segunda-feira, 11 de maio de 2009

# 153

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por muito tempo ele esperava ser salvo.
salvo do quê exatamente não sabia dizer. só achava que precisava de alguém que o salvasse.
talvez essa salvação que ele tanto buscava se resumisse a uma forma de abrigo, uma cobertura temporária daquela carência gigante que o consumia.
daí buscava nos outros esse resgate.

e por muito tempo esperou ser salvo. dividiu-se com muita gente em busca disso. achava que era na paixão pelos outros que a salvação estivesse. e se apaixonava, ou achava que, e dividia-se, e quando percebia, ainda não estava salvo. estava tão perdido quanto antes, ou até um pouco mais.
mas continuava a esperar.

num dia qualquer, desses normais com sol e nuvens, parou para si mesmo, e viu que não era nos outros em que conseguiria ser salvo.
era em si mesmo. era por si mesmo. e era de si mesmo.
ele esperava ser salvo do próprio eu que o assombrava e o extasiava ao mesmo tempo.
e talvez fosse esse êxtase e esse pavor que o impelia a buscar abrigo na força da paixão dos outros.

quando parou de esperar pra ser salvo, e enfrentou o seu eu, viu que não era de salvação que precisava.
era de entrega.
entrega a si mesmo, que só assim, depois de dividir-se em vários eus, poderia dividir-se de verdade com os outros.
não há mais espera.