sábado, 31 de março de 2007
# 20
isso foi a uns 2 anos atrás.
:: daquele dia em que fui dono do meu guidom
Pronto. Tô aqui. E agora?
Tem gente dançando.
Mas eu tô só.
Essa música é boa. Eu gosto de The Cure.
Mas minhas pernas não querem me deixar dançar.
Tem tantos olhos em volta.
E se eu cair? E se eu tropeçar?
E se todo mundo descobrir que eu não sei dançar?
saco a cartela do bolso:
- (aos gritos) Uma capirinha sem açúcar.
e lá vai a pinga com limão sendo virada de uma só vez.
A pista já não é tão mais assustadora.
"boys don't cry"
E na frente da caixa de som lá no fundo meus pés pulam.
Dançar sozinho nem parecia mais tão ruim.
Fazer o que se quer.
É preciso de vez em quando... mesmo que ninguém tope te acompanhar numa aventura dessas.
sexta-feira, 30 de março de 2007
# 19
"...então me diz qual é a graça de já saber o fim da estrada quando se parte rumo ao nada?..."
Quero um nada meu. Um nada que eu possa encontrar sozinho, ou com a ajuda de quem teve coragem de me acompanhar nessa viagem louca. Quanto tempo vai durar essa busca? Não sei. E que graça teria saber? Nenhuma. Quando chegarmos ao nada daí podemos pensar: "Pronto! Agora é hora de querer o tudo!"
E lá se dá início a uma nova viagem...
quinta-feira, 29 de março de 2007
# 17
* ontem vi uma rua com gosto de refrigerante. Não, não a lambi, mas não duvido que o tenham feito.
* minha ex cachorra teve por uns dias gosto de perfume barato.
* o meu depertador tem gosto de preguiça.
* minha cama tem gosto de vontade.
* chocolate tem gosto exagerado.
* sorriso tem gosto de vida
* eu tenho gosto de mim.
às vezes até me gosto assim.
# 16
ufa!
como que se consegue dormir até esse horário em plena quinta-feira?! logo eu que acordo às 9:00..
tá, pelo menos um bocado do cansaço acumulado foi-se.
antes de abrir os olhos tem aquele momento de pré-consciencia, onde não se sabe o que é sonho e o que é realidade...
pré-consciencias deviam ser um estado natural.
quarta-feira, 28 de março de 2007
# 14
E isso é certo, assim como o vento não tem cor, mas pode colorir o mundo com as folhas que carrega.
Talvez no bater de asas de uma abelha eu possa estar escondido, tentando fugir de carona naquelas costas amarelas e pretas.
Mas não consigo ir muito longe.
Assim como estátuas de areia, me paraliso em beira-mar logo me desfaço com a força das ondas.
Isso tudo pra logo vir uma criança e me dar a forma que quer que eu tenha de novo.
Eu não estou em lugares comuns.
Posso estar no pó que cai da estrela azul, recém nascida no universo e pronta pra brilhar.Caio em Terra e ninguém percebe, só procuram a luz.
Definitivamente, eu não estou em lugares comuns.
Me procure embaixo da folha mais seca do outono, de onde posso flutuar no ar em sua queda, mesmo por alguns instantes, mas sentindo a sensação mais perfeita que poderia ter.
A lucidez é um acesso de loucura ao contrário.
# 13
Tudo seria tão mais fácil... imagine só: quando eu dissesse aquela besteira do dia eu podia apertar o botão de rebobinar e fazer diferente; ou então naqueles momentos mais bonitinhos, que são mais raros, eu pudesse apertar o 'slow' e fazer a cena passar em câmera lenta pra que durasse muito e muito tempo... e ainda, quando estivesse cansado era só apertar o 'pause" ou o 'stop' e ficar descansando os olhos...
Não, eu não ia aguentar esse cargo de Diretor por muito tempo não. Gosto das coisas do acaso, das surpresas, do "de repente"... mas tem dias... tsc tsc... =)
# 12
- mas e agora?
- uai, deixa a coisa fluir.
- não é tão simples assim...
- é sim, você que é complicão, adora problematizar as coisa.
