terça-feira, 25 de setembro de 2007

# 64

:: das dores azuis


E ela sabia que gostava da música quando lhe doía a barriga.
Mas não era dor de fazer sofrer não, era uma dor gostosa, porque quem a provocava eram aquelas borboletas azuis (sempre azuis) que moram na barriga da gente e de vez em quando insistem em fazer revoadas.
E desse jeito ela ia. Quando se ouvia uma música e um “ai” baixinho seguido de um sorriso vindo dela, pode saber bem, ela estava adorando o que ouvia.
E vez em quando separava uma bela seqüência de músicas doíveis, só pra sentir suas borboletas a voar dentro de sua barriga. E aí era um ai ai ai ai danado e sorridente, e até a outra mocinha que já aprendia a dançar e a reclamar de ser acordada aprendia que tem dores que são boas.
Desse jeito levava a vida. Cheia de “ais” e asas azuis.

quarta-feira, 19 de setembro de 2007

# 63

:: da música de antes


dois telefones no bolso e muita paciencia pro mundo.
e dessa forma ele vai andando pela rua, com aquela roupa que ainda lhe cai estranha.
com a barba por fazer porque cismou agora que ficou com um ar legal a deixando assim, e o cabelo no meio termo entre o penteado e o arrumado com a mão.

pasta na mão, fone no ouvido, descendo a avenida amazonas a pé, com aqueles sapatos já meio gastos e pedindo um descanso.

de repente uma música que lhe remonta às sensações boas de 2003. e num repente, começa a cantar alto, acompanhando a melodia, mesmo sob os olhares da multidão que por ele passava..

"you and me, were meant to be, walking free in harmony. one fine day we'll fly awat. don't you know that rome wasn't built in a day. hey hey hey "

e uma sensação de explosão invadiu seu peito, de tal forma que teve que parar por um instante pra respirar fundo porque tava tão bom que até o ar lhe faltara.

não se lembrava quanto tempo fazia que não ouvia aquela música, mas o trem tava tão bom, que ele chegava a sentir choques corpo afora. e seguiu descendo a avenida, com a sensação mais gostosa dos últimos tempos.

mesmo de terno, gravata e todo aquele visual sério, a voz do menino era de felicidade, e não se importou de cantar o mais alto que pôde, mesmo sob o olhar da multidão.