segunda-feira, 29 de novembro de 2010

# 246

::


e ele acorda ouvindo uma de suas músicas favoritas, assim, de graça, presente dado pela vida, que apareceu no shuffle do seu windows media player.
era seu aniversário, e ele, que já tem o riso solto, sorria mais que nunca.
se levanta da cama e dança, tem vontade de dar cambalhota, mas já tem 29, e suas articulações já não são tão boas. não se desanima.
ri, e se olha no espelho, tentando se lembrar, debaixo daquela barba toda, de como era seu rosto a 10 anos atrás, e percebe que já não faz idéia, que talvez não tenha mudado muito, mas que aquela barba não existia, ah, isso não existia.
e seu dia corre bem, com aquela alegria que ninguém tirava. era seu dia. os amigos ligavam, os primos, as tias, as irmãs. foi ver a avó, e ela, quando o viu, em vez de esticar a mão pra habitual benção, abriu os braços e estampou o sorriso mais gostoso do mundo no rosto, e ele foi lá abraça-la, tão frágil, mas tão dele. 
entre presentes e presenças, entre músicas e textos, seu dia foi um daqueles, em que o mundo era dele.
e no ouvido só ouvia "parabéns eu, parabéns eu".


segunda-feira, 15 de novembro de 2010

# 245

::



e ele sempre gostou de romances.
sempre. 
e gastava seu tempo imaginando como seria o próximo. se seria algo como uma tarde sentado nas pedras do arpoador, tomando água de côco e vendo as ondas baterem naquelas rochas todas, ou se seria algo como uma chuva grande, que molha tudo e a todos, porque não cai em uma só direção, que deixa as meias molhadas por dentro do sapato, mas que pára pro sol secar tudo, só pra chover de novo mais tarde.
e assim se divertia, pois já havia passado por ambos os tipos de romance.
e os dois haviam lhe dado felicidades e lições, bem como tristezas e decepções.
o que esperava agora é algum coisa que o impressionasse, que mexesse com toda aquela estrutura, virando o mundo de cabeça pra baixo. 
nem calmaria, nem caos, mas aventura, mas coisa inédita, diferenciações.
e enquanto esperava por tal aventura, se contentava com os romances alheios, esses dos filmes, que nem sempre terminavam bem, mas eram vividos.


domingo, 14 de novembro de 2010

# 244

::


ATO I
 
então, em um momento da festa, começa aquela música que ele tomara pra si, aquela que fala que mesmo sem ser notado, ele continuava a dançar, "dancing on my own".
mas o engraçado é que não era só ele.
quando olhou ao redor, viu que outras pessoas dançavam também, de olhos fechados, como se sentissem a música. 
e isso foi bonito de notar. 

ATO II

enquanto a moça cantava que os dias de cão tinham se acabado, o menino estava lá dançando, de olho fechado.
ele batia palmas, de um modo que parecia que a música era pra ele, e que não tinha mais ninguém ali naquela festa. 
e pulava, mas pulava tanto, que parecia que as moscas de sua blusa saíam voando por aquele lugar de dançar. 
era bem bom de se ver. 

ATO III

"music makes the people come together"

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

# 243

::


dizem que se deve ter cuidado com pessoas como eu.
intensas, sem medo das gentes, sem irritações constantes e freios de traumas.
espontâneas e tímidas ao mesmo tempo, românticas e atrevidas, sem fazer planos pro amanhã, mas torcendo quietinhas para haja um.
que não desistem das futuras vivências por conta das vivências passadas, que sabem que cada pessoa é única, tanto em seus defeitos, quanto em suas virtudes.
sonhadoras e destemidas, com riso solto, e um charme que atrai aquele monte de amigos pra perto. 
de múltiplas atividades, completamente distintas, porém sem perder a essência principal, que é sua personalidade.
leais a seus amigos, até que desmereçam tal lealdade, e que não cultivam amizades por pura e simples tradição ou necessidade.
que se apaixonam intensamente e sem limite, que se deixam levar pela vida, e que não se destroem ao fim daquela vivência.
que olham nos olhos quando falam, e ainda assim, mantém um mistério em torno de si.
extremistas às vezes, mas que conseguem deixar o rancor de lado na maioria das vezes.
doces, porém perigosas, que são divertidas e dignas de respeito, num só momento.
dizem que se deve ter cuidado com pessoas como eu.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

# 242

::



e no fim, continuo sendo o mesmo de sempre.
aquele que muda, mas mantém a essencia.
não adianta minha altura crescer,
meu peso diminuir ou aumentar,
minha voz enrouquecer ou sumir.
no fundo, não passo de um moço vestido de abelha, 
(que nem no clipe de No rain do Blind Melon)
que desde menino, voa voa, fugindo da chuva,
'pra manter as bochechas secas'
e à procura de girassóis.

let it be.
deixa isso ser.

a gente só tem o universo pra percorrer voando.
com essas asas de abelha, 
cantarolando pra chuva não vir.

e no fim das contas continuo o mesmo de sempre.
aquele do sorriso besta, e de cabeça pra baixo.