e hoje, 03 de setembro de 2009, já seriam 05 anos.
fica na gaveta, Vanessa da Mata, hoje não é seu dia.

atenciosamente.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

# 233

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e nos últimos tempos a busca tomou conta aqui.
a busca por uma casa nova, pra ser mais específico.
todo dia, milhões de acessos a sites de imobiliárias, visitas a apartamentos, arrumação de documentos, e o começo do encaixotamento das minhas coisas.

meu deus! eu me esqueço que eu tenho tanta coisa. e não digo isso como forma de me vangloriar do tipo "oh como ele tem tanta coisa", mas sim do tipo "putz grila! é muita tralha!".
é, porque eu tenho certa dificuldade em me desvincular das coisas, em desligar, em jogar coisa fora. em todos os sentidos.
eu tenho esse problema de desapego.
eu acho que deveria ser mais fácil desapegar das coisas. de poder jogar o que já não serve no lixo, de poder deixar pra trás, de verdade, acontecimentos e pessoas, enfim, o desapego devia ser mais fácil. tem pra quem seja. não pra mim.

eu decidi que nessa mudança eu vou me desfazer de algumas coisas, daquelas que eu não uso, que não têm mais utilidade. das roupas que não me cabem, de objetos inúteis, e espero que isso seja válido também pra emoções.
tou usando essa mudança como meio de reinvenção, de mudança no sentido literal da palavra. mudança de vida.

e, confesso, eu tou ansioso que não me caibo. louco pra entrar na casa nova, e pintar logo uma parede azul.

# 232

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eu sempre achei esse papo de "o problema não é você, sou eu" uma das maiores desculpas genéricas pra acabar um relacionamento. é simples e não exige maiores justificativas, ou seja, uma mera balela.
até então.
agora, eu já vejo isso com outros olhos. realmente pode existir essa situação de o problema ser nosso sim, e que, por mais que a outra pessoa seja ótima, bacana, legal, enfim, que a outra pessoa seja o nosso número, a coisa não desenvolve dentro da gente. e não tem nada de errado com a outra parte. o problema é nosso, e só nosso.
eu me vejo nessa situação. 
faz tempo que eu terminei meu último relacionamento mais consistente, que nem nome de namoro teve, mas ainda assim durou um pouco mais que os casinhos que as pessoas preferem ter hoje em dia. 
e não sei se por medo, preguiça, ou sei lá o que, eu não me deixei construir nada de concreto nos últimos tempos, pelo contrário, era quase que um processo de auto sabotagem.
até inventar uma paixão súbita, que eu só descobri que havia inventado depois de amargar por uns meses, e depois de umas sessões de análise, afinal, era ridicularmente visível que não haveria fruto nenhum daquilo, mas que era uma forma de eu ficar afastado de qualquer relacionamento sentimental possível, eu inventei pra poder me manter só. sim, eu tou nessa fase de ficar só comigo mesmo.
e isso só ficou mais claro pra mim nas últimas semanas.
e o que acontece é que essa descoberta me foi num momento desses em que tenho que explicar pra alguém que o problema é comigo. mas isso soa tão clichê, que é até vergonhoso de se querer dizer, mas não passa da mais pura verdade.
eu tou nossa fase de me reconhecer, me melhorar, de me curtir. uma fase de mudanças em todos os sentidos, mudança de casa, mudança de meta de vida, de trabalho, de lazer, e até mudança de alguns amigos, enfim, é um caos, uma revolução total, e que eu tenho que ficar só comigo.
e isso nem é covardia, mas é auto proteção, e proteção dos outros. 
e é isso o que eu tenho passado.
e eu nem chamaria isso tudo de problema realmente, mas sim de um empecilho, um obstáculo. 
o que eu tou chamando de problema também eu posso chamar de autopaixão, eu tou apaixonado por mim, e, nesse momento, eu não espaço pra dividir isso com ninguém. 
e não sou do tipo que engana aos outros, e nem quero ser o covarde que deixa em stand by, ou deixa alguém esperando. 
agora eu quero viver isso comigo, sem peso, sem dor, e sem mágoa.
por hora, tou de altas, porque tou ocupado demais comigo mesmo. 

quarta-feira, 21 de julho de 2010

# 231

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"(...) Estive cansado
Meu orgulho me deixou cansado
Meu egoísmo me deixou cansado
Minha vaidade me deixou cansado
Não falo pelos outros
Só falo por mim
Ninguém vai me dizer o que sentir (...)"

