quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

# 92

 
:: cheiro
 
 
não suportava a idéia de não estar cheiroso.
não, na verdade, seu medo era de estar com algum cheiro ruim, com chulé, cecê, entre outro acrezinhos comuns da raça humana.
 
pra se precaver, sempre, sempre, levava consigo, ou na mochila azul e cinza de uma alça só, ou na maleta preta de moço sério, um frasco de spray do seu desodorante preferido, não convém aqui contar a marca que é pra ninguém ter o mesmo cheiro bom.
 
e assim, vez por outra, durante o dia, lá ia ele tirar da bolsa seu frasco de cheiro bom, e discreta e secretamente desabotoar um ou dois botões de sua camisa, e mais escondido ainda, passar o frasco pro lado de dentro dela e, fazendo cara de paisagem, espalhar aquele aroma sobre o seu peito e axilas, sentindo um arrepio pequeno e gostoso por conta do gelado do tubo de spray.
 
e lá se ia outra vez, feliz e seguro com seu cheiro renovado.