sexta-feira, 31 de agosto de 2012

# 292

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há quem diga que o mundo é uma selva.
eu concordo.
foi graças à essa selvageria toda que eu conheci o meu leão.

e quem diria que ele permaneceria na minha vida por tantos anos... 
ele é sofisticado, chic, organizado, e inteligente que só ele.
e ainda assim a gente se dá tão bem, que é difícil ver duas pessoas tão conectadas.
deve ser porque esse leão tem a coragem de rei da selva pra peitar essa minha peçonha escorpiana.

só sei que nossa amizade já passou por trancos e barrancos, e a gente nunca despencou.
me encho de alegria quando ele me vem, com aquele jeito só dele, me contar de suas artes.
e morro de saudade do nosso sofá, de nossas conversas diárias in loco, da  nossa parede laranja na sala.
a gente se sabe muito, e se fala muito, e se conta muito. porque a gente sabe que a gente resiste a terremoto e furacão.

o meu leão, a quem chamo de bliblo também, essa palavra inventada, que serve muito bem pra essa nossa amizade que a gente inventou pra nos caber. 
porque, se não nos soubessemos como sabemos, se o destino não desse uma mãozinha pra esse nosso encontro tão feliz, acho que não haveríamos de ser amigos, talvez, nem de termos nos esbarrado na vida, de tão diferentes.
e a invenção foi tão boa, tão genial, que deu certo.

eu já perdi a conta dos anos de nós dois, se bem que desconfio que já passam dos milhares.
e sou bem feliz de o mundo ser uma selva. se não fosse, talvez leão eu não teria.
se leão eu não tivesse, talvez eu mesmo eu não seria.
então, a dica é: tenham todos um leão pra vocês.
um Leo.

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

# 291


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fazem cinco meses que ele se mudou pra casa nova, que escolheu as cores das paredes, das portas, e o que ficaria e o que não levaria consigo pra casa nova.
num canto da sala, que tem as paredes pintadas de "vanilla", como veio escrito na lata de tinta, mora um pé de "comigo ninguém pode", que ganhou da ascensorista do prédio.

nas paredes da sala vivem dois passarinhos ilustrados, presentes da Poli e do João. em cima da televisão fica um cãozinho de pelúcia, que ganhara anos atrás, e 
na divisa da sala com a cozinha, os elefantes indianos ficam pendurados, anunciando os ventos fortes com seu sino, presentes do Saulo e do Rafa.
ainda na sala ficam livros, cds, dvds e o telefone, em harmonia com a estátua de parafuso tocadora de violino, que sua lhe dera.

na cozinha, seus temperos de todas as variedades dividem espaço com pratos, panelas, uma chaleira preta que apita, e a garrafa térmica verde. quase tudo na cozinha é verde. pra contrastar com porta verde, a única da casa que não foi pintada de preto.

seu quarto é quase todo azul, com exceção de uma parede, pintada num amarelo claro, que é pra não deixar que o ambiente ficasse triste. na parede, o desenho de uma pomba com um coração, dado pelo João, e na outra uma caveira bonita, azul, feita pelo João também, e que não causa medo.
tudo em contraste com a cama, o armário e a mesa do computador, sobrando ainda um espaço grande.

sua casa é aconchegante, e tem um clima bom. tanto que desde que mudou-se passou a ser mais caseiro, saindo muito pouco, de tanto que gosta de lá ficar, e de receber seus amigos.

são cinco meses morando sozinho. 
no começo sentiu um susto, já que nunca havia vivido só antes. 
ainda hoje acostuma-se com a situação, mas muito satisfeito e orgulhoso de suas decisões.
muita coisa mudou em sua vida desde que foi pra casa nova, e isso enxerga com olhar de observação, e entende que o que tem que ser, simplesmente o é.
não se arrepende de nada, na sua casa não há espaço pra isso, só há espaço pra viver o que a vida lhe traz, assim, sem medo, que nem quando não teve medo de pintar as paredes sozinho.

e na porta fica um tapete de "Boas Vindas", presente da Eliene, que é pra se saber que visitas são sempre muito queridas. =]


segunda-feira, 20 de agosto de 2012

# 290

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o que falta no mundo é a prática do "pode não querer."

lembro que escutei essa expressão pela primeira vez lá pra 2003, e ela sempre me chamou muito a atenção, tanto que a adotei.
a gente vive numa cultura de que deixar de aceitar alguma coisa seria falta de educação, no caso de comida, por exemplo, daí a gente sempre "quer", mesmo com aquele sorriso amarelo, e a expressão de "ai meu deus" no rosto. daí a gente acaba aceitando, que é pra não fazer desfeita.

e o pode não querer também é aplicado aos relacionamentos. 
é engraçado como que a gente sempre tem que ter uma desculpa pra essa ou pra aquela falta de querência, tendo que justificar as coisas, por mais simples que sejam, sem um descanso, sem um relaxamento.
às vezes a gente só quer ficar sozinho um pouco, e isso não é o fim do mundo.
de vez em quando a gente só não quer ver filme de mão dada, sem que isso signifique nada.
às vezes a gente só não quer. e ponto.

só que todo mundo é acostumado a se justificar, a dar desculpas. e, como diria a música, "e desculpas nem sempre são sinceras, quase nunca são". 
eu, particularmente, não peço explicações pra atitudes. na maior parte elas vêm sem pedido mesmo, e sem pé nem cabeça.

uma vez escutei que o namoro tinha que terminar porque eu não tinha microondas, noutra porque o tarot havia previsto que o relacionamento não daria certo, e tantas outras que eu poderia listar.
no fim das contas, são todas desculpas.

o que realmente havia ali era simplesmente o não querer. já não queriam mais namorar, manter o relacionamento, se ver, enfim, não queriam continuar com aquilo que havia, mas, por algum motivo, acharam que era obrigatório que se tivesse uma justificativa. não era. nunca foi.

pode não querer se estar junto, sem desculpas.
não é crime e nem pecado.
pode não querer, e só.