Soul Parsifal.
(Marisa Monte/ Renato Russo)

essa é uma das músicas mais fortes que conheço.
ao mesmo tempo que fala de coisas leves, flores, folhas, cheiros bons... fala de redenção, de solidão e de tristeza.

quando a escuto, ou mesmo canto baixinho, sinto uma explosão dentro de mim, como se tudo que eu sinto, de bom e de ruim, se remexesse dentro do meu estômago.

e essa reviração toda aqui dentro me faz ter uma sensação de vida, de saber que eu tou aqui no mundo, que nem todo mundo, e que eu vivo, e sinto, e respiro.


e a música ainda diz uma coisa muito certa, e que a gente tem que repetir pra sempre: "ninguém vai me dizer o que sentir". ninguém pode fazer isso por ninguém, mesmo quando a gente queria que isso fosse possível, mesmo quando a gente pensa que se tivesse um super poder, esse seria o de fazer os outros sentirem exatamente o que a gente quisesse ou sentisse.


"ninguém vai me dizer o que sentir..." e ninguém deve fazer isso. nem o medo, nem a euforia, nem mesmo o futuro.



terça-feira, 6 de julho de 2010

# 230

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e o Pedro Morais colocou tanta força, tanta dor, tanto significado na sua interpretação dessa música, que foi impossível que eu não me emocionasse.
sim, porque ela fala de como a via continua pra um e não pra outro após a finalização de uma relação.
e a minha emoção me veio justamente porque me identifico.
se pra um, a vida segue em frente, sem lembranças, ou até com a indiferença em relação àquela história que passou, pro outro ela dói.
eu me identifico com o outro.
não que eu seja daqueles que querem reviver, remendar amores passados. eles passaram. mas porque cada pessoa que passou pela minha vida teve a sua importância, e sempre terá, independente se foi ruim ou boa, se foi romance de anos ou de meses...
já disse aqui antes e repito: eu sou um ser de detalhes. eu me apaixono é pela singularidade, pelas pequenas coisas. e isso não passa.
aquilo que um amor tinha de especial, era só dele.
os outros tiveram as suas coisas especiais. cada um dos amores teve.
daí que não é só dizer que "passou". não passou. é desrespeitoso pensar assim. é renegar a história, os momentos.
e isso não é vontade de reviver, é só respeito. porque cada pessoa que passou serviu pra me tornar no que sou hoje. e isso não passa.
e eu quero mais gente pra esquecer, ou, quem sabe, que não precise que seja esquecida.. eu quero ter mais lembranças. me lembrar daquilo que ainda não aconteceu.
se me emociono, é porque eu acredito que haja encanto no mundo.
e isso não passa.

|| Pedro Morais e Mariana Nunes: Tristesse http://www.youtube.com/watch?v=GMS9mkReYV8
(Cobra Coral)

segunda-feira, 28 de junho de 2010

# 229

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e o que o outro não entendia era como ele estava assim, tão encantado com ele.
dizia que ele mesmo era uma bagunça, e seria, no mínimo, loucura, se alguém quisesse compartilhar dessa bagunça toda.
só que, o que ele não enxergava, era que o outro gostava mesmo era da bagunça, do não certinho, do não previsível. que aquilo sim era combustível pra sua vida, pra sua motivação. ele, que em si próprio, via as suas próprias coisas bem bagunçadas e desordenadas.
e a bagunça que lhe fascinava, porque o que é linear torna-se enfadonho com o tempo. daí que ele preferia a imprevisibilidade que as coisas mais desarrumadas lhe traziam. não haveria rotina, nem muito cansaço, haveriam desafios e exercícios de tolerância, e risadas, ah, como haveriam risadas...
o que importava ali era o encanto. mesmo que o encanto viesse justamente da forma desordenada que as coisas lhe apareciam.

sexta-feira, 25 de junho de 2010

# 228

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e ele nunca precisou de muita coisa pra ter encanto por nada.
é que é do tipo que fica de boca aberta com as particularidades, com os detalhes.
costumava dizer que uma das melhores frases de música que já ouvira é "na simplicidade eu vejo as coisas mais incríveis". e foi do tipo que quando ouviu essa frase pela primeira vez lhe faltou o ar nos pulmões. jamais se identificara tanto com uma letra de música, ou pelo menos fazia tempo que nenhuma canção lhe arrebatava assim.
e continuou sendo o secreto admirador das coisas simples.
porque, pra ele, tudo era singular, feito de particularidades, detalhes únicos e insubstituíveis. e assim via as pessoas, e por isso se encantava tanto, o tempo todo, por tanta gente.
e quando tinha que deixar alguém de lado, seja por ter sido um romance que não funcionava mais, ou fosse uma paixão platônica que não encontrava saída pra realidade, ele se entristecia.
porque deixar isso de lado significava deixar de lado também aquelas coisas únicas que ele havia enxergado, aqueles detalhes únicos que não existiriam em outra pessoa.
mas o mundo não acabava. ele continuava admirando as coisas simples. 
e não precisava de muito pra se encantar.
era só enxergar além do que todo mundo enxergava. era só sair do geral pro particular.
e ele continuaria a ver as coisas mais incríveis.