- ah, mas eu disse que não ia acontecer mais.
- como se você não soubesse que isso não se controla...
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- hoje tou com jeito de pipoca doce.
- e que jeito é esse?
- aquele quando eu tenho vontade de correr pela rua e pular as faixas de pedestres só nas listras brancas.
- mas aqui não é o lugar... você tá de terno!
- e daí, as pessoas deviam fazer isso também, a vida seria mais leve.
- então vá em frente.
- já fui.
terça-feira, 27 de março de 2007
# 11
e de repente olho ali no canto e vejo um all star azul.. que já quase não uso, troquei pelos pretos com estrelas brancas.
e no outro canto uma frase escrita a um tempão atrás na parede: "seja realista, exija o impossível".
daí com um impulso me levanto e passo a vasculhar minhas coisas antigas.. ler textos, cartas, bilhetes trocados, fotos... enfim.. assisto de cadeira cativa a uma retrospectiva da minha vida, passada ali, nas minhas mãos.
levantando a cabeça me deparei com o espelho, e lá não pude ver minha aparencia externa, mas sim o que eu havia me tornado. como cheguei até aqui... foi muita coisa.. muita gente... muitos erros e muitos acertos também.. enfim, muita vida.
até minha barba tinha se fechado e eu nem percebi.
como é que pode né... já sou gente grande...
e continuo sonhando... com a cabeça lá nas núvens, esquecendo de manter os pés, agora maiores, no chão.
e vou percebendo que mesmo depois de tantas mudanças, de tanta gente que passa pela vida, um pouco de mim ainda se mantém intacto, e em torno dele um pouco de todo mundo que vivi.
agora tá na hora de me redescobrir...
segunda-feira, 26 de março de 2007
# 10
É mania que tenho de não desfazer os laços dos meus tênis aos descalçá-los.
na pressa de libertar meus pés, vou logo pisando no calcanhar e lançando longe o All Star pra lá. E do jeito que estava permanece, com o laço dado, embora já não tenha mais pés pra apertar.
Claro, seria bom desatar esses laços, mas quando torno a calçar os tênis, os calço do jeito que estão, com aquele laço antigo mesmo. Aperto um pouco os pés e pronto, com um pouco de esforço os enfio nos tênis com cadarços amarrados.
O que demorei a perceber é que os laços antigos já estão fracos e já não prendem os pés da mesma forma que antigamente.
É... preciso aprender a desamarrar os laços antigos, que já não prestam mais pra prender os pés dentro do tênis, e vez ou outra os pés escapam e ficam descalços quando não deveriam. É preciso aprender a desatar os nós antigo, a desamarrar os cadarços toda vez que for descalçar os pés, pra que os laços novos venham a acontecer.
Agora já sei dessa precisão, e acabo de dar aos tênis azuis laços novos e diferentes daqueles que antes os prendiam aos meus pés. E não é que me sinto mais seguro agora?
E me vem à cabeça que não são só os tênis que me recem ter seus cadarços desamarrados e reamarrados a cada calçada... a vida também.
# 9
- quem?
- elas, as borboletas azuis.
- mas cadê que eu não tou vendo?
- no meu estômago, revoando feito loucas...
- uai, mas como vc sabe que são azuis?
- porque é assim que eu quero.
# 8
e eu tou aprendendo pra vida a cada dia que acordo. e a cada dia que eu durmo, eu me esqueço de algo daquilo que aprendi e vivo como um quebra-cabeças que sempre tem peças a faltar.
e isso é bom, porque aquela coisa que eu desaprendi eu vou tornar a aprender depois, mas de outra forma. viva a mutação do mundo.
e ainda sou tão quebra cabeça no início.. cheio de pecinhas faltando ainda.
mas nos ultimos tempos ando com vontade de aprender. coisa que eu tinha perdido antes... e deixado perdidas, eu tava sem rumo, inerte... sem vontade.
e agora já me vejo tão pronto pra deixar a vida me empurrar pros prazerizinhos da danada da paixão que já me vejo assim, bobo de novo.
e essa bobice tem me vindo de forma boa... que não tá machucando.. sem medos de rejeição ou de qualquer coisa... por enquanto ela vem mais como alívio... uma forma de me lembrar que o mundo não parou pra mim e que eu vou viver mais um monte de coisas.
