terça-feira, 17 de junho de 2008

# 119

"... Ulisses devorador de milkshake ..."


[...]

...e naquele barco, à procura de seu tesouro o marinheiro seguia sem pensar em mais nada, afastando inconscientemente as lembranças de um dia que passou, de uma vida deixada em stand by a partir do momento em que entrou naquele barco.

Pobre e distraído navegador. Busca o ouro, sem saber que o que tem de mais precioso ficou em terra firme. É sonhador, vive em um mundo só seu onde ouviu que pelas redondezas um homem conseguiu forjar asas com cera e voou em direção ao sol. O que não tomou conhecimento foi do fim do Ícaro voador, abatido pelo calor de seu sonho.

E lá vai o navio, nele um navegador com corpo de homem e sonhos de criança na cabeça. Na mão um milkshake de nutella. Se parasse para olhar pra trás veria Penélope distraída [forçosamente] à procura de linha e agulha. Começaria então a tecer a manta de seu Ulisses.

[...]

O título é de "Eletricidade" da Fernanda Porto... porque de sonhador todo mundo tem um pouco.

quarta-feira, 4 de junho de 2008

# !!8

:: "O acaso tem suas mágicas, a necessidade não"


¿ (...) será que um acontecimento não se torna mais importante e carregado de significados quando depende de um número maior de circunstancias fortuitas?
Só o acaso pode ser interpretado como uma mensagem. Aquilo que acontece por necessidade, aquilo que é esperado e que se repete todos os dias, não é senão uma coisa muda. Somente o acaso tem voz. Tentamos interpretar o acaso como as ciganas lêem no fundo de uma xícara o desenho deixado pela borra de café.¿


A insustentável leveza do ser - Milan Kundera

quarta-feira, 28 de maio de 2008

# 117

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e lá atrás, antes de se tornar amarga em razão das asperezas que a vida lhe trouxe, ela gostava de sentar-se à beira da calçada pra procurar as pedras brilhantes no meio dos paralelepípedos da rua.

achava poucas, é verdade, mas as colhia e colocava naquele pote grande de maionese que uma vez ganhara da mãe, com um laço e a pintura de um coração em seu vidro. dizia que um dia encheria até a metade o pote com as minúsculas pedrinhas, e então colocaria água de nascente e um peixe dourado, que chamaria-se Jasmim.

e assim seus dias seguiam-se, a menina na calçada e a procura das pedrinhas que eram difíceis de encontrar. mal chegara aos 3 dedos do pote quando começaram as chuvas.

e nessa época, não era bom que as crianças brincassem na rua, nem nos estios, calçadas de galochas. e nesse ponto, sua mãe, embora ausente na maior parte da vida, era rigosa. não podia sair.

ao fim das chuvas, o progresso se mostrara.

não havia mais paralelepípedos. a rua agora era de asfalto. liso, seco e cinza. não havia cor, e nem sinais de pedrinhas brilhantes, porque essas se escondiam nos vãos dos paralelépidos.

assim, o fim das chuvas foi também o fim da caçada, e a menina não mais se sentou na calçada da rua, e nem mais teve seu peixe Jasmim.

a chuva não lavou só a simplicidade daquele lugar, deixando o caminho limpo pro progresso cinza.
a chuva lavou também os sonhos da menina.


segunda-feira, 26 de maio de 2008

# 116

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shhhh... sussurrou a moça de verde, pedindo um silêncio de um instante.
o instante era dela, naqueles dias de tentar se preservar.
do quê, ela ainda não sabia. e talvez nem quisesse saber. só se sentia parte demais do mundo, e não era tempo disso.
soltou o dedo do lábio nu, sem batom, que ainda estava ali estacionado como que marcando o tempo de não ter palavra, e de olhos fechados, ergueu a cabeça de leve, mas tão de leve, que quase não se notaria, se houvesse alguém ali, e a respiração se fez forte.

