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acho que desde criança, quando um mais arisco invadiu o meu quarto, e numa tentativa de pular a janela pra subir pro telhado, deu com a mesma fechada e me arranhou a testa, já que eu estudava numa escrivaninha que ficava bem abaixa dela, desenvolvi um mini medo de gatos.
a regra era simples: eu não chegava perto deles e eles não chegavam perto de mim, quase que numa repelência recíproca.
daí nunca me interessei muito pelos felinos e sua atitude blasè, seu jeito mais "tou nem aí" e sua independência.
os observava de longe, escutava relatos dos amigos que os criam, e até me arriscava em chegar perto de alguns, em meus dias de maior coragem.
mas sempre num distanciamento, já que os próprios miadores não iam muito com a minha cara.
até que nesse último fim de semana conheci a Crioula, aquela gatinha preta de poucos meses, que corria de um canto pro outro pela casa, em meio aos convidados, e que adorava morder a todos.
quando me sentei no chão, Crioula logo veio pro meu lado, me encarando fundo nos olhos, passando por trás de mim, até que se aconchegou no meio das minhas pernas cruzadas e lá se instalou.
deitada, me permitiu que fizesse uns carinhos em sua cabeça, que inicialmente saíram um tanto tremidos e nervosos, mas logo, quando me assustei, estava entregue aos encantos daquela miniatura de felino.
Crioula me derreteu, deitou na minha perna e ali dormiu por um longo tempo, ronronando baixinho, e soltando pequenos miados.
como todo gato, era soberana. ficou na minha perna até quando quis, mesmo com a minha perna já dormente, dando aqueles choquinhos que chegam até a ser gostosos.
depois de muito tempo ali deitada, Crioula acordou, se esticou toda, e saiu rebolosa pela casa, nem me deu mais bola, mas o estrago já estava feito.
passou o meu medo de gato, e confesso, por uns minutos até tive vontade de ter um miando pela minha casa. por uns minutos só, pelo menos por enquanto.