sexta-feira, 17 de setembro de 2010

# 236

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... e assim, depois de tudo o que aconteceu, ele olha pro mar e fala: 

- Pra quê tanto sal nas suas águas? Isso faz com que meus olhos fiquem ardendo e que eu precise urgentemente de uma ducha quando chego em casa. 
- Não sei, responde uma voz que não dá pra saber de onde vem. 

E assim ele volta a caminhar só pela praia se divertindo com as pegadas que seus próprios pés deixavam na areia semimolhada por aquela onda que acabou de voltar pra casa. E ele pensa: Ondas! 

Daí corre em direção à espuma que ainda resta na beira do mar e mergulha como se golfinho fosse e se admira com a visão de seus próprios pés na areia... 

terça-feira, 14 de setembro de 2010

# 235

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"save the last dance for me"


e é bem assim. eles já se conheceram, o mundo já girou. a eles permaneceram junto nesse tempo todo, juntos, embora sempre cada um do seu canto.


mais se desencontraram que encontraram, mas mantiveram contato quase que diário por todo o tempo, exceto por uma pequena pausa de sumida de um deles a uns anos atrás. mas foi tão pequeno o tempo, que eles nem contam.


e se amam sim, de formas diferentes, talvez, mas o fato é que um se tornou essencial ao outro. e ambos crescem nesse tempo.


não são um casal, aliás, são algo um pouco melhor que isso: são íntimos.


um dia, numa das brincadeiras do destino, podem vir a se tornar um desses casais que vão ao cinema juntos e ficam de mãos dadas vendo o filme, saem pra um café como dois apaixonados, e dividem a mesma cama ao fim da noite.


por hora, são dois que se amam, e como se amam, mas não da forma convencional.
a verdade é que, toda vez um deles vê o outro, canta esperançoso e baixinho: "so darling... save the last dance for me", na versão no Bublé.

terça-feira, 7 de setembro de 2010

# 234

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das cartas não mandadas.
03 de setembro de 2009.



eu fico cá pensando e caí por mim: nunca te escrevi uma carta de verdade.
não, não contam os bilhetes trocados no trem, escritos em papel azul, na volta daquela viagem de Ipatinga.


eu falo de cartas, daquelas que começam com "Belo Horizonte, dia tal do mês tal do ano tal".
e acho que já é um pouco tarde pra escrever alguma né.. depois de tanto tempo, de tantos acontecimentos.
na carta eu falaria do clima do dia. da temperatura, que reflete também o estado emocional. se fosse agora, eu diria que meu céu está se abrindo depois de uma longa temporada de nuvens carregadas.

bom, o importante é que é impressionante. não sei se sou eu que tenho uma propensão de viver numa eterna roda gigante, que gira gira gira e acaba voltando no mesmo lugar, mas eu tenho sempre a sensação que não me desliguei de verdade de você. por mais que eu quisesse ter acreditado nisso.

hoje tudo é mais claro, eu ando mais sereno, e com isso, os pensamentos me levam a analisar as histórias antigas sob uma outra ótica, que eu não me permitia enxergar antes.
hoje eu vejo que nosso fim foi num momento de turbulência, de precipitação, de orgulho ferido, diria.. eu não entendia tão bem as coisas como hoje. era quase egoísta.
e isso já não importa hoje.. depois desse tempo que passou. muita coisa aconteceu, muitas pessoas apareceram, desapareceram, se misturaram, enfim.. a vida seguiu seu curso. 

e se eu fosse te escrever uma carta hoje, contando os acontecimentos que se passaram desde aquele tempo até agora, precisaria de umas 20 folhas de papel, pelo menos, pra chegar num final com algo do tipo "mas que você ainda mexe  comigo" ou até mesmo "pra passar isso tudo e dar por mim que amor não morre".


o negócio é que hoje eu estou bem mais tranquilo, mas no geral, tem dias em que é proibido ouvir "Ainda Bem" da Vanessa da Mata, porque eu fico pensando que sei sim "como seria essa vida"... e nisso o olho ia encher de água. 

e pensar que eu nunca te escrevi uma carta.. hoje seria desnecessáro. talvez você nem lesse.. talvez rasgasse assim que recebesse. talvez a guardasse.


e também, eu não saberia como dizer as coisas sem soar temperamental demais. 


é.. meu orgulho está de férias, permanentes, talvez, pelo menos assim espero, e isso é tão bom porque me permite admitir certas verdades.


e o tempo não fez passar. o tempo foi só perdido.
e é tudo saudade. 
e hoje, 03 de setembro de 2009, já seriam 05 anos.
fica na gaveta, Vanessa da Mata, hoje não é seu dia.

atenciosamente.