ela pensou em soltar as raízes, e deu um salto rápido e baixo, como se fosse só pra mostrar que não tinha ligação qualquer com o chão.

e de olhos fechados, e ainda em silêncio, sentiu-se sua, e tão somente sua.
e mesmo que houvesse alguém, não a teria. só pousaria do lado, e a acompanharia sendo alguém, não parte dela. conseguiu se completar.

e assim, no instante de um vôo silencioso, formado de um salto de olhos fechados, ela não era mais de ninguém, nem do mundo. era só dela. só dela.

sábado, 24 de maio de 2008

# 115

::  pequenas solidões cotidianas.


e lá se ia mais um dia.
o moço acorda, abre o olho, e procura pelos óculos.
não se lembra bem onde os deixou. estava bêbado quando foi dormir.
talvez pra fugir de si mesmo, ou das vozes que não se calavam em sua cabeça, tomou por companhia um copo de vodka e as paredes brancas.
nada na tv o atraía, e não queria raciocinar demais com seus dvds, quase todos tristes, então contentou-se em encarar a parede cor de pérola e o copo de vodka, que encheu-se repetidamente aquela noite toda.
não se lembrava a hora em que dormiu.e nem se sentia melhor. a noite havia sido dolorosa, sua própria companhia era sua maior dor.
e quando bêbada, era ainda mais feroz, o confrontando com aquelas verdades sinceras e tristes, que não queria ter conhecimento.
a amnésia alcóolica não funcionou dessa vez. lembrava-se de tudo, infelizmente.
com os óculos finalmente encontrados, levanta-se, procura os chinelos azuis, e a cabeça dói.
dá bom dia pras flores da janela. e encara a casa vazia.
faz tempo que não tem companhia ali. e mesmo com flores, peixes e ar, se sente só.
aliás, se sente só quase o tempo todo, mesmo quando envolto dos amigos.
porque a solidão tem várias formas, e vários sentidos.
se sente só, abandonado por si mesmo.
e vive às voltas com as pequenas solidões cotidianas.

segunda-feira, 12 de maio de 2008

# 114

:: do calor nas mãos com o friozinho do outono


e de um dia pro outro fez-se o frio.
depois e uma tarde em que foi preciso afrouxar e dobrar as mangas da camisa social azul clara, o moço precisou, conforme a noite ia nascendo e trazendo um sopro mais frio que dos últimos dias, tornar a estendê-las e abotoar até, pra ver se continha o frio que começava a bater.

finalmente o outono mostrava sua cara, ainda não trazendo muitas quedas de folhas - o que é um espetáculo de poesia natural - mas já abraçando a cidade com aquele frio de dormir de edredon.

o moço até que gostava desse tempo frio - desde que sem chuva - mas não achava muito confortável a sensação de suas mãos congeladas e nem de seus pés com frio. nesse caso preferia o tempo quente. ou pelo menos um aquecimento de mãos alheias em suas mãos.

e no cair da noite, em casa, enquanto o frio esquentava o seu estar só, enquanto não tinha a seu alcance as mãos que esperava, aquecia no fogão a água, entornava em uma xícara com um sachê de chá de hortelã e assim, segurando a porcelana quase que num abraço, sentia o calor nas suas mãos, enquanto assistia a um programa qualquer na tv.

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domingo, 11 de maio de 2008

# 113

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muito se discute vida afora sobre o que é bom e o que é ruim.
sobre o que é fácil e difícil.
sobre o que é bonito e o que é feio.
e por fim, sobre a associação disso tudo.

pois bem.

o que é bonito não é fácil, e nem sempre é bom.
o que é feio não é ruim, e nem sempre é fácil.
o que é ruim não é difícil, e nem sempre é feio.

aí me cansei de tantas associações.
fica parecendo aqueles jogos de ligar que fazia quando tinha seis anos.
não.

a única conclusão sobre isso dos útimos dias, a que eu me permito pensar é que o que é bom, não é fácil, e não é feio, só exige paciência e uma placa de reserva.

a dificuldade nesse caso específico só aguça os sentidos, deixando no ar um certo charme e uma vontade de testar os limites das decisões inabaláveis.

as cartas estão nas mesas.
os abraços grandes estão dados.

agora é sentar na porta pra tomar ar no frio.
mesmo que o ar não esteja faltando lá dentro.

sexta-feira, 9 de maio de 2008

# 112

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e ela se assustava cada vez mais com a capacidade do mundo de problematizar as coisas simples.