é... veio pra me mostrar que eu vou sim me apaixonar de novo, que eu vou sim viver todas aquelas coisinhas bobas de gente apaixonada, de assistir comédia romantica e sentir uma ponta de inveja.. de escrever bilhete que nunca vai ser entregue e todos aqueles clichês que eu, particularmente, adoro. =)
enfim, de volta ao cupido.
ai ai.. *suspiros com cara de bobo
quinta-feira, 22 de março de 2007
# 7
CONSIDERAÇÕES SOBRE A QUASE MORTE
“... quase morri a menos de 32 horas atrás ...”
(um dia perfeito – legião urbana)
E é assim, com um estouro só audível em sua intensidade verdadeira por aqueles que estão na iminência de levar um tiro, que uma vida pode se esvair.
Um segundo só já basta.. não precisa esperar mais nada. Com um único movimento acaba-se a luz, a respiração, a vida...
Ontem passei por uma situação assim, ou melhor, quase, graças a Deus.
Nunca pensei que estaria assim tão atemorizado frente à morte.. pôxa, logo eu que sempre “quase morro atropelado” em todas as esquinas, quase todos os dias. Mas foi diferente.
Estar frente a frente com uma arma não é a mesma coisa que um “fedaputa” gritado por um motorista no trânsito. É uma sensação que ainda não tinha sentido, o verdadeiro temor. E logo eu, o valente.
Num segundo que foi mais duradouro que muitas horas que se contam por aí, eu vi minha vida toda passando por mim num carro azul e dando tchau. E ela apontava pra mim e me dizia: você tem me aproveitado mesmo? Você tem se aproveitado de mim? Tem usufruído tudo o que posso te dar?
E eu olhava perplexo pra ela, naquele vestido verde, - ora bolas, a Vida é mulher – reclamando de mim aqueles minutos que perdi me preocupando com coisas pequenas, aqueles minutos que perdi pensando no que os outros pensavam de mim...
E lá estava eu, olhando pra Vida brava e sem conseguir dizer nada. Enquanto isso a ação continuava no ônibus nem tão lotado (era bom demais pra ser verdade) e a arma continuava ali do meu lado, mas era ainda aquele segundo paralizado, só eu e Vida e Vida e eu.
Não sabia o que dizer... fazer uma promessa de que aproveitaria melhor a partir dali? Não... já tinha gritado “carpe diem” pelo mundo inúmeras vezes antes... e sempre voltava ao estágio inicial. Me arrepender das coisas que já fiz? Não, eu não sou tão bonzinho assim também, afinal de contas, me diverti bastante fazendo algumas daquelas consideradas arrependíveis.
Ah, como não sabia o que dizer, optei pelo silêncio. E deixei a Vida me mostrar mais coisas sobre mim mesmo, mostrar meu lado covarde, meu lado valente, meu lado triste, o feliz e aquele que fingia ser um pouco de tudo isso de vez em quando.
Sei que de repente olhei praquilo tudo e vi o quanto a Vida é passageira - ela tava sentada ali do meu lado no ônibus - e que poderia terminar de repente, estupidamente.
Planos? Ah, pra quê faze-los? Quase que tudo o que planejei pra minha vida inteira ia embora com uma bala. Daí percebi o quanto de tempo que perdi os fazendo, uma tristeza, um vazio, me irrompeu e Vida abriu finalmente um sorriso, como se tivesse chegado a seu objetivo.
O segundo passou. A arma estava lá, eu na frente dela, o assaltante atrás. Bum! Fecho os olhos. O ônibus pára, mas ainda não abro os olhos... será que to vivo? Pensei.
Três caras correm pela rua e pela janela do ônibus chove um chip de celular, o meu. Eu estava vivo.
A sensação de quase morte me perseguiu a noite inteira, arrepios, calafrios, passou.
E agora? E a Vida? Ah.... guaraná.