terça-feira, 26 de outubro de 2010

# 241

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|| lá do baú



traduções do rei.

"eles vao ver a gente voando numa altura filha da puta
"desce daí", eles vao dizer
mas tudo parece tao perfeito lá de cima
"desce daí", mas a gente vai continuar

"Eu acho que é um sinal"

essas pintinhas no seu olho sao imagens de espelho, e quando a gente se beija, 
elas parecem perfeitamente alinhadas
Eu tenho que supor que foi Deus mesmo quem fez a gente de barro, 
com esse encaixe de peça de quebra-cabeças

A verdade é queisso pode parecer doido, 
mas são coisas assim que pipocam nessa minha cabeça bagunçada 
quando eu acho que vou morrer de saudade
quando voce tá na estrada, muitas semanas de shows, 
e vc procurar no radio espero que essa musquinha te guie

Eles vão ver a gente voando numa altura feladaputa, 
"desce daí", eles vao dizer. Mas tudo parece perfeito quando a gente vê de longe. 
"desce daí". mas a gente não desce...


|| The postal service - such great heights
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segunda-feira, 25 de outubro de 2010

# 240

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Eu não estou em lugares comuns.

E isso é certo, assim como o vento não tem cor, mas pode colorir o mundo com as folhas que carrega.

Talvez no bater de asas de uma abelha eu possa estar escondido, tentando fugir de carona naquelas costas amarelas e pretas.
Mas não consigo ir muito longe.

Assim como estátuas de areia, me paraliso em beira-mar logo me desfaço com a força das ondas.
Isso tudo pra logo vir uma criança e me dar a forma que quer que eu tenha de novo.

Eu não estou em lugares comuns.

Posso estar no pó que cai da estrela azul, recém nascida no universo e pronta pra brilhar.Caio em Terra e ninguém percebe, só procuram a luz.

Definitivamente, eu não estou em lugares comuns.

Me procure embaixo da folha mais seca do outono, de onde posso flutuar no ar em sua queda, mesmo por alguns instantes, mas sentindo a sensação mais perfeita que poderia ter.

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simple things - belle and sebastian

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quinta-feira, 21 de outubro de 2010

# 239

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- agora me conte, o que você tá sentindo.
- eu, eu.. eu tou sentindo... aliás, eu não tou sentindo. tou sentindo nada.
- você sabe que eu te pergunto é de amor né?
- sei sim, mas o amor que eu tenho aqui, agora, é só meu. não tem novo, não tem antigo, não tem nenhum alheio que me move. quem que eu tou amando agora sou eu. e ao mesmo tempo, é a mim que eu odeio também.
- mas... mas como é isso? logo você, que sempre está dando o seu amor por aí...
- não sei explicar. acho que aprendi a descansar isso em mim. não tou amando, de amor romântico, a ninguém por agora. não sei como acordarei amanhã, mas nos últimos tempos, meu amor sou eu. e só eu. e tou vendo o tanto que esse amor é de verdade, porque o que tem de defeito que eu tenho enxergado não se conta. e amar é isso não é? de achar qualidade e defeito, e ainda assim os defeitos serem lindos.
- prossiga.
- não sei colocar isso em palavras, mas é mais ou menos assim: não tou de porta fechada, não tou fechado pra balanço, mas não tou remexido. tou em suspensão, e se chegar alguém que consiga me tirar desse estado, eu posso vir a me apaixonar, e viver toda aquela história nova. mas se não vier, não tem problema, eu vou seguir me amando. algo por aí.
- e você não se sente vazio? não sente falta? não tá carente?
- sinto sim, sinto falta, carência, saudade... mas não sinto também, o que é estranho. eu sinto é vida, sabe, eu sinto que nenhuma dessas coisas é capaz de me impulsionar... nem saudade, nem carência, nem falta e nem vazio. eu tou bem. bem sim. 
- você se diria autossuficiente?
- jamais. mas não tou dependente do amor dos outros, de uma noite de sexo, de uma compaixão qualquer... eu tou tranquilo do jeito que tou.
- interessante. bem, nossa sessão termina por aqui. boa noite.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

# 238

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e na quarta feira reassisti dois dos meus filmes preferidos na vida.
e foi aquela explosão de coisas aqui dentro que sempre me impressiona.
aliás, é engraçado como músicas, filmes, séries, textos, enfim, é impressionante como essas coisas causam esse efeito extasiante em mim.
 
nesse caso, vendo "antes do amanhecer" e "antes do pôr do sol" eu tive um misto de vontades. daquelas de fugir, de me esconder, de gritar, de rir.. ah, um monte de sensações, principalmente por conta de que eu me identifico com várias passagens.
 
a intensidade dos dois personagens, cada um a seu modo, é muito parecida com a minha, com o modo com o qual eu encaro tudo o que eu faço e vivo.
e acho.
uma delas é essa fala de Jesse:
 
"You know what's the worst thing about somebody breaking up with you? It's when you remember how little you thought about the people you broke up with and you realize that is how little they're thinking of you. You know, you'd like to think you're both in all this pain but they're just like "Hey, I'm glad you're gone"."
 
e outra é uma da Celine, quando ela diz que não consegue se desfazer de ninguém que passou por sua vida, porque é alguém que gosta de pequenas coisas, e todo mundo é cheio de detalhes próprios, de sutilezas únicas.
 
 enfim, é engraçado notar que quando se explode essa sensação no peito, essa de sentir algo que a gente até se esquece que existe, essa de sentir, a gente percebe que anos vêm, anos vão, e a gente continua assim, sentindo. e nem é sentindo algo específico, é só sentindo mesmo, no sentido de ser humano.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

# 237

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e mais uma vez ele encaixotou suas coisas, dividiu suas roupas entre malas e sacolas, e carregou tudo pro caminhão de mudanças.
e lá ia pra um novo endereço.
mas pra ele, dessa vez, não era uma simples mudança de endereço. a sua mudança era quase total.
estava mudando de hábitos, de trabalho, de focos na vida, de jeito, e até mesmo mudando alguns amigos.
parecia que havia passado um furacão na sua vida, e carregado uma parte bem grande de tudo aquilo que ele havia construído até então, o que não mexeu só com seus pertences, mas com alguma coisa dentro dele mesmo.
quem o vê hoje diz que ele parece mais calmo, mais sereno, e ele mesmo reconhece isso nele.
já não é mais aquele turbilhão de gente, que tem que fazer duzentas e vinte e três coisas ao mesmo tempo. ele está mais focado, mas determinado, e até mais sincero consigo e com os outros.
quando pisou na casa nova já percebeu que ali as coisas iam ser bem diferentes. seu quarto era imenso, pelo menos o maior em que já viveu, e que não podia deixar suas coisas jogadas.
foi ao mercado, comprou um pé de pimenteira e outro de arruda, os alojou na sala da casa, lembrando que sua avó havia lhe dito que era pra espantar "mau olhado", não era dos mais crentes nessas coisas, mas não custava nada.
descarregou as caixas, colocou sua cama no canto da janela, e nela deitou-se, olhando pra tudo aquilo ao redor, que ainda era uma grande bagunça, mas sabia que estava em casa.
e assim, de pouco em pouco vai se arrumando, de ajeitando, reconstruindo cada pedaço levado pelo furacão.
e o melhor, sabe que toda mudança é pro bem, afinal, nunca se ouviu dizer de borboleta virando lagarta.
é evolução.