- nussa, como é que pode gente?

a maioria das chuvas podem ser entendidas como um monte de pingo d'água caindo do céu.. mas não.. é preferível que soem como tempestades.. sei lá.. é mais catastrófico, dramático.. quase mexicano.

o tempo começa a esfriar e você já vê cachecóis, gorros, e um verdadeiro artefato fornístico envolvendo as pessoas.. pôxa.. cadê aquela sensação gostosa do frio tocando a pele?
e aquele arrepio que invoca um abraço.. ah nem..

quarta-feira, 16 de abril de 2008

# 111

:: pequenos furtos


e com o resto de riso que sobrou daquela última gargalhada, ele olhou pro lado, foi quando viu aquele outro, que nem pensava que existia.
e o outro acabou por ganhar, ou roubar, depende do ponto de vista, aquele resto de sorriso, e o retribuiu com uma formação de leve da boca em meia lua, assim, de canto só, meio disfarçado, porque tinha várias gentes na rua.
o primeiro ruborizou no exato momento, e num movimento rápido e involuntário olhou pro chão, cheio de ladrilhos azuis escuros, enquanto sentia as bochechas arderem pela timidez que o dominara.
puxa vida, que coisa nova.
já era dado aos flertes, mas esse foi de surpresa, o pegou desprevenido, e não sabia em absoluto o que podia fazer.
ficou a contar ladrilhos e quando voltou o rosto pro lado de onde veio o sorriso retribuído, ele já não estava mais lá.
nunca soube quem era aquele que o roubou, mas prega pela cidade cartazes de "Procura-se: o dono do sorriso de meia lua" recompensa-se bem.


sábado, 29 de março de 2008

# 101

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nada se compara aos dias de chuva.
putz. como detesto andar pela rua sendo atacado pelos pingos da chuva fria... como detesto quando a água entra no meu sapato, e como detesto ter pular as enxurradas, e vez por outra cair em alguma, molhando inteira aquela roupa que eu mesmo lavei e passei minutos antes.

além do mais, as chuvas são um problema pra um andarilho como eu. como que eu posso resolver voltar pra casa à pé do trabalho, se está prestes a cair um temporal.. ah nem.

bom, é outono. então vamos ter paciência que daqui a pouco as chuvas acabam.

ah, e detesto a previsão do tempo.
sempre errada.


quarta-feira, 26 de março de 2008

# 110

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e no meio do caminho de volta pra casa, naquele mesmo ônibus amarelo, um espirro chega.
já vinha sentindo o "corpo ruim" como diria a sua Vó, e o nariz começando a fungar desde cedo.. tudo sinal de que a tal da gripe tava rondando de novo seus caminhos.

- droga, e logo hoje que não troxe guarda-chuva.

e começa a dar uns passos mais apertados que os anteriores, mas não encontra ânimo em correr depois de um dia cheio de trabalho.
enfim alcança o começo da rua que tem que subir pra chegar em casa, e a chuva ainda não passa de uns pinguinhos atrevidos que insistem em cair bem dentro do olho dele quando olha pra ver como está o céu.

chega em casa, chá quente e banho bom.
- quede meus remédios pra gripe?!

e no fim da noite, depois de tomar os tais comprimidos com coca-cola, se esquece que estava gripado e se distrai vendo seriado de super herói.


segunda-feira, 24 de março de 2008

# 109

:: das noites implacáveis de domingo


- "a gente consegue se distrair a semana inteira, e nem pensar no que nos machuca durante toda ela, mas as noites de domingo são implacáveis."

