segunda-feira, 28 de setembro de 2009

# 175

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um milhão de coisas borbulham, mas não sabem se comportar sobre o papel.
elas querem ser escritas, gritadas, soltas... mas são tantas, mas tantas, que estão desordenadas, coitadas.

e de repente, coloca-las assim, sem maiores preocupações, pode ser, por si só, er... preocupante.
é que palavra é marca quente em couro. uma vez posta, não dá pra fingir que não existiu.
nem com borracha, e nem com backspace se desfaz o efeito da palavra.
é queimadura de terceiro grau, aquela que marca a alma, deixando gravada nela seus efeitos.
e não tou dizendo aqui que é algo ruim não, mas é algo.
e algo que não sai, então tem que ser usada com respeito aos próprios limites que ela carrega.

então é assim, um milhão de coisas querem saltar dos meus dedos nesse momento na forma de palavras.
e enquanto não acho uma forma de torna-las suaves e inofensivas, eu falo dessa dificuldade que me atesta nesse momento.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

# 174

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e ele tinha tanto medo de sofrer, e de se entregar, que já se passara algum tempo de convivência e nem um "eu te gosto" ele conseguia soltar àquele outro.
e seguia seus dias fazendo todo o habitual.
vivendo com certa frieza e descaso aquela situação, e ainda assim sentindo-se um tanto seguro, dentro de toda aquela insegurança e medo em que vivia mergulhado.

quanto ao outro, ele deixava o tempo correr, sem muita empolgação verdadeira, porque essas coisas são recíprocas, e arrastava-se amarrado à paralisia do outro, sendo contente quando juntos, mas indiferente quando longe.

duas pedras de gelo grudadas por uma gota d'água que em algum momento caíra em meio aos dois, os unindo enquanto um calor alheio não chega para separa-los.

 

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

# 173

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na primeira vez que ele se foi, deixou dor. o outro ficou tentando parecer forte, mas sua escuridão interna superava a do quarto em que se trancava.
nada mais parecia ser bom, era como um buraco negro sem fim, sem fundo, sem nada.
se sentia seco, doído, partido. e a sensação de vazio era transparente em seu olhar.

o que tinha ido, numa das artes do destino, acabou por voltar, e a felicidade atingiu o que tinha ficado novamente, como se estendesse os braços no abismo, e o alcançasse, puxando pelos dedos da mão esquerda, mas nesses braços de resgate era possível enxergar arranhões, hematomas...

ainda assim, ele se agarrou, e viveu novamente a paixão em seu estado intenso e pleno, como de costume, mesmo arranhado pela partida antiga do outro. ele vivia, sem vacilar, cada momento, como se devorasse os minutos.

e outra vez o outro se foi.

mas o que ficou, dessa vez, não sentiu aquela dor da outra vez, não sentiu aquela queimadura de lagarta de goiabeira. ele contemplou a ida do outro, enxergando de longe, e sem emoção, nada de choro e nem aperto no peito.

talvez porque já havia desmontado aquela figura sacra que tinha armado do que ia, talvez porque tivesse esgotado a paixão, talvez porque já esperava tal desfecho, talvez porque já não o queria mais, talvez, talvez, talvez..

enquanto o outro andava sem olhar pra trás, o que ficava colocava os fones no ouvido, virava de costas e saía cantando, com um sorriso no canto de boca: "...as coisas querem sorvete, maçã, banana, limão... as coisas querem ser coisas que na verdade não são..."


terça-feira, 18 de agosto de 2009

# 172

:: nada original


"

Eu sei o que ele vai dizer
Já posso até prever qual vai ser o final
Você é como um filme ruim
Que eu já sei o fim e é nada original

Por que você não pára de ser
Aquele de quem tudo já sei?

E o mundo inteiro vai comemorar
O dia em que essa paz se acabar

Ou me mato, ou me mudo
Sem te avisar
Ou te bato, ou eu fujo,
Ou escapo desse mundo pra outro lugar

Eu sei o que ele vai escolher
É fácil perceber aonde quer chegar
E aquele seu velho clichê
Não vai me convencer que algo vai mudar

Por que você insiste em viver?
Desista de ser sempre você

E o mundo inteiro vai comemorar
O dia em que essa paz se acabar

Ou me mato, ou me mudo
Sem te avisar
Ou te bato, ou eu fujo,
Ou escapo desse mundo

Pra outro lugar

"

domingo, 16 de agosto de 2009

# 171

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e ao ouvir: "volta pro esgoto, baby, e vê se alguém te quer.", ele caiu.
claro, permaneceu de pé fisicamente, com o semblante intacto, a garrafa de heinecken na mão direita, e o ar de quem nada ouvira.
mas a verdade é que ele caiu, desmoronou-se, e não se levantaria tão cedo.


quinta-feira, 6 de agosto de 2009

# 170

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com um ar de serenidade ela contemplava aquela situação.
noutros tempos, seus olhos estariam inchados, sua boca seca e os olhos borrados.
agora não, apenas observava serena a história que acontecia sob seus olhos, e não esboçava qualquer reação. nenhuma.
talvez ainda esperasse que estivesse enganada, tinha um espírito terrivelmente crédulo, que por vezes lhe jogara em situações ruins.
mas a moça era quase inocente.
com seus brincos brancos, do tamanho de bolinhas de gude, bem destacados pelos cabelos negros, continuava ali na praça sentada no banco, olhando pra fonte que jorrava, e pelo tempo que lá estivera,  talvez esperasse alguma resposta coerente dessa vez.
nada veio.
a moça não expressava nada em seu rosto. nenhuma sensação.
mas seus olhos eram sinceros, e olhando a fundo,  podia se ver um cansaço neles.
e esses olhos puxavam a vontade imensa de abraça-la.
mas o que dizer nesse abraço?
não. melhor passar direto.
ela está cansada.

# 169

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e dentro dele cabia um mundo todo.
mas esse mundo não podia ser revelado, por conta de todo o caos que traria junto...
daí vivia nele, construindo seus castelos de vento, viajando pelos caminhos perigosos e deliciosos justamente pelo perigo, e amando tudo o que não era correto, ou que assim não parecia.

e o garoto às vezes deixava parte desse mundo aparecer vez ou outra, sobretudo na lua cheia, deixando cair por terra toda aquela tentativa enorme de disfarçar a existência de seu caos interior..

mas era descontrole a palavra, o nome da coisa que o dominava. e ele ali, lutava contra essa indocibilidade, contra essa rebeldia involuntária, e em vão era a luta, porque ele demonstrava àqueles que não devia o que estava tentando ocultar.

há muito o moço se esforçava pra mascarar aquilo tudo, tentando até forjar uma falsa frieza, e até que estava tendo sucesso nessa tentativa, mas vem a lua e blá... joga tudo por terra.

e dentro dele já não cabia mais o mundo, porque esse mundo transbordava.

terça-feira, 21 de julho de 2009

# 168

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das paixões


barulho de cigarra. deitar embaixo de árvore. cantar pela rua. sorvete de côco. carambola. paçoca. bolinhas de sabão. longas cartas. jaboticaba. mordidas no braço. lua cheia alaranjada. a normalidade da Vani. cantar baixinho dentro do ônibus. filmes de amor. ver o sorriso da vó doca. andar pisando na faixa branca das avenidas. própolis. guarda-chuva gigante. sentir arrepio na coluna. colocar as pessoas pra dançar. dançar de olho fechado. cortar meu próprio cabelo. tocar música. pipoca doce. ver folhas secas caindo das árvores. desenho animado. dormir no chão. pipoca doce. schweppes citrus. pedras no mar. me espreguiçar. arte. temakis. palavras cruzadas. biscoito de polvilho. canetas vermelhas. chaveiros. Clarice. calendários. pedras coloridas. Calcanhoto. som de palmas. lembranças deslocadas. Hairspray. sonhos. coragem. etcéteras, muitas etcéteras...

domingo, 19 de julho de 2009

# 167

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não sabia o que fazer na tarde.
agora que estava começando a ficar legal, não tinha quem o acompanhasse em suas vontades.
daí resolveu que iria ele mesmo se satisfazer.
pegou sua camisa de frio cinza, e cantando pelo mundo, como sempre costumava fazer, tomou o ônibus e seguiu rumo às suas vontades.

e as felicidades acontecem quando se satisfaz as vontades.
e mais feliz que agora ele não se lembra de ter estado nos ultimos dias.

;)

terça-feira, 7 de julho de 2009

# 165

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é.. querer eu quero muitas coisas... já poder é outra história.
não que eu não acredite naquilo de que "querer é poder", mas eu também tenho noção às vezes.
noção de realidade.

costumo ficar horas parado debaixo de uma árvore olhando pro céu, às vezes nem estou olhando pras nuvens, imaginando formas, só estou lá deitado viajando pelo meu mundinho onde, lá sim, querer é poder e onde sou rei de tudo que quero.
mas quando sinto a picada da formiga no meu braço eu escuto um "ei, acorda!", é a realidade.

sexta-feira, 3 de julho de 2009

# 164

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"{...}
If I'm smart then I'll run away
But I'm not so I guess I'll stay
Haven't you heard
I fell in love with a beautiful stranger

I looked into your face
My heart was dancing all over the place
I'd like to change my point of view
If I could just forget about you
{...}

quinta-feira, 2 de julho de 2009

# 163

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fragmento de carta antiga atemporal


[...]
e agora sou eu.

eu mesmo. aquele que usa figuras outras pra tentar falar de si.
talvez pela falta de coragem de se encarar, que é o que mais de difícil existe, talvez seja por medo de que as pessoas a seu redor - seus amigos até - percebam o tanto que é frágil,. fraco e precisado de atenção esse moço.

sim sim.. apesar de ter tentado aprender desde muito tempo atrás, nunca consegui direito fazer esforço pra estar bem.
mas para parecer bem, ah, esse esforço consigo fazer muito bem. tanto que às vezes até eu mesmo me pego crendo nisso.
uma máscara, talvez.

não sei. só isso. não sei como estou.
e é mais fácil querer parecer bem. talvez pra evitar aquele tanto de por quês? dos amigos, ou talvez porque assim não preciso me preocupar muito. estou bem e pronto. é mais fácil, menos trabalhoso. mas será verdade? [...]

sempre fui fraco, frágil, um ótimo fingidor de bem estar.
mas no fundo, um mero patético medroso.
com medo de.. medo de viver.
talvez forçado pelo ceticismo de achar que o que é bom de verdade não existe.
ahh.. isso é bom demais pra mim, tem alguma coisa errada.
e voilà. dava errado.
talvez por força até da descrença brutal e amarga que eu tinha sem precisar ter.
[...]

terça-feira, 30 de junho de 2009

# 162

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- João Diel diz: Jéfi, silêncio também é resposta.

- Jéfi diz: eu sei, João, mas é ruim de querer acreditar...


e fez-se silêncio.



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domingo, 28 de junho de 2009

# 161

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"- esse mundo é um lugar complicado." pensa ela, enquanto costura o botão azul escuro na sua blusa celeste.

ela não entende o porquê de as pessoas sentirem medo. medo serve pra quê? qual a utilidade prática disso? e por que a vida dói tanto quando a gente teme o que está por vir? e mais um tanto de questões desse tipo.

antes de pensar em medo, ela pensava em cores. que aquele botão celeste na blusa celeste era muito sem graça. tornava tudo uma coisa só.. muito homogenea.. e isso é exatamente o contrário da vida.. cheia das misturas, das coisas claras e escuras, tudo assim, misturado, e não tem nada divididinho certinho que nem no yin e yang.. que nada.. tudo é tudo ao mesmo tempo, onde tem claro, tem escuro..

e por isso preferiu trocar o botão celeste, por um azul escuro. que é pra mostrar que ali dentro daquela beleza de céu, ainda tem um tiquinho de escuridão. o que também é bom.

e enquanto agulha vai, agulha vem, e o botão vai sendo embrulhado pela linha branca, ela torna a pensar que o mundo é cheio das complicações. e acaba por se esquecer de qualquer pensamento complicado no momento em que a agulha pica seu polegar.

quarta-feira, 24 de junho de 2009

# 160

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"tá ok."

e ele não se importa mais com o tal do orgulho. bem que até tenta um cadin se manter inerte, mas não consegue.

não sabe o motivo exato, mas não se dá por frações, é sempre por inteiro, com intensidade, vontade... e nem depois dos incontáveis tropeços, desiste.

sai pela rua cantando "ai de mim, que sou romântico", do mesmo jeito que a Rita se diz mutante, e ri disso.

costumava ser mais durão, ter muito orgulho, e perder com isso, mas numa determinada hora da vida, que nem se lembra quando, ele pensou que isso não valia de nada, que o bom mesmo é viver tudo do tudo que se apresenta ali, à sua frente, e deixou o orgulho preso numa gaveta qualquer do passado.
no máximo faz um charminho ou outro, mas cede.

e não entende ainda a intensidade dessas coisas que sente. nem sabe nomear com exatidão isso. não entende, mas adora e detesta ao mesmo tempo esse exagero sentimental todo.

aliás, vendo por esse lado, ele tem orgulho sim, orgulho de sentir. seja lá o que for extamante.

e sentir faz com que ele sonhe.

quinta-feira, 18 de junho de 2009

# 159

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o horácio bem diria que mate couro é a melhor bebida do mundo.
que pizza à moda resolve qualquer problema com sabores na hora de pedir.
que música tem que ser aquela que mexe, ou que faz mexer.

o horácio também diria que a fita azul do pulso já tá bem desgastada, mas que não pode ser tirada.
e que não pode se esquecer daquela pasta de documentos.
que a máquina de lavar não pode ser sobrecarregada.
e que devia manter seu quarto mais organizado.

o horácio diria que era pra eu pular com os braços bem esticados, pra tentar alcançar o céu, porque ele mesmo não consegue fazer isso.
o horácio nasceu tiranossauro, com braço curto.
mas não tem importância. eu gosto dele ainda assim.

sábado, 30 de maio de 2009

# 158

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"... Ulisses devorador de milkshake ..."


[...]

...e naquele barco, à procura de seu tesouro o marinheiro seguia sem pensar em mais nada, afastando inconscientemente as lembranças de um dia que passou, de uma vida deixada em stand by a partir do momento em que entrou naquele barco.

Pobre e distraído navegador. Busca o ouro, sem saber que o que tem de mais precioso ficou em terra firme. É sonhador, vive em um mundo só seu onde ouviu que pelas redondezas um homem conseguiu forjar asas com cera e voou em direção ao sol. O que não tomou conhecimento foi do fim do Ícaro voador, abatido pelo calor de seu sonho.

E lá vai o navio, nele um navegador com corpo de homem e sonhos de criança na cabeça. Na mão um milkshake de nutella. Se parasse para olhar pra trás veria Penélope distraída [forçosamente] à procura de linha e agulha. Começaria então a tecer a manta de seu Ulisses.

[...]

terça-feira, 26 de maio de 2009

# 157

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" … I was lost 'til I heard the drums then I found my way …"


como é que certas músicas têm o poder de modificar absolutamente o nosso humor, estado e astral né.

eu brinco que tenho músicas pra tudo: pra lavar banheiro, pra lavar roupa, pra fritar ovo, pra arrumar o quarto, pra lavar louça, pra descer escada, pra subir morro, andar na esteira, enfim, tudo tem música.

e nesse último domingo de manhã estava eu me aprontando pra ir pra casa da minha mãe, e nessa que tinha sido a minha manhã de ouvir trilhas sonoras misturadas, começou a tocar "you can't stop the beat", trilha de Hairspray, e num repente, todo o astral da música me contagiu e enquanto enfiava a perna por um buraco da bermuda azul, e a cabeça na gola da camisa cinza, comecei a me mexer, e nessa mexença toda acabei por me ver dançando pelo quarto com direito a deitar na cama e fazer bicicleta no ar.

e uma sensação de alegria grande invadiu e assim que acabou a música, desliguei o pc e saí de casa às gargalhadas. ninguém entende nada, mas é assim.

music is my hot sex.


segunda-feira, 25 de maio de 2009

# 156

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não gosto de me sentir nocivo a ninguém.
alguns dias atrás tive uma notícia que me deixou um tanto pensativo e chateado, que alguém com quem estive envolvido no ano passado ficou bem mal quando a gente deixou de se ver, e que essa situação só agora está começando a passar.
amigos em comum vieram me dizer que a pessoa ficou deprimida, a ponto de ter que procurar médicos e etc.
não, eu não me sinto bem com isso. eu não gosto de me sentir nocivo a ninguém. e essa não é a primeira vez que isso me acontece.

claro que eu acho que ninguém passa incógnito na vida de ninguém, na verdade, eu acho que no fundo, ninguém esquece ninguém totalmente, e eu mesmo já me senti muito mal ao fim de romances, mas essa sensação de ser quem faz mal não é legal.

algumas pessoas se surpreenderam com a minha reação de pesar ao contarem o fato pra mim, acharam que eu ia gostar, rir e achar o máximo o fato do moço estar lá doído por minha causa, até porque eu carrego certa mágoa e tudo, mas não, eu fiquei pesaroso, definitivamente não gosto de fazer as pessoas sofrerem por mim.

enfim, espero que ele supere logo isso, porque já é hora de passar.

não gosto de ser nocivo. assim como não gosto que sejam nocivos a mim.