quarta-feira, 6 de maio de 2009

# 152

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"e se eu fosse eu?".
pela terceira vez em um curto espaço de tempo eu me deparo com essa frase na minha frente, e todas as vezes ela veio da mesma fonte, direta ou indiretamente. ela veio de Clarice.

a primeira vez foi ela própria quem me soltou essa frase perturbadora em uma viagem extremamente conturbada, que me deixou em imenso sofrimento com os efeitos que ela me causou, tanto pela perturbação da própria frase, quanto pela situação em que me encontrava: sozinho, perdido, sem contato, dinheiro e nem cartão de banco numa cidade desconhecida.

foi um caos que se instalou em mim, e que durou por uns dias.

passado algum tempo, eu já me recomposto, me deparo com a mesma frase, citada pela Martha, com os devidos créditos à Clarice, e que inspirou uma de suas crônicas que eu mais gosto.

e sendo a visão de Martha um tanto mais suave que a de Clarice, e sendo o momento da minha vida também mais suave, me poupei de qualquer sorte de sofrimento grave por conta desse questionamento. e passou, sem maiores delongas.

pois bem, hoje outra vez Clarice me joga na cara e na alma a mesma frase: "e se eu fosse eu?", pela boca de Lóri, enquanto de sua aprendizagem.

e apesar de o momento não ser pesado como nos ultimos tempo, a frase me fez trazer alguns dos questionamentos que têm me sido frequentes.

eu tenho sido eu, mas tenho sido outros também. talvez aquele "eu" que me é mais querido, esteja guardado numa caixa aqui dentro, pra poupa-lo de sofrimentos e agruras, talvez, pra chegar ileso à vida quando tiver que vir à tona outra vez.

se eu fosse o eu guardado, acho que enxergaria as coisas que hoje vejo com tolerância e até preguiça com uma força sem igual. não deixaria passar as ofensas e não me contentaria com pouco.
eu acho que o eu guardado não teria tanta paciência com o mundo, e ao mesmo tempo seria doce no amar, teria um amor sem medo e sem pé atrás pra distribuir pela vida afora, e arriscaria mais.

eu tenho uma candura pelo eu guardado.
mas o eu de hoje, esse que é solto pelo mundo, não é ruim, só é contido pelas cascas das feridas a que foi submetido, por isso tenta não se mostrar frágil, quase autossuficiente.

sinto que por vezes o eu guardado consegue fugir de sua caixa e andar pelo mundo por instantes, sobretudo quando o que se trata é música, teatro e artes em geral. e ainda, com as pessoas que conseguem enxerga-lo.

se eu fosse eu, acho que seria parecido com o que sou agora, mas não sei se isso quer dizer que seria melhor.