constatação à qual chegamos eu e um amigo a mais de um ano atrás. e é fato.

por mais distante e casca grossa, tipo aquela do abacaxi amarelo ali na geladeira, que aparentemos ser, humanos que somos, temos pontos fracos. e acho que esses pontos ficam mais evidentes nas noites de domingo.

noite de domingo é quando todo mundo se prepara pra semana nova, descansa pra segunda feira que nascerá dali a poucas horas, ou quer apenas ter um momento mais intimista ali com a família ou tomar uma dose de carinho, os que tem companhia, digo.

pros que não a têm, resta aquela tentativa absurda de tentar se distrair, seja vendo um filme de steve seagal na globo pela milésima vez ou assistir a sessão das dez, topa tudo por dinheiro, ou qualquer programa que o sílvio santos inventar de colocar na programação mutante do sbt.

outros, como este que agora escreve, tenta se desvencilhar da tal da implacabilidade fazendo sopa de letrinhas com legumes e bacon, e vendo aqueles episódios de seriado emprestados. não adianta, porque sempre vai ter aquela hora do silencio e da votade de cortá-lo com um grito forte.

mas o grito não pode vir... os vizinhos estão dormindo, se preparando pra segunda.

resta se remoer com os destroços de si mesmo, esperando o tempo passar, olhando pro rádio relógio e torcendo pro dia raiar logo, ou o sono te pegar de uma vez.

sexta-feira, 21 de março de 2008

# 108

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e de longe o observa, assim, sem saber ao certo o que acontece.
se realmente existem sinais, ou se esses são só fruto daquela imaginação sem tamanho.
e reclama de boca fechada que o mundo podia ser mais simples e as coisas mais claras, quase que com legendas, que é pra não ficar usando seus grãos de areia pra construir castelos que podem desabar num sopro.
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e continua ali, inerte, só a observar. não ousa tentar nada diretamente, só continua pensando naquele sorriso e nos olhares trocados, e se firma nisso e nos leves toques de seus dedos mindinhos durante as danças, como sendo indícios de coisas boas.

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e assim vai o castelo crescendo, mesmo que só na sua imaginação.
ô mundo complicado.
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# 107

::  valsas


todo mundo devia ter uma valsa na vida.
dessas de fazer dançar com a vassoura na falta de alguém.
e que ia ser do mesmo tanto de feliz.

todo mundo tinha que ter uma valsa na vida.
e fazer que nem a amelie, sendo contente com coisas pequenas.
e que fazem um momento grande.

é.. todo mundo devia ter uma valsa na vida.
daquelas de esperar por duas horas alguém sem reclamar.
porque a valsa pára o tempo.

todo mundo devia ter uma valsa na vida.
e sentar num café e esperar, esperar, qualquer coisa.
e a coisa pode ser alguém
e esse alguém pode ser que seja eu.

dois pra lá.
dois pra cá.
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# 106


:: banalidades



e eu quero as coisas banais,
aquelas que a gente faz sem pensar
soltar bolhas de sabão no meio da praça
pular nas faixas de pedestre
e comer pipoca doce de carrinho

e eu quero não me preocupar
se vai chover ou fazer sol
se saio tarde ou chego cedo
ou com que cor eu devo me vestir

eu só quero um dia pra mim
daqueles que nem horario tem
e onde eu faço o que não planejei
e encontro quem eu não esperava

agora só quero coisas banais
nada de terno e gravata
nem me preocupo com formalidades
quero correr no meio da rua
e gritar musicas bonitas no meio da multidão

só quero coisas banais
e nada mais

# 105

:: pontos



cheio de pontos.
de ônibus,
de interrogações,
de exclamações,
reticencias...
só não conheço o ponto final

será que tem isso?


# 104

::


o problema da felicidade é a baixa estima dela,
ela sempre acha que poderia ser melhor.
sempre se sente incompleta.
e por mais feliz que a felicidade esteja,
ela sempre vai querer achar um motivo pra ficar triste.
ah dona felicidade, compra um espelho pra ti sô.

terça-feira, 18 de março de 2008

# 103

:: "...então me diz qual é a graça de já saber o fim da estrada quando se parte rumo ao nada?..."


Porque o que me fascina é o que não consigo enxergar de longe, aquilo que não posso prever. O que me chama a percorrer a estrada é o desconhecido.

Se o meu obejtivo é o nada, quero persegui-lo, sem bússola nem placas nem guias nem qualquer coisa que me indique a direção que devo seguir.

Quero um nada meu. Um nada que eu possa encontrar sozinho, ou com a ajuda de quem teve coragem de me acompanhar nessa viagem louca. Quanto tempo vai durar essa busca? Não sei. E que graça teria saber? Nenhuma. Quando chegarmos ao nada daí podemos pensar: "Pronto! Agora é hora de querer o tudo!"

E lá se dá início a uma nova viagem...

O título é de "A seta e o Alvo" do Paulinho Moska.

# 102

:: cadeira azul e luzes brancas


desde pequeno imaginava que quando fosse grande, eu seria um dentista,me vestiria de jaleco branco e máscara e receberia meus pacientes com um sorriso certinho.

já via meu consultório, com uns quadros de dentes com olhos sorrindo pras crianças, ensinando-as a escovar os dentes, as cadeiras de dentista azuis e aquela luz branca típica de consultórios.

ele seria no centro de BH ou em Florianópolis. imaginava ainda a sala de espera, toda azul clara com um monte de revistas de atualidades pros adultos, e turma da Mônica (com os planos infalíveis do Cebolinha) e Tio Patinhas (e sua moedinha número um) pras crianças, e no rádio tocaria música leve.


nessa época, eu ainda era um tanto mais tímido, e introvertido,tinha poucos amigos e conversava pouco, bem ao contrário de hoje, diriam.

lembro que imaginava minha vida de dentista na hora do recreio do colégio, onde ficava sentado sozinho na arquibancada vendo os outros alunos brincarem, correrem e conversarem.
eu brincava com as luzes brancas em cima da cadeira azul, na minha imaginação.

terça-feira, 4 de março de 2008

# 101


:: da primeira vez de respirar


E abri os olhos antes de qualquer coisa. Ainda não sabia o que era nada, sem nomes, sem formas... tudo podia ser o que eu quisesse, mas ainda não queria nada, só abrir os olhos.

Depois dos olhos, foi a vez da boca, o que é até engraçado de se dizer, porque naturalmente a boca se abriria antes para que se pudesse respirar. Eu disse naturalmente. E não estou falando de natureza, estou falando de mim. Pois bem, depois de abrir os olhos, e ver o mundo que ainda não se chamava mundo, abri a boca, e pela primeira vez o ar me invadiu, pela primeira vez respirei, e me senti como um balão desses de criança, me inflando aos poucos, e essa sensação me era divertida.

Ao mesmo tempo que o ar me enchia, me ria por dentro, e era como se bolhas de sabão me invadissem e de repente o desespero: o que fazer com tanto ar? Que desse momento em diante já se chamava ar. Ainda não aprendera que da mesma forma que entrou ele teria que sair. E aí sim o natural me tocou, e meus pulmões expulsaram aquele invasor que me proporcionou tanta alegria naquele precioso momento.

E aí já era tarde... um vício por ar me tomara. E depois da primeira vez não quis mais parar. E tornei-me alguém que respirava, e o melhor, que gostava disso.

Os respiros então começaram a variar de formas, um hora eram fortes de afobamento, noutra leve, devagarzinho que era pra não acordar ninguém, e ainda tinham os sapecas, que não podiam ser ouvidos, mas que se deliciavam. E tornaram-se por vezes suspiros de emoção, de vontade, de inveja até. Mas jamais a sensação daquele primeiro respirar fez-se presente